Em filmes e séries de TV, não é raro notar padrões duplos de julgamento em relação ao gênero. Mulheres de negócios, por exemplo, são amargas e não são apreciadas pelos outros personagens; já os homens de negócios mais prepotentes costumam ser altamente respeitados. Homens desempregados sofrem mais pressão do que mulheres na mesma situação. Enquanto alguns diretores cinematográficos e de TV se esforçam para quebrar paradigmas, outros continuam propagando os clássicos estereótipos dos quais muitos já estão cansados de ver.
Se em um filme, a protagonista é uma “mulher de negócios”, ela provavelmente será uma mulher amarga. Essa senhora irá intimidar e humilhar seus subordinados. Ninguém ficará feliz com o sucesso do trabalho dela, pois ele será ofuscado pelo horror que ela inspira nas pessoas à sua volta. É exatamente essa a protagonista de A Proposta, no começo do filme; e Miranda Priestly, de O Diabo Veste Prada.
Por outro lado, um homem poderoso e influente como Christian Grey em 50 Tons de Cinza, não é alguém repulsivo. Muito pelo contrário, seu comportamento parece o tornar mais atraente.
Em filmes, quando o noivo abandona a noiva no altar, ele é rotulado de cafajeste, e as cenas seguintes são destinadas a mostrar o sofrimento da mulher em detalhes. E mesmo que a noiva, depois, perdoe o seu parceiro, o público “nunca esquecerá o que ele fez”. Esse foi o caso do Mr. Big, de Sex and the City. Os telespectadores ainda se surpreendem por Carrie ter retomado a relação com ele, e o personagem ainda foi muito julgado.
No entanto, a história é diferente quando a noiva abandona o noivo. Afinal, ela o está fazendo para “ganhar sua independência” ou para “encontrar o verdadeiro amor”. Essa é a história que vimos em Noiva em Fuga. Nesses casos, os personagens dos noivos não costumam ser muito profundos ou podem até ser vilões. Assim, eles não provocam empatia.
Em filmes e séries de TV, com frequência, mulheres bem bonitas são mostradas namorando homens considerados menos atraentes. E aqui não se trata do nosso julgamento de valor (afinal, beleza é subjetiva), mas da impressão geral, que é transmitida frequentemente por cineastas. Por exemplo, a Charlotte de Sex and the City não estava muito interessada em Harry no começo por conta da aparência dele, mas depois se apaixonou por ele.
Porém, as mulheres “comuns” não costumam encantar homens lindos como mágica. Uma exceção é a protagonista do filme O Diário de Bridget Jones. Apesar de todos os seus complexos com aparência, Bridget faz com que dois belos rapazes lutem pelo seu amor.
Em produções cinematográficas e seriados de TV, homens que perseguem a mulher em quem estão interessados parece algo intimidador e problemático. E por um bom motivo: esse personagem, geralmente, não consegue se conter e acaba fazendo coisas terríveis. É o que acontece com o personagem, por exemplo, da série Você.
Mas se uma garota está correndo atrás de um rapaz, a situação é apresentada de forma cômica. Por exemplo, Helga de Ei, Arnold! fez um altar em homenagem ao menino de quem gostava; e Elle Woods, de Legalmente Loira, perseguia seu ex-namorado e o seguiu até a universidade para tentar reconquistá-lo.
Muitas vezes, em filmes, são mostrados pais que não dão atenção suficiente aos filhos ou que simplesmente não conseguem estabelecer uma boa relação com eles. O único problema é que os pais negligentes são geralmente apresentados em comédias, enquanto as mães “avoadas” são personagens de dramas. Um exemplo de uma comédia em que há o modelo de tal pai é o filme O Mentiroso. Nele, o personagem de Jim Carrey consegue perder o aniversário do filho, mas ao longo do enredo, ele muda sua atitude.
Mas mesmo quando a mãe, que não tratou o filho como deveria, muda de atitude no final da comédia, o público nunca irá perdoar o seu comportamento prévio. Kate McCallister, de Esqueceram de Mim, por exemplo, ainda é considerada uma das piores mães do cinema. Muitas pessoas parecem ignorar o fato de que Kevin foi esquecido não só pela mãe, mas também pelo pai.
A imagem da mulher que não trabalha é alguém que decidiu cuidar do lar — algo que não é surpresa para ninguém. Vimos algumas delas em Desperate Housewives. Normalmente, essas mulheres não são julgadas ou ridicularizadas pela sociedade, ao contrário dos homens desempregados que cuidam da casa. Muitas vezes, os próprios homens não parecem estar satisfeitos com a sua situação, o que leva a conflitos.
No filme Um Senhor Estagiário, o marido da protagonista assume os cuidados da filha para que a esposa possa se dedicar à carreira. Por causa disso, o relacionamento deles começa a deteriorar.
Ou, então, outro exemplo. Quando Chandler de Friends ficou desempregado, ele logo começou a reclamar de que não tinha nada para fazer e não sabia como passar seus dias. Eventualmente, sua esposa Monica teve de o ajudar a encontrar um emprego.
Não é incomum ver protagonistas femininas em histórias românticas que mudam de aparência para conquistar os homens. É o caso de Laney em Ela é Demais. Até a garota se transformar na “beleza padrão”, o seu amado não lhe dá nenhuma atenção. Filmes com transformações masculinas são muito mais raros.
Os personagens masculinos em filmes e séries de TV são mais encorajados a buscar reciprocidade de outra maneira: com persistência e paciência. Se o protagonista é um típico cara legal, então ele está convencido de que a garota irá se apaixonar por ele por sua bondade (é isso que acontece com mais frequência). Ao mesmo tempo, tais homens, como regra geral, não são nenhum “Deus grego”, mas buscam estabelecer relacionamento com as mulheres mais atraentes. Um exemplo desse tipo de personagem é o Ross Geller, de Friends.
A maioria dos personagens que jogam videogames são representados por homens. Os papéis femininos para essa atividade aparecem raramente na TV. Nos momentos em que isso ocorre, os diretores costumam adicionar um toque de comédia à cena.
Por exemplo, muitas vezes acontece que as garotas jogam melhor que os rapazes. Penny de Big Bang: A Teoria revela-se muito talentosa para os jogos virtuais — algo que Sheldon não consegue acreditar. E, após alguