“O piano é o meu companheiro para o resto da minha vida” A história da mulher que não desistiu de estudar música mesmo na vida adulta

Psicologia
há 1 ano

Rosane Albuquerque é moradora do Rio de Janeiro e sua origem é simples. Quando criança ela tinha um sonho, que com o passar do tempo ficou adormecido, tão escondido que ela nem sabia que existia e também não sabia como libertar esse sonho que morava dentro dela, em algum lugar. Era uma vez uma menininha e sua gavetinha de sonhos, mas um deles ela colocou como inatingível, por ora.

O tempo passou, ela soube ouvir seu coração e aprendeu a tocar piano aos 59 anos. A redação do Incrível.club ficou bastante emocionada e hoje conta essa história inspiradora. Vamos lá?

Como tudo começou

Rosane cresceu em uma família numerosa, de dez pessoas. Além dela viviam em uma casa alugada, o pai, a mãe, três irmãos, duas tias e os avós. De origem simples, o pai era bombeiro hidráulico e a mãe, costureira. Os demais membros da família também trabalhavam fora de casa. O avô era confeiteiro, a tia era datilógrafa e a madrinha, secretária executiva.

Foi na casa ao lado, da vizinha Suely, que estudava piano e tinha uma condição financeira mais confortável, que ela conheceu o instrumento musical aos 6 anos.

A vida seguiu o curso natural

A família dela se mudou daquela casa. Saíram do aluguel. Foram para um apartamento que a madrinha, secretária executiva, conseguiu comprar. Assim, o contato com a música clássica foi perdido, já que a família não tinha possibilidades de ter um filho estudando música ou até mesmo de comprar um piano. Rosane nunca ousou fazer aos pais tal pedido, por isso, guardou esse desejo em uma gavetinha de sonhos impossíveis e o etiquetou com a palavra inatingível.

Naturalmente, a vida seguiu. Algum tempo depois, ela conheceu Paulo Cesar Mello de Albuquerque e casaram-se cedo. Ela tinha 18, e ele, 22 anos. Rosane tem uma vida agitada e múltiplos papéis. Profissionalmente seguiu a carreira de advogada. Ela tem dois escritórios no Rio de Janeiro. Com Paulo, teve Tiago e Tatiane, que também são amantes das artes: o filho é escritor e a filha é cantora. A vida foi caminhando, o tempo foi passando também.

Perda de memória da mãe e a caixa de Pandora

O adoecimento de Dalva Almeida Cabral, mãe de Rosane, foi um divisor de águas. Dalva perdeu um pouco de memória. A filha pensou em ajudá-la a socializar mais e lembrou-se de que a mãe gostava de música quando criança, por isso, apresentou-a ao curso de canto coral com o professor Jonas Hammar.

Algo inexplicável aconteceu quando o professor colocou tanta amorosidade em sua aula. Na audição de canto coral, quando Jonas disse a palavra partitura ocorreu uma revelação grandiosa em sua mente: “Se abriu uma caixa de pandora em meu inconsciente”. Foi aí que ela ficou com uma vontade incontrolável de estudar piano e não conseguia mais parar de pensar nisso.

Depois de 53 anos, a compra do piano de São Paulo para o Rio de Janeiro

Sua rotina mudou aos 59 anos. Na cabeça de Rosane, a ideia de estudar piano não a fez parar. Trabalhando a partir de casa encontrou um pouco mais de tempo em sua rotina corrida. Decidiu estudar piano on-line, porém ela não tinha um piano. Como seria possível? Isso não a impediu. “Estudei primeiro o hardware do piano, ou seja, como ele é todinho por dentro. Depois, estudei o software. A mesa da sala eram as teclas do piano”

Não demorou muito, ela comprou um piano ao se questionar: “Trabalho, tenho dinheiro, então, por que não comprar um piano?” Fez a compra pela internet cerca de dois meses depois da primeira aula. Ela descreve que foi uma energia maravilhosa observar o piano entrando em sua casa. Mais de 50 anos se passaram e ela pôde vivenciar essa experiência!

