Os leitores do Incrível nos contaram sobre ressentimentos da infância que ficaram na memória

Psicologia
há 3 anos

“Os ressentimentos da infância ficam na memória para sempre porque as crianças guardam rancor no coração, e os adultos, na mente, que até consegue vencer um ressentimento, mas o coração, não. As mágoas deixam cicatrizes no coração e não podem ser passadas a ferro como as dobras do tecido”. Essa é uma citação do livro Coco Chanel. A história contada por ela mesma, que explica perfeitamente por que é muito difícil para uma criança esquecer um castigo injusto, desconfiança, traição, humilhação ou insensibilidade da parte dos adultos.

Os leitores do Incrível.club abriram os corações e contaram as histórias da sua infância que gostariam de esquecer, mas não conseguem.

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Até hoje me lembro quando, na pré-escola, fui escolhida para fazer um dos papéis principais em uma peça de teatro. Eu estava me esforçando muito para atingir a perfeição, fiz a minha parte com maestria, pois queria fazer o meu melhor na frente da minha mãe. Depois dessa apresentação ela me colocou de castigo dizendo que eu tinha me destacado demais e que ela havia passado vergonha.

Nunca mais tomei parte em apresentação alguma. Também não gosto de aparecer nas fotos, sempre fico atrás de alguém para não aparecer. © Наталья Щетинина / Facebook

3.

Quando eu tinha 13 anos, gostava de um menino. Minhas amigas e eu saíamos para passear às tardes todas maquiadas, tentando parecer adultas, mas, de noite, brincávamos de boneca. Uma vez, eu estava com os amigos mais velhos contando uma história, e o garoto de quem eu gostava também estava lá.

Então, minha mãe que voltava para casa me viu e disse: “O que está fazendo aqui? Você é uma criança que ainda brinca de boneca”. E começou a contar com muitos detalhes para todos que minha amiga e eu brincávamos com bonecas. Não sei por que ela quis me humilhar.

Nunca me senti tão rebaixada. Lembro que todos riram de mim e me zoaram. Quando cheguei em casa, joguei todos os brinquedos fora. Desde então, não tive mais brinquedos. Não sei a razão dessa atitude de minha mãe. Passaram-se 20 anos e até agora tenho mágoas por jogar minhas bonecas amadas fora, para que ninguém soubesse que eu brincava com elas. Naquele dia, minha infância acabou. © Diana Prikule-Pape / Facebook

4.

Meus pais estavam viajando e tiveram de voltar no dia 31 de dezembro. Era tradição convidar os amigos para o Réveillon. Eu quis fazer uma surpresa para os meus pais e os convidados: preparei toda a comida e a coloquei na mesa. Quando todos se sentaram para jantar, minha mãe se desculpou e disse que se a comida não estivesse gostosa era porque não havia sido ela a cozinheira, e sim, eu.

Fiquei muito triste. Embora todos os convidados tenham me elogiado, até hoje me lembro daquele momento. A vida inteira foi assim. Minha mãe nunca me elogiou e não deixava ninguém falar bem de mim, nem os amigos, nem os parentes. © Lale Ismailova / Facebook

5.

Minha mãe sempre dizia que eu não sabia fazer nada, que ela era muito organizada e que eu parecia o meu pai. Aos 14 anos, me mudei para um dormitório universitário e nunca voltei a morar com ela. A vida revelou que eu não era pior que minha mãe, talvez até tenha sido melhor. Quando ela já estava velhinha, lhe perguntei: “Por que fez isso comigo?” Ela respondeu: “Para ninguém ficar com inveja de você”. Ela tinha medo de me amar. © Ирина Стародубцева / Facebook

6.

Minha prima tinha um cabelo muito fino e compraram um condicionador importado muito caro para ela. Tomei banho, e minha prima me acusou de ter usado aquele condicionador. Minha tia começou a cheirar o meu cabelo e a me chamar de ladra.

