“Não quero mais visitas”. Um relato honesto sobre por que parei de receber convidados em casa

Psicologia
há 1 ano

Dois escritores lendários, Hans Christian Andersen e Charles Dickens, pararam de se falar após o primeiro visitar o segundo. A visita do autor dinamarquês foi tão incômoda para o romancista inglês que Dickens logo escreveu uma carta de despedida a Andersen. Talvez a amizade entre os grandes pensadores tivesse sido muito diferente se não fosse por a ínfima visita de Dickens.

Meu nome é Anastasia e cansei de ser uma pessoa hospitaleira. Hoje, vou contar a você como cheguei à decisão de limitar minhas amizades para além das premissas da minha casa.

Todas as portas estão abertas

Olhando para trás, percebo que, desde muito jovem, eu não amava quando os amigos dos meus pais ou colegas de trabalho nos visitavam. Porém, enquanto criança, a visita de convidados em festas ainda era uma experiência alegre. Já na adolescência, a presença de estranhos começou a me incomodar. As pessoas falavam alto demais, faziam piadas sem-graça, mas isso era só a metade do problema. O que eu mais detestava era quando os convidados tentavam me dar sermão. Além disso, comecei a sentir que, durante as visitas, eu perdia a sensação de “esta é a minha casa”, e mesmo após elas irem embora, eu precisava de tempo para me acalmar e relaxar.

Tudo isso mudou quando me mudei para um dormitório estudantil. Os quartos estavam sempre repletos de estudantes e de conversas alheias. Por exemplo, minha companheira de quarto se apaixonou por um garoto mais velho, e os dois passavam dias e noites juntos conversando sem parar na nossa área conjunta. Era difícil de tirá-lo de lá. Quando eu dizia, com todas as letras e sons, que era hora de ir embora, ele se chateava e me culpava por eu não ser mais hospitaleira. A mesma história se repetia no dia seguinte.

É claro, não foi fácil para mim viver nessas condições no começo. Depois, contudo, meus amigos da faculdade começaram a me visitar, o que aliviou um pouco a tensão. Quando a faculdade terminou, aluguei um apartamento sozinha, mas meus hábitos “de alojamento” se preservaram por certo tempo, e eu adorava receber a visita dos meus amigos. Por algum tempo.

“Vou ficar só alguns dias”

Os convidados de “longo prazo” são um verdadeiro teste de resistência. Mesmo parentes queridos podem tornar nossa vida uma enorme bagunça se vierem passar uns dias com você. Quem dirá pessoas estranhas!

A quantidade de tarefas domésticas aumenta, pois há outro inquilino na casa, que precisa ser bem cuidado; além da sujeira extra. Não sei dizer o que é pior: ter um convidado que assume o papel integral de visita e não faz absolutamente nada para ajudar ou aquele que se intromete nos seus afazeres diários. No primeiro caso, você se sente como um funcionário de hotel e animador recreativo; no segundo, você pode acabar recebendo intromissões e críticas ao seu próprio lar.

Certa vez uma ex-colega de classe pediu para ficar na minha casa: “Só preciso de dois ou três dias”. Mas esses três dias se converteram em quase duas semanas. Ela não se preocupava com as tarefas domésticas, mas de vez em quando soltava comentários do tipo: “Nossa, quem limpa batata assim? Eu te ensino depois!”

Só consegui tirá-la de lá quando já estava tão cansada que eu mesma procurei nos anúncios por um apartamento que ela poderia pagar. Depois disso, decidi que a vida “de alojamento” já havia ficado para trás e eu não tinha mais obrigação de abrigar ninguém. Aliás, essa amiga nem me agradeceu e nunca mais falou comigo.

O pior convidado é aquele que não é convidado

Hoje, sigo a regra de “Não ligou? Então a porta está fechada”. Quem não tem um celular nos dias atuais? Se você quiser me agradar com a sua presença, então tenha modos e me pergunte primeiro se estou disposta a te receber. Eu já recusei pessoas que “estavam passando por perto e decidiram dar uma passadinha” aqui, dizendo que estava ocupada. Ou eu ainda dizia: “Tudo bem, vamos conversar no seu carro ou podemos ir sentar em um café”.

Em primeiro lugar, por mais despretensioso que seja um convidado, uma visita inesperada me pega de surpresa. É inevitável. Mesmo que o apartamento esteja em perfeita ordem, e a geladeira cheia de guloseimas, sinto como se estivesse recebendo um inspetor na minha casa. Em segundo, considero que estou ocupada mesmo quando estou assistindo a vídeos no YouTube, portanto vejo o hóspede como um interruptor do meu tempo pessoal.

Tive um caso como esse há um tempo. Eu estava em casa com febre de 38º C quando a vizinha apareceu à minha porta. Recebi-a com roupão no corpo e disse que não estava me sentindo bem. Indiferente, ela tirou o casaco e saiu entrando, pedindo ainda que eu fizesse um chá, pois ela tinha “notícias importantes”. Nos sentamos à mesa, e ela começou a falar sobre sua vida pessoal, gritando e rindo a plenos pulmões.

