Dicas de como dominar os pensamentos que nos impedem de ter sucesso até nas pequenas tarefas

Psicologia
há 2 anos

Algumas pessoas constantemente ouvem seus próprios pensamentos dizerem que elas não são capazes de fazer determinada coisa. “É melhor não ir à festa, você não é boa em socializar”, “eu nunca vou conseguir decorar essas fórmulas, então adeus vestibular”, “nem perca tempo enviando esse currículo, a concorrência é muito grande e você não tem chances”.

Se você já assistiu Luca, a animação da Disney/Pixar, vai se lembrar que o Alberto ensinou ao protagonista que essa voz se chama Bruno, e o bordão “Silêncio, Bruno” quando o Luca precisasse de coragem para fazer algo. Mas e se te disséssemos que existe ciência nessa história?

Pois é, nós, do Incrível.club, vamos explicar o que é Desfusão Cognitiva, o “Bruno” que temos dentro de todos nós, e como silenciá-lo pode nos ajudar no nosso crescimento, como aconteceu com o Luca.

Os pensamentos são úteis para a nossa proteção e foram os grandes responsáveis pela nossa evolução

Antes de qualquer coisa, precisamos entender o que são essas vozes na nossa cabeça, os pensamentos. A habilidade de pensar foi o que possibilitou a humanidade vencer os perigos desde a pré-história, já que podemos avaliar a situação, pensar nas possibilidades e, por fim, resolver os problemas. Tudo isso acontece em questão de segundos no Sistema Nervoso Simpático que, em situações de estresse, responde com reações de lutar ou fugir.

Hoje em dia, não precisamos mais enfrentar animais pré-históricos nem tribos inimigas, mas o nosso simpático sistema nervoso ainda tem muito trabalho. Ele entra em ação sempre que nos deparamos com algum problema ou conflito a ser resolvido, decisão a ser tomada etc. Nessas situações, o corpo responde com aumento dos batimentos cardíacos, dilatação da pupila, alteração na respiração. É o corpo nos deixando em estado de alerta e a mente tentando antecipar o que vai acontecer.

O cérebro tem a responsabilidade de antecipar acontecimentos ruins e nos preparar para enfrentá-los

Dessa forma, para nos proteger, a nossa mente se ocupa com prever coisas ruins que podem nos acontecer e nos preparar para enfrentá-las ou evitá-las. Ela comunica essas previsões através do pensamento, que nada mais são do que respostas baseadas nas nossas vivências e aprendizados. Ou seja, a nossa mente traça uma forma de enfrentar a situação revivendo alguma outra parecida, que tenha acontecido no passado e trouxe algum aprendizado.

Acontece que algumas dessas memórias podem ser dolorosas, ou de eventos que não deram muito certo. Logo, a sua mente tende a antecipar um resultado antigo para um problema novo, porque relaciona os dois acontecimentos, causando ansiedade. A nossa mente cria uma “história” e inicia todos aqueles sintomas, antecipando um final desagradável. E o que era para durar alguns segundos, se estende por muito mais tempo.

Algumas vezes, o alerta que a nossa mente dá diante de uma situação ruim, nos paralisa e causa ansiedade

Esses pensamentos são chamados pela psicologia de pensamentos intrusivos. É quando a mente faz uma avaliação errada da situação, antecipando que algo muito ruim irá acontecer, e levando-nos a paralisar diante do problema. Algumas pessoas, quando a mente diz “você não é capaz disso”, aceitam o pensamento como fato e não chegam nem mesmo a tentar.

Outra atitude comum quando acontecem pensamentos intrusivos é tentar evitá-los, controlá-los ou modificá-los. Até que é possível fazer isso, mas é um hábito muito difícil de manter e, para a Psicologia, significa invalidar parte do que acontece na sua vida. A melhor saída é a aceitação: como vimos lá em cima, os pensamentos existem com a função de evitar perigos. Pensar é algo natural e faz parte de sermos vivos e humanos então, apenas deixe-os passar, gentilmente.

Para evitar o efeito paralisante, é preciso ver os pensamentos intrusivos de outra forma, dando um novo significado

É aí que entra a Desfusão Cognitiva, uma técnica que consiste em observar os pensamentos de fora, como se você colocasse um óculos 3D para assistir a um filme tendo uma noção maior de profundidade. Assim é possível compreendê-los o suficiente para alterar a função deles na sua vida.