Corri para minha mãe com a certeza que ela olharia nos meus olhos e entenderia que eu falava a verdade. Realmente, eu não usei o condicionador. Minha mãe cheirou o cabelo e disse que não tinha certeza se eu usara ou não. Mas se elas pensavam que eu havia usado, então, eu era uma ladra. Minha própria mãe não acreditar em mim e não me defender, foi um grande choque. Eu sempre fui muito obediente e nunca menti para ela. © Наталия Воднева / Facebook

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8.

Aconteceu em 1961, no primeiro ano de colégio. Nas aulas começamos a fazer exercícios de coordenação motora desenhando linhas retas. Como sou canhoto, peguei uma caneta com a mão esquerda. Quando a professora viu aquilo, me pediu para levantar e me criticou na frente da turma inteira por eu ser canhoto. E tive de aprender a escrever com a mão direita.

Eu até tentei, mas as linhas saíram muito tortas, e tirei uma nota baixa. A professora disse para eu levantar e, de novo, me criticou não apenas por ser canhoto, mas também por tirar nota baixa. A turma começou a me chamar de “canhoto-bobo”. Toda manhã eu ficava descontrolado porque não queria ir à escola© Viktor Korn / Facebook

9.

Tenho mais de 50 anos, mas até hoje não consigo me esquecer de alguns momentos da minha infância. Talvez fosse melhor apagá-los da memória, mas não consigo.

Frequentemente, me deixavam na pré-escola de segunda até sexta (onde eu vivia havia uma modalidade da pré-escola que funcionava cinco dias por semana. Os pais podiam deixar seus filhos na escola na segunda e pegá-los na sexta). Uma vez, não sei por que, meu pai veio me buscar no meio da semana. Fiquei muito feliz, pois queria ver a minha mãe e o meu irmão. Ao chegarmos em casa, minha mãe nem me abraçou, só brigou com meu pai por ele ter me buscado. Queria tanto abraçar a minha mãe... Não sei se os tempos eram difíceis ou as pessoas duras. Eu tinha apenas cinco anos... © Hilola Musaeva / Facebook

10.

Fiquei muito triste pela atitude da minha primeira professora, que eu amava e em quem confiava. Quando eu tinha sete anos, meu melhor amigo faleceu. A mãe dele me deu de presente um livro de charadas como lembrança do Ivan. O livro era muito legal, até hoje ficaria feliz em tê-lo, mas, na época, era um verdadeiro tesouro, além de uma lembrança.

Minha mãe me deixou levar o livro para o colégio, e os meus colegas e eu tentamos resolver as charadas nos recreios. Depois da aula, a professora me perguntou quem me deu aquele livro e o pediu emprestado para olhá-lo melhor. Preciso dizer que nunca mais o vi? Mesmo que na primeira página estivesse escrito “Do Ivan para a Margarita”. Até hoje não consigo entender como uma mulher adulta, uma professora, teve a coragem de fazer isso. Será que um livro vale a confiança de uma criança? © Маргарита Геращенко / Facebook

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Uma vez, quando eu tinha oito anos, meus pais viajaram e me deixaram com meus avós. Decidi fazer uma surpresa. Levantei cedo, limpei a cozinha, fiz um mingau, coloquei os pratos na mesa e fui para o meu quarto. O café da manhã estava posto.

Mais tarde, minha avó reclamou para mim: “O mingau estava frio, e você o fez com água, devia ter feito com leite”. E meu avô, olhando para mim, acrescentou com um sorriso: “Eu dei o mingau para um cachorro de rua”. Nunca mais fiz surpresas para eles. Jamais! © Lucy Gabay / Facebook

13.

Certa ocasião, minha turma ia fazer um passeio. A saída do ônibus do colégio estava marcada para às 8h00 da manhã. Cheguei às 7h45. Fiquei esperando até às 8h00. Um pouco depois, apareceu a zeladora do colégio e disse: “Vai ao passeio? Todo mundo chegou mais cedo e o ônibus já partiu”.