Eu queria que ela terminasse o chá logo e fosse embora, para eu poder me deitar na cama. Porém, após o chá, a vizinha foi à estante onde eu guardava minhas maquiagens e começou a abrir os potinhos de creme, cheirar isso e aquilo, comentando: “Ai, não gostei deste aqui não. Já este aqui, vou passar no rosto!” Ela ainda borrifou meus perfumes em si mesma. Nesse momento, deixei de lado as regras de bons modos e de hospitalidade e apenas a olhei de maneira incisiva. Ao sair, ela me perguntou: “O que foi, hein, você está meio calada hoje”.

Minhas festas caseiras (não)favoritas

Sobre festas e encontros. Quando você é o anfitrião, você passa por uma gincana para organizar uma festa. Limpar tudo antes dos convidados chegarem, depois oferecer comida e entretenimento para todos; e por fim, limpar toda a bagunça. E ainda se preocupar se todos aproveitaram ou não. Preciso realmente disso? Não é mais fácil se encontrar em um local neutro? Assim, todo mundo se diverte.

Logo após me mudar para cá com o meu namorado, nós decidimos fazer uma festa em casa para comemorar o aniversário dele e apresentar nossos amigos. No dia, tive um expediente de 12 horas, por isso nem pude pensar em cozinhar ou preparar algo por conta própria. Nos dias de hoje, porém, a coisa mais fácil do mundo é pedir entrega em casa, e foi isso que fizemos.

Parecia que os convidados tinham ido embora com a barriga cheia e felizes. No dia seguinte, porém, ouvi de uma amiga que algumas senhoritas falaram mal de mim pelas costas, dizendo que meu namorado não teve sorte de me encontrar, e que a mesa estava uma tristeza. Sinceramente, nem imaginei que no século XXI, os critérios de avaliação de uma mulher poderiam estar associados ao que eu decido colocar na mesa.

Em outra ocasião, um dos convidados decidiu abrir a janela, ignorando a presença do meu gato no apartamento. Felizmente, moro no primeiro andar, por isso nada de ruim aconteceu com meu pet após ele fugir. E embora tenhamos o resgatado com rapidez, o meu ânimo já havia sido arruinado.

E a cereja do bolo para mim: os convidados que aparecem com crianças pequenas. De modo geral, não faz sentido criticar o que os pequenos fazem, afinal são pequenos, mas o que os adultos aprontam já é outra história. Infelizmente, nem todos eles entendem a palavra “não pode”. Muitas mamães e papais olham de forma carinhosa suas crianças destruírem tudo o que veem pela frente. Certa vez, após a visita de um pequeno convidado, adicionei à minha lista de coisas perdidas um lindo vaso de flor, meu livro querido e o sistema nervoso do meu gato. E as bonecas de coleção que tenho, precisei tirar à força da mão da criança antes do desastre ocorrer, enquanto a mãe dele apenas olhava como se dissesse: “Nossa, quantos anos você tem? Para que coleciona bonecas? Agora, meu filho vai chorar por sua causa, e a culpa vai ser sua!”

Não convido mais pessoas e não tenho vergonha disso

Tenho mantido ao mínimo as visitas de estranhos à minha casa. Prefiro passear pelo parque com um amigo do que fazer um encontro na minha cozinha para tomar café. Reuniões barulhentas também não são mais bem-vindas no meu lar. Mesmo que ir a um restaurante com amigos no feriado seja custoso, para mim ainda vale mais à pena do que limpar, organizar, limpar de novo; e meus nervos ainda agradecem.

Fiquei agradavelmente surpresa quando encontrei pessoas on-line com a mesma opinião que a minha. Afinal, não sou a única pessoa na Terra que não gosta de receber visitas. Estas são algumas das histórias de usuários que encontrei:

  • Minha avó me contou esta história. Um convidada derrubou um prato de comida, e todo o macarrão se esparramou pelo chão. Foi parar até embaixo da geladeira. A visita apenas olhou para o desastre e soltou: “Deixe eu passar para lá para não te atrapalhar a limpar”. © StaticPrevails / Reddit
  • Um casal que trabalhava com o meu marido começou a frequentar nossa casa. Oferecíamos chás e docinhos, e eles nunca traziam nada. E nem nos convidavam para a casa deles. Eu disse ao meu marido: “Quer saber?! Vamos lá visitá-los!” Fomos, e eles não nos deixaram passar para além da entrada e ainda perguntaram: “Aconteceu alguma coisa?” Fiquei sem reação e disse ao meu marido: “Quer manter a amizade com eles, sem problemas, mas eles não entram mais na minha casa”. Depois, eles apareceram mais uma vez, abri a porta, soltei: “Aconteceu alguma coisa?”, e bati a porta na cara deles. E foi isso. © Overheard / VK
  • Há pouco tempo, chamei minha tia viúva para me visitar. Pensei que eu poderia tentar distrai-la, oferecer ajuda. Surpreendentemente, ela não parava de rir e brincar à mesa da cozinha. Fiquei tão feliz de ver que ela não parecia estar sofrendo e estava se distraindo. Mas isso foi até o momento em que notei, após ela ir embora, que meu perfume havia sumido, assim como minhas luvas de couro e o dinheiro dentro do meu casaco. Foi triste e doloroso. © Overheard / VK

E como você lida com visitas? Gosta de recebê-las em casa ou prefere ser a visita?

Imagem de capa Overheard / VK

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Adorei sua história! Concordo plenamente com tudo o que disse! Incrivelmente desnecessário receber visitas hoje em dia!

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