Dedicação, paciência e o preparo para a primeira apresentação em família

Estudante de piano há cerca de um ano, ela relata tocar peças mais simples, já que é iniciante, mas para ela, a música, o estudo de piano não exige uma inteligência sobrenatural, não é nada inatingível. Rosane também não romantiza: “É necessário paciência e gostar muito, pois precisamos estudar, nos dedicar para aprender”.

Não existe limite de idade para sonhar e realizar. Tem um objetivo? Siga em frente!

Se você tem um sonho e sabe da existência dele, jamais duvide de você. É o que Rosane ensina, já que despertou para essa realização aos 59 anos. “Nunca pense ’aquilo não é para mim’. Nós, adultos e até mesmo mais velhos, temos capacidade cognitiva. Não há diferença nenhuma da criança. A única questão é que o adulto tem mais preocupações, mas não tem incapacidade de aprender algo novo”

De uma coisa ela tem certeza, tocar piano para ela não é uma brincadeira. Rosane já decidiu que o piano será seu companheiro para o resto de sua vida.

Crenças limitantes impedem a realização do que você quer

Eliminar as crenças limitantes pode ser a chave da mudança que você busca. “Realize a parte que lhe cabe, se você quiser ser juiz, precisa passar pela faculdade de Direito, prestar concursos públicos e a prova. O segredo é não desistir. Conheço juízes que passaram na décima tentativa. Não saia da fila, continue”. Nossa entrevistada só aprendeu isso com o passar dos anos, pois quando mais jovem pensava que tocar piano não era para ela.

“Nem eu, nem meus irmãos fomos expostos à arte. A classe social da qual vim nem sequer ousava pensar em arte. Pensávamos: ’Isso não é para mim’. São crenças limitantes que nos colocam em pensamentos de incapacidade”. Rosane sempre acredita ser possível buscar um sonho, por isso, recomenda não deixarmos para depois, afinal, o tempo passará e se você não buscar o que deseja a vida acontecerá do mesmo jeito. Para ela, vale muito fazermos como pudermos, mas o importante é não deixar de se movimentar em direção ao que queremos.

Importância do autoconhecimento para uma vida mais leve

Vivendo no piloto automático, Rosane não se conhecia e, dentro de sua alma, jamais havia notado que tocar piano era algo que lhe pudesse fazer bem, que trouxesse momentos de paz e leveza. Ela não sabia ter esse sonho, que não idealizava, mas conta que, onde quer que fosse, se tivesse um piano naquele local, seu olhar ficava imediatamente atraído para o instrumento. Além disso, acredita que o autoconhecimento pode fazer diferença nesse processo. “Tendo contato com você mesmo é que conseguimos fazer conexão com o nosso eu verdadeiro, pois todos possuímos algo único.”

“Consegui, com a meditação descascar o que estava oculto e isso veio à superfície. Olhar para dentro nos permite uma conexão com nossa essência. Na sua quietude, naquele lugarzinho oculto, você consegue atingir seu autoconhecimento, que pode aparecer em insight, sonho ou claramente”. Hoje ela tem uma vida melhor e foi o piano que retirou, segundo nossa entrevistada, o mau-humor que ela tinha dentro de si, pois a partir de agora, atinge com a música o estado mental de flow. “Existia algo oculto. Um mau-humor que não sabia de onde vinha. Agora me sinto em plenitude. Não me falta mais nada. Quando estou em um ambiente de concerto, sinto que esse é o meu lugar. Sinto um preenchimento, não tenho mais insatisfação”. Incrível, não?

Você tem um sonho que ainda não realizou e está guardado em algum lugar? Ou conhece alguém que realizou um grande feito, mesmo que na idade adulta? Conte para a gente nos comentários!

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