Por que muitos pais estão pedindo demissão de seus trabalhos para se dedicar exclusivamente aos filhos

Psicologia
há 1 ano

Equilibrar o exercício de parentalidade com o trabalho é uma tarefa bastante difícil para muitas famílias. Enquanto alguns pais e mães precisam tanto de seus empregos que acabam “viciados” nos afazeres profissionais, outros, podem se dar ao luxo de escolher entre o cuidado com os filhos e a carreira. Nos últimos anos, outra tendência surgiu: a dos pais que deixam seus empregos para ter mais tempo com as crianças, seja porque perceberam alguma mudança comportamental nos filhos, ou porque o modelo de trabalho no qual estão inseridos permite esses ajustes.

Nós, do Incrível.club, procuramos por algumas evidências que mostram quais motivos podem levar alguns pais a saírem de seus empregos para se dedicar mais à criação dos filhos — e te contamos tudo neste artigo. Confira!

Pais viciados em trabalho podem fazer com que as crianças fiquem teimosas e agressivas

As crianças não têm um cérebro maduro o suficiente para entender que os pais precisam se ausentar para trabalharem e cumprirem com suas obrigações financeiras. Para os pequenos, que são naturalmente autocentrados, a única percepção real é a de que os pais estão ou não estão dando atenção a eles.

No caso de pais viciados em trabalho, a mensagem que fica para a criança é a de que eles não estão disponíveis para ela e suas necessidades. Essa percepção pode desencadear maus comportamentos, como a teimosia, o aumento da agressividade e os episódios de birra frequentes, como forma de a criança chamar atenção para as suas necessidades. Principalmente as crianças menores utilizam o vínculo com os pais como regulador de suas emoções e, se eles não estão disponíveis para elas, essas emoções podem se desregular com frequência.

Pais viciados em trabalho não estabelecem um vínculo afetivo satisfatório com os filhos

Pais viciados em trabalho frequentemente precisam deixar as crianças sob os cuidados de outras pessoas ou instituições. Mesmo que as melhores condições materiais sejam alcançadas e que todas as necessidades básicas das crianças sejam atendidas, nada pode substituir o vínculo que só a presença física, afeto, carinho e segurança proporcionados pelos pais são capazes de estabelecer. Os pais que estão muito ocupados com o trabalho não têm tempo disponível para conhecer os filhos de verdade, saber quais são seus interesses genuínos e profundos ou até mesmo se as crianças estão passando por algum problema — mesmo que, para alguém tão ocupado, pareça sem importância.

Os pais centrados no trabalho conseguem oferecer os bens materiais de que as crianças precisam para crescer com conforto, mas deixam a desejar na criação e fortalecimento de vínculo afetivo ou conexão real. Um dos problemas mais comuns, nesses casos, são filhos que se sentem invisíveis. A chamadanutrição emocional” é fundamental para que a criança se sinta amada pelos genitores. A falta desse vínculo pode levar ao desenvolvimento de sentimento de vazio e depressão, que, nas crianças, tende se manifestar por meio de sintomas como irritabilidade, letargia, falta de interesse em atividades que costumavam gostar, entre outros.

As crianças cujos pais são viciados no trabalho podem ter atraso em seu desenvolvimento emocional

desenvolvimento emocional é a habilidade que uma pessoa tem de sentir, entender, diferenciar e lidar com emoções complexas. Ele é extremamente necessário para a vida em sociedade, já que inclui formas de autorregulação e controle, entre outras. A convivência entre pais e filhos é fundamental para que a criança tenha o “material” necessário para desenvolver essas habilidades, que, basicamente, consiste em uma relação de segurança afetiva com os pais e a observação e aprendizagem das emoções e comportamentos no estilo causa e consequência.

É que as habilidades emocionais são adquiridas na primeira infância, quando a criança testa os limites dos pais. A resposta que eles dão a esses comportamentos, muitas vezes desafiadores, constrói o repertório emocional da criança, fazendo com que ela vá descobrindo como as próprias emoções e comportamentos refletem nas outras pessoas e quais são as respostas que eles provocam. Essas habilidades são essenciais na hora de aprender uma matéria difícil, por exemplo, que não só exige capacidade de concentração, como também de resiliência, para aprender com os erros e continuar tentando. Como a convivência com pais viciados em trabalho é mínima, as crianças podem ter dificuldades e atrasos nesse desenvolvimento.

Pais viciados em trabalho podem deixar cicatrizes profundas nos filhos

Socialmente, o trabalho é visto como uma virtude e, por isso mesmo, as pessoas tendem a se sentirem orgulhosas e prestigiadas quando se dedicam muito a ele. Além disso, o alto comprometimento com o trabalho pode garantir melhores condições socioeconômicas para a família. Nesse contexto, a criança que está em negligência emocional pode sentir que é a responsável pela alta carga dos pais.

Frequentemente, os filhos de pais viciados em trabalho precisam aprender a “se virar” sozinhos ainda na infância, assumindo responsabilidades que seriam dos adultos. A dor emocional pela falta dos pais não é levada em conta, já que, para todos os efeitos, eles estavam trabalhando e provendo a casa. Socialmente, esse comportamento é visto como exemplar e os filhos podem ser levados a acreditar que são pessoas de sorte por terem pais tão trabalhadores. Nesse caso, além do vínculo enfraquecido ou inexistente, ainda há um silenciamento que pode gerar problemas psicológicos para a vida toda, já que esses filhos se sentem deslocados, como se eles fossem um problema, e culpados pelo ressentimento que podem vir a sentir dos pais.

Preservar a própria saúde mental, equilibrando trabalho e família é um exemplo positivo para os filhos

Um estudo evidenciou que pessoas que são viciadas em trabalho são duas a três vezes mais propensas a ter Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno de Déficit de Atenção, depressão ou ansiedade. Além disso, pais que trabalham obsessivamente têm mais chances de desenvolver a síndrome de burnout — principalmente quando se esforçam para tentar equilibrar a alta demanda de trabalho sem deixar que isso afete o relacionamento com os filhos.

Cuidar da própria saúde mental, no entanto, é fundamental para estabelecer um vínculo mais saudável com os próprios filhos. Se é verdade que as crianças aprendem pelo exemplo, procurar ajuda especializada, priorizar o convívio familiar e trabalhar de maneira mais saudável pode fazer com que os pais sejam um reforço positivo para os filhos. Sim, trabalhar é importante e escolher algo que o realize profissionalmente faz com que você seja um bom exemplo para seus filhos, desde que existam limites, que as crianças sintam que também são prioridade e, principalmente, que se sintam vistas e amadas.

Você acredita que sua relação com o trabalho é saudável? Como equilibra o lado profissional com a vida familiar? Quais são suas melhores recordações de infância? Deixe sua resposta nos comentários.

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