Por que a indiferença de muitas pessoas é normal?

Psicologia
há 1 ano

Uns acreditam em Darwin e consideram os macacos como nossos ancestrais distantes, enquanto outros podem ver essa teoria de maneira bastante cética. No entanto, há algo em comum entre os seres humanos e esses animais. Por exemplo, a maneira como nos tratamos. Não está acreditando? Então, sugerimos que você se familiarize com o número de Dunbar e descubra por que seu amor pode não alcançar todo mundo.

Incrível.club decidiu descobrir se existe um limite em nosso coração e se podemos tratar todas as pessoas da mesma forma.

Um coração limitado, ou o número de Dunbar

Psicólogo estudioso da evolução humana e especialista em comportamento de primatas, Robin Dunbar determinou o número máximo de indivíduos que podem ser importantes para cada criatura, em macacos e humanos. Os animais tiveram menos sorte do que os homens: seu limite é de apenas 50 indivíduos, enquanto o coração humano abriga espaço para 150 pessoas.

Uma citação do romance de Erich Maria Remarque, “O Obelisco Negro”, fornece uma definição correta em relação ao número de Dunbar: “A morte de uma pessoa é uma tragédia, a morte de dois milhões é pura estatística”. Não há dúvida que os outros são iguais a nós: respiram, comem, dormem e experimentam diferentes emoções. No entanto, nossa consciência nos impede de arrancar a máscara social de uma pessoa e imaginá-la fora do grupo em que estamos acostumados a vê-la. Por exemplo, lembre-se da sensação que você teve ao encontrar o seu médico ou o professor do seu filho fora do consultório ou da escola. Por alguma razão, é difícil imaginar que as pessoas que você está acostumado a ver ocupando um determinado papel possam sair dele ao tirar umas férias, ao encontrar-se com amigos ou simplesmente ao fazer compras. Parece-nos que eles sempre permanecem onde os deixamos: no consultório ou na escola, como se não fossem sujeitos vivos, mas sim modelos tridimensionais.

O principal culpado dos problemas na sociedade

Considerando o número de Dunbar, a ignorância, a crueldade e a indiferença em nossa sociedade são bastante naturais e precisamente aí se escondem todos os problemas que enfrentamos. A questão está no fato de que, uma vez cercado por uma multidão que não faz parte do seu número de Dunbar, você pode então facilmente se dar ao luxo de fazer o que não ousaria se estivesse sozinho. Só por essa razão, as pessoas são capazes de vaiar um artista, dizer palavrões para um atleta ou árbitro durante a competição ou destruir o carro de outro sujeito, se aqueles que estão ao seu lado fizerem a mesma coisa. No meio da multidão, perde-se o senso de si mesmo como indivíduo e as pessoas agem como parte de uma única entidade, o resultado da soma de centenas de outros seres humanos.

Por que não é possível tratar todo mundo da mesma forma?

Temos certeza de que você não tem o hábito de ser rude com estranhos ou de brigar com os outros na rua. Mas às vezes acontece que mesmo a pessoa mais positiva acaba se vendo envolvida em atos estranhos e inesperados. O limite entre ações boas e ruins é apagado se os interesses de uma pessoa em seu número Dunbar forem afetados. Por exemplo, ninguém roubará de um amigo, mas muita gente provavelmente ficará em silêncio se o garçom esquecer de incluir algum item na conta ou se estiver numa loja e o balconista não registrar uma de suas compras. Nesse momento, a pessoa não pensará que o garçom pode ser responsabilizado, que ele mal consegue sobreviver com o salário dele e está economizando para estudar; ou que o caixa pode ser demitido por esse erro, e que o aguarda em casa uma mãe idosa que precisa de remédios.

A realidade é que o garçom e o caixa, na cabeça da maioria das pessoas, representam empresas sem coração. Não se vê uma pessoa neles, então é fácil supor que se está ganhando alguma coisa de graça e que o proprietário não ficará mais pobre por causa disso. As empresas realmente não perderão muito, mas uma pessoa específica pode sofrer as consequências e, com ela, também toda sua família.

Isso significa que alguém pode não me perceber como pessoa?

Claro, e dá para descobrir isso facilmente. Por exemplo, se sua carteira foi roubada, se você quebrou os botões do elevador, ou talvez, se foi demitido de seu trabalho. Num nível mais global, pode ser um pouco diferente, mas ainda é reconhecível: aumento de impostos, fraude por e-mail ou SMS, ataques terroristas... Nessas situações, para alguém, você não é uma pessoa, mas uma parte da multidão, ou uma fonte de renda sem rosto.

Vamos imaginar que você trabalha num posto de gasolina, onde as pessoas podem não só encher o tanque do carro, como também fazer um lanche. Suas responsabilidades incluem o atendimento aos clientes do drive-thru durante o seu turno diário. Ao chegar ao trabalho uma manhã, você fica sabendo que o governo decidiu aumentar os impostos e os preços da gasolina disparam; o chefe diz que ninguém sairá de férias num futuro próximo e você também terá que fazer turnos extras. Quais emoções você experimenta?

Você se acalma e volta para suas obrigações diárias. Um cliente, pagando o combustível, pede uma lata de refrigerante e um cachorro-quente. No processo de preparo, um muffin cai no chão, mas o sujeito não percebe. Você o pega, entrega ao cliente o pedido e a nota fiscal.

Logo após o ocorrido, é possível entender qualquer político e empresário. Eles tratam estranhos da mesma maneira que você. É assim que nossos “cérebros primatas” funcionam, independentemente de você ganhar milhões ou apenas alguns dólares.

O que você acha sobre este tema? É possível superar este número de Dunbar, ou estamos programados para ser indiferentes?

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