Sofia Tolstói foi uma esposa perfeita e após 25 anos de casamento ouviu que “poderia ter sido melhor”

Histórias
há 4 anos

Aos 18 anos, Sofia Behrs se casou com o famoso escritor Leon Tolstói, um homem que tinha quase o dobro de sua idade. Sofia dedicou quase toda a sua vida ao marido e fez o possível para que ele não se preocupasse com nada além de seus livros. Era ela quem cuidava de tudo que acontecia dentro e fora de casa.

O casal teve 13 filhos que ela educou sem a ajuda de uma babá. Sofia ajudava os camponeses e à tarde passava a limpo os rascunhos escritos pelo seu marido. Quando Tolstói começou a se dedicar à filosofia e decidiu compartilhar os seus bens entre os camponeses, ela foi contra e disse que isso prejudicaria muito o futuro dos filhos. Por atitudes como essa, foi chamada de mesquinha e as pessoas sempre disseram que ela nunca o entendeu. Mesmo após tanta dedicação, Tolstói fugiu de casa após 48 anos de casamento no meio da noite.

O Incrível.club tentou entender essa complicada história de amor. Assim como muitas outras, ela nos coloca uma grande questão: para um relacionamento funcionar, é preciso que haja um grande sacrifício pessoal? Para que duas pessoas possam se entender, é fundamental colocar os interesses do outro acima dos nossos?

Tolstói só se transformou em um grande escritor após se casar e sua esposa teve um grande papel nessa história

Sofia era uma das 8 filhas de um nobre médico de descendência alemã chamado Andrey Behrs e de Liubov Behrs. A família vivia em Moscou e frequentemente visitava a região de Tula, também na Rússia, que ficava perto de Yasnaya Polyana, local onde Tolstói nasceu. Sofia e Tolstói se conheceram quando ainda eram crianças.

A jovem era uma menina muito bem educada e se formou na Universidade de Moscou. Ela sempre gostou de literatura e manteve o hábito de escrever um diário. No futuro, esses textos seriam considerados uma grande obra de memórias. Além disso, ela costumava escrever contos.

Antes de se casar, o conde Tolstói seguiu a carreira militar e publicou algumas obras. Foi com a obra Infância, de 1852, que ele começou a ficar famoso.

Antes do casamento, Tolstói gostava de apostar e teve relação com muitas mulheres

Tolstói nunca escondeu as suas aventuras amorosas; na verdade, ele se gabava delas. Ao mesmo tempo, vivia um sem-fim de arrependimentos e de tormentos psicológicos. Entre suas grandes paixões havia uma camponesa chamada Aksenia com quem teve um filho. A relação durou cerca de 3 anos, mas ela não parecia combinar com o ideal de mulher que ele aparentemente defendia.

Ao voltar a Moscou depois de servir no Cáucaso e viajar pela Europa, Tolstói, então com 34 anos de idade, reencontrou Sofia, que havia acabado de completar 18 anos. Nesse momento, ele a viu com outros olhos. Na realidade, olhou primeiro para a irmã mais velha de Sofia, com quem os pais pensavam que iria se casar. Contudo, Tolstói pediu a mão de Sofia em casamento, para quem escreveu a seguinte carta:

“Fale-me, com honestidade, você gostaria de ser a minha esposa? Diga que sim apenas se a sua alma assim o quiser; caso contrário, se tiver alguma dúvida, é melhor dizer não. Pelo amor de Deus, faça essa pergunta a você. Tenho medo de escutar um não, mas encontrarei as forças para encará-lo. Contudo, será horrível não ser amado como marido da mesma maneira como eu amo!” Sofia não duvidou um minuto sequer.

O casamento foi realizado uma semana após o noivado. Tolstói considerava que, por fim, havia encontrado a sua felicidade e simplesmente não podia esperar. Entretanto, antes do casamento, perguntou a ela: “Você realmente quer este casamento?”

Antes do casório, na tentativa de ser honesto com a sua noiva, Tolstói abriu seu diário à noiva para que ela pudesse ler tudo sobre a sua vida amorosa, em particular a sua relação com Aksenia. A jovem ficou muito emocionada com a atitude nobre de seu prometido, mas sentiu ciúmes de Aksenia pelo resto de sua vida, e com razão. Na velhice, Tolstói escreveu sobre esse amor apaixonado no romance O Diabo.

A imagem de um sábio barbudo com roupas de camponês estava longe da realidade

Tolstói foi um homem impulsivo e emocional; além disso, sempre lutou contra a rotina de uma vida comum. A vida não foi nada fácil para sua jovem esposa: ela teve de abandonar a vida na capital e se acostumar à vida na região de Yasnaya Polyana.

Como mencionado acima, Sofia teve 13 filhos e teve de amamentar, criar e educar todos eles sozinha porque o marido não permitia a ajuda de babás e empregados domésticos. Era ela quem cuidava de tudo dentro de casa, ajudava os camponeses e além disso, tinha de passar a limpo centenas de páginas escritas com uma letra muito feia.

“É complicado. Penso com seus pensamentos (de Leon Tolstói), vejo com seu olhar e me esforço... Mas não vou me transformar nele, senão vou me perder”.

Ela o manteve distante de todas as preocupações e, no começo, o casal foi muito feliz

Foram muitos os sentimentos que o motivaram a escrever Guerra e pazAna Karenina. Mas com o passar dos anos, ele passou a se sentir infeliz com a própria existência, o que a deixou muito ressentida, já que ela havia dado tudo de si pelo bom funcionamento do matrimônio.

“No dia 23 de setembro completam 25 anos do nosso casamento. (...) Dimitry Diacov, o melhor amigo de Leon, chegou. Quando Diacov nos felicitou — e disse que nos estava felicitando pelo nosso casamento feliz -, Leon completou com palavras que me causaram grande dor: ‘poderia ter sido melhor’. Essas curtas palavras descreveram exigências esmagadoras impostas pelo meu marido e que eu, apesar de um esforço enorme, jamais consegui satisfazer”.

A dúvida moral sempre torturou o escritor. Um dia, ele decidiu usar apenas roupa de camponês e botas caseiras, mostrando que queria viver uma vida simples, sem nenhum tipo de excesso.

Na lista do que ele considerava “excessos” estavam as terras de sua família. O escritor queria entregá-las aos camponeses, mas Sofia foi contra, argumentando que elas eram o futuro de seus filhos. Tolstói se ofendeu e disse que sua esposa deveria compartilhar das suas ideias. Ela simplesmente não tinha tempo nem disposição para entender o que seriam as ideias do marido porque estava ocupada demais com os assuntos da casa.

“Ele esperava tudo de mim, meu pobre, meu querido esposo, aquela união espiritual que era quase impossível com a minha vida material e com as minhas preocupações das quais eu não podia fugir. Não teria podido levar suas palavras para a vida real, para a nossa família, era algo inconcebível e incomensurável”.

“Estou livre para comer, dormir, calar e me sujeitar, mas não sou livre para pensar do meu jeito, para amar quem eu quiser, para ir aonde quiser e para me sentir bem mentalmente...”

Ressentimentos, mal-entendidos e tristezas foram se acumulando durante anos

Eles viveram juntos por 48 anos e viram a morte de 7 de seus 13 filhos. A do filho mais novo, Ivan, foi a mais difícil. Sofia começou a ler os diários de seu marido para encontrar algo de ruim sobre ela mesma. Leon desaprovou a sua desconfiança. Quando os pais se desentendiam, os filhos se colocavam ao lado do escritor.

A última discussão ocorreu no final de outubro de 1910, quando Tolstói, com 82 anos e doente, fugiu de casa no meio da noite. A notícia impressionou muita gente. Para Sofia, ele deixou uma carta em que pedia que ela não o procurasse:

“Não pense que eu fui embora porque não te amo. Eu te amo e lamento com toda a minha alma, mas não posso agir de outra forma”.

Ao ler isso, Sofia tentou se matar, mas foi salva. Para evitar que o fato se repetisse, todos os objetos perigosos foram retirados do local onde ela se encontrava.

O último encontro com Leon foi em 7 de novembro de 1910, pouco antes da morte do escritor por pneumonia. Sofia e seus filhos conseguiram chegar à estação de Astapovo quando ele estava prestes a morrer.

“Deixe que as pessoas tratem com indulgência quem possivelmente e de maneira incomensurável desde a juventude assumiu o desafio de ser a esposa de um gênio e uma grande pessoa”.

Mesmo quando estava morrendo, Tolstói não quis ver a esposa

Apenas depois da injeção de morfina Sofia pôde se aproximar de Tolstói. Em silêncio, ela caiu de joelhos na frente dele.

Após a morte do marido, começou a caminhar por Yasnaya Polyana e decidiu publicar os diários do marido. Ela viveu 9 anos após a morte do escritor e durante o período em que foi viúva precisou enfrentar muitas acusações de que não tinha sido digna do grande escritor. Sofia dedicou toda a sua vida a ele, algo que quase ninguém soube valorizar.

Você já leu alguma obra de Tolstói? O que mais te impactou na relação entre o escritor e a esposa? Compartilhe a sua opinião nos comentários.

Imagem de capa gettyimages, eastnews

Comentários

Receber notificações

Nossa! Escrevi e apaguei várias vezes aqui no comentário. Que mistura de raiva e indignação!

Estou chocada, ninguém nessa vida vale de nos anularmos para se dedicar ao outro integralmente desse jeito, chega a ser revoltante.

Caramba! Tolstoi vai para o topo da minha lista das 3 coisas que irrita, (um artigo publicado aqui no incrível).

-
-
Resposta

Este homem era um demagogo e hipócrita. Ele usou a mulher por 48 anos, explorando-a.

Ela fazia tudo para dar conforto e tranquilidade ao marido e, ainda, o ajudava copiando seus textos.

A vaidade ao prestígio lhe subiram à cabeça!

1
-
Resposta

Este homem era um demagogo e hipócrita. Ele usou a mulher por 48 anos, explorando-a.

Ela fazia tudo para dar conforto e tranquilidade ao marido e, ainda, o ajudava copiando seus textos.

A vaidade e o prestígio lhe subiram à cabeça!

-
-
Resposta

Artigos relacionados