Quando passa a compreender que o seu pensamento, ainda que fale sobre você, não é um fato, mas apenas um conceito, está a um passo de silenciar o pensamento intrusivo. Ou seja, antes pensava “eu não consigo fazer isso”, mas agora passou a pensar “estou tendo um pensamento de que não consigo fazer isso”. E este segundo não é paralisante. Você pode vê-lo como uma folha seca num riacho: a correnteza vai levá-la embora.

Quem aprende a controlar os pensamentos intrusivos através da Desfusão Cognitiva tem maiores chances de aprender coisas novas e até viver aventuras diferentes

É nesse momento que entra o Alberto ensinando o Luca a silenciar os pensamentos intrusivos: “Eu sei o seu problema, tem um Bruno aí em você. Não escute esse Bruno! Fala assim pra ele: Silêncio, Bruno.” O Luca tinha muito medo de fazer as mesmas coisas que Alberto, e isso o privava de viver novas aventuras e conhecer o mundo fora do lugar em que vivia. Foi só quando ele aprendeu o “silêncio, Bruno”, é que trouxe uma mudança significativa para sua vida, família e comunidade.

Realmente, os pensamentos intrusivos mais ligados a sofrimentos anteriores nos fazem evitar novas decepções, nos privando de experiências que, de outro modo, poderiam ser enriquecedoras. Isso é um reforço negativo dos seus pensamentos, que nos afasta de uma vida mais valiosa. A Desfusão Cognitiva, ao contrário, nos mantém em contato com as experiências presentes, sem julgamentos e abertos ao aprendizado. Como diria o Alberto: “Toma essa, Bruno”.

6 Dicas para você silenciar o seu “Bruno”, ou seja qual for o nome que der aos seus pensamentos intrusivos

Quer treinar a Desfusão Cognitiva e silenciar de vez o Bruno que existe em você? Aqui estão alguns exercícios úteis:

  • O Alberto não estava errado: dar um nome para a sua mente é uma técnica comprovada que ajuda na Desfusão Cognitiva. Isso porque nós temos uma tendência a ser menos críticos com nossas próprias opiniões e mais seletivos com as dos outros. Dando um nome ao seus pensamentos e passando a conversar consigo mesmo na terceira pessoa, passará a pensar melhor antes de aceitar suas opiniões e afirmações sobre você mesmo.
  • Desobedecer aos pensamentos é também um exercício muito útil. Para treinar, repita um pensamento e faça o contrário do que ele diz. Por exemplo: pense na afirmação “eu não posso caminhar até a rua”, e caminhe até a rua repetindo-a. Dessa forma, seu cérebro vai compreender que os pensamentos não significam, de fato, uma ação que você precisa tomar.
  • Um exercício que já mencionamos acima é o de encarar os seus pensamentos como se fossem um filme no cinema. Você pode observar a história que está sendo exibida na tela, se emocionar, se alegrar ou sentir tensão mas, no fim, são apenas imagens geradas por um projetor, o seu cérebro, para contar uma história fictícia. E ela, como todas as outras, terá um fim e pode ou não influenciar na sua vida. É você quem escolhe.
  • Outro exercício mencionado, mas que merece uma explicação maior, é o de dar o nome correto ao seu pensamento. Ou seja, ele não é um fato, mas apenas um conceito. Dê o rótulo certo aos seus pensamentos para desenvolver a lógica e a imparcialidade. Você pode rotulá-los como “descritivos” quando eles dizem respeito à realidade que o cerca, ou “avaliativos” quando envolvem julgamentos. O exercício maior é procurar ater-se aos pensamentos descritivos e, quanto aos avaliativos, questionar-se se eles são exagerados demais ou se está levando-os muito a sério.
  • Podemos ainda visualizar os pensamentos mais incômodos como folhas secas boiando num rio, ou mesmo como um trem passando. De uma forma ou de outra, basta esperar até que passem. Assim você não prolonga aqueles sintomas de ansiedade que falamos antes, dando a eles o prazo que precisam ter.
  • Um exercício bem divertido é colocar um pensamento desagradável em um contexto diferente. Por exemplo: se o “Bruno” te disser “você é péssimo em matemática”, repita essa frase no ritmo de alguma música, como o “Parabéns pra você” ou qualquer outra bem animada. Quando muda o contexto da afirmação do “Bruno”, muda também o seu significado e as emoções que ela causa em você. Legal, não é?

Não é fascinante como um filme infantil como o Luca pode despertar discussões tão profundas, e até mesmo nos dar aulas de Psicologia e Biologia? Mais ainda: trazer transformações significativas nas nossas vidas e até das crianças, muitas vezes sem nem percebermos. Bom, o que queremos mesmo é saber qual é o nome que você vai dar ao seu “Bruno” e por quê. Conte pra gente!

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