No dia seguinte perguntei a professora: “A gente combinou às 8h00. Cheguei 15 minutos antes, mas já não havia ninguém. Talvez, eu tenha confundido o horário?” Respondeu: “Não, você está certa! Mas como todos os outros já haviam chegado, fomos embora. Não queríamos esperar mais! Deveria ter se apressado!” Eu fiquei magoada. Demorou muito tempo para minha mãe conseguir me acalmar. © Ольга Станкевич / Facebook

14.

Eu tinha quatro anos quando, no casamento do meu irmão, me presentearam com uma boneca tirada do capô do carro dos noivos. Fiquei muito feliz! Mais tarde, uma sobrinha da noiva também queria essa boneca. Ela tinha quase 10 anos. De noite, quando eu dormia, trocaram a boneca por uma coisa horrorosa. Até hoje me lembro dessa tragédia infantil. Chorei por dois dias... © Ирина Сергеева / Facebook

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À época eu tinha 14 anos. Escorreguei em uma escada e caí, machucando o meu pé (tinha uma fissura no tornozelo). E, por azar, eu usava uma jaqueta nova. Quando cheguei em casa, mal conseguindo suportar a dor, em vez de palavras de compaixão, ouvi: “Já conseguiu rasgar a jaqueta nova?!” Fiquei chocada. Só para constar, nem rasguei a jaqueta porque quando estava caindo, eu automaticamente a levantei.

Chorei a noite inteira, e a resposta para as minhas lágrimas foi: “Pare de chorar! Precisa olhar onde pisa!” De manhã, meus amigos me ajudaram a ir a um hospital, e o médico colocou uma tala. Meus amigos também me levaram para casa depois.

Eu me sentei à mesa da cozinha para fazer uma tarefa de casa. Tive de esticar a perna porque doía menos apenas nessa posição. Passando pela cozinha, a minha mãe disse: “Tire essa perna daí, farsante! Não dá para passar!” Já se passaram 20 anos, mas até hoje sinto mágoa. © Sandra Shatalova / Facebook

Se vocês têm ressentimentos de quando eram crianças, é melhor falar sobre eles. No mínimo, vão se sentir um pouquinho melhor.

Imagem de capa Lucy Gabay / Facebook

Comentários

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Me lembro que minha mãe só tinha dinheiro para dois doces e éramos em três, minha mãe deu um doce para a mais velha e eu e a do meio tivemos que comer metade do segundo, achei um absurdo e joguei o meu no chão (com apenas 5 anos legislando em causa própria), ai fiquei sem nada... não deu certo a birra

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Eu não gostava de tomar conta 24hs por dia das minhas irmãs menores, era chato pq também era criança e queria brincar e não ser babá

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Eu me lembro que uma vez a minha mãe brigou comigo e eu pensei que só podia ser adotada, já que eu pareço só com meu pai kkk, devo ter visto isso em algum filme na época

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Minha mãe fez de tudo para que eu sentisse o mínimo ´possível a falta do meu pai, ela é especial, meu avô foi meu pai e eu tenho orgulho dele e dela

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Quando eu criança,meus colegas conversavam muito e faziam muito barulho e eu era quieta, a professora pensou que eu estava conversando,me chamou na frente de todo mundo e me humilhou e pediu pra ler um livro,e eu só sabia chorar e lia baixo ela disse:para de chorar e leia alto que nao estou ouvindo,repetiu varias vezes e por toda serie que estudava tinha que suporta esta malévia,tenho traumas ate hoje,sou quieta e evito brigas.😢

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sofria bullyng na escola,minha madrasta ia lá conversar com a pessoa,sendo que era quieta e mexiam comigo,a criatura disse pra minha madastra que tinha chamado ela de puta,sendo que nem sou de chamar palavroes,advinha?minha madastra acreditou na criatura,😢ate hj sou timida,quieta,e guardo tudo pra si.

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Me dá muita raiva dessas situações! Tendo pais e professores assim, quem precisa de inimigos? VSF!!

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