Um texto contundente sobre como certas pessoas atribuem o estigma de “mercenária” a uma mulher sem pensar primeiro

Psicologia
há 3 anos

Há alguns dias, recebi uma mensagem de alguém que eu considerava ser meu amigo e que “morreu” para mim. Ele escreveu: “Pode me considerar morto para você”. O que eu realmente queria responder era: “O que já está morto não pode morrer”, mas não tive tempo, pois ele já havia me bloqueado.

O grande motivo por essa desavença foi eu ter recusado resolver os problemas da namorada dele de graça. Ela queria que eu corrigisse o trabalho de conclusão de curso dela. Eu informei o valor, e pronto: fui chamada de ingrata e mercenária. Até então, porém, só havia recebido deles um sorvete. Pelo TCC, talvez me dessem um chocolate.

Um homem, que por vezes flerta comigo, perguntou: “Elena, do que você gostaria?” Sem pensar muito, com toda sinceridade, respondi que desejava uma economia mais estável no mundo e paz para todos, mas precisava mesmo de óculos, comuns para a miopia. Como resposta, o rapaz me enviou um texto de quatro páginas expressando o quanto eu era interesseira. Dizia que eu, como todas as mulheres, estava disposta a fazer de tudo por alguns trocados, mas não queria amar, honestamente, um bom homem sem segundas intenções. Se fizesse isso, em troca os homens me dariam de tudo: desde óculos e apartamentos até bilhetes do metrô. Minha vontade era responder que a moda hoje não eram trocados, e sim moedas cunhadas, mas fiquei com preguiça.

Não vou mentir, não sou boa com flerte. Eu flerto com a graciosidade de um tanque girando em um pequeno espaço. Perguntei a minhas amigas o que eu havia feito de errado. Será que o rapaz realmente pensou que eu estava pedindo para ele me comprar óculos novos? Elas começaram a rir e disseram que eu deveria ter escrito que iria correr para fazer uma visita surpresa a ele, dividir um milk-shake de morango, andar de mãos dadas à margem de um lago ou recitar poemas de Shakespeare.

Minha amiga disse que conheceu um rapaz, e ele a convidou para sair. Ela disse: “Termino de trabalhar às 19h, podemos ir tomar um café”. O cara respondeu: “Nossa, como uma mulher de 50 anos pode ser tão convencida? Para eu te pagar um café, precisamos primeiro passear e nos conhecer melhor”. Não importa o fato de estar muito frio na rua, de ela ter passado o dia trabalhando (minha amiga é cirurgiã e passa o dia trabalhando de pé), de escurecer na nossa cidade por volta das 17h30. Ainda assim, ela precisa “merecer” um café. Caso contrário, é interesseira.

Prestei um serviço a um conhecido. Em resposta, ele me enviou um cartão postal eletrônico com uma flor. Perguntei: “Está sem dinheiro?” Não escondo o meu endereço nem número de telefone, por isso imagino que ele poderia ter me enviado 10 reais com um comentário: “Elena, isto é para você comprar uma flor”. Mas não, a pessoa não achou que fazer algo similar seria mais apropriado.

Eu posso, assim como qualquer uma das minhas amigas, pagar por um café, um almoço, uma corrida de táxi, comprar 150 rosas e uma caixa de chocolate. Posso dar conta do meu aluguel, passagens de avião, vestidos, sapatos e óculos. Não preciso que ninguém pague as coisas por mim. Nem que ninguém me banque. Mas acho importante lembrar que o dinheiro não é apenas dinheiro, mas também uma questão de autoestima.

Cobrar por algum serviço prestado não é interesse. Eu seria uma pessoa mercenária se achasse que deveria receber tudo de graça. Mas me sustento desde os 18 anos e não consigo tolerar estar ao lado de pessoas que veem isso como um ato heroico.

Pagar por serviços e por conhecimento é normal. Levar comida ao visitar um amigo também é normal. Fazer agrados aos amigos e presentear com flores, o mesmo. Não há nada de errado em expressar gratidão, atenção, interesse romântico e amor de forma material. Nesse caso, a rosa não será vista apenas como uma flor, mas sim como um “Obrigado”. O café não será apenas uma bebida, mas um “Quero mostrar que tenho apreço por você”. E as cédulas de dinheiro serão um “Reconheço o seu conhecimento e tempo”.

Isso é tudo que eu queria dizer a vocês hoje. Um grande abraço.

Incrível.club publica este texto com a permissão da autora, psicóloga e blogueira Elena Pasternak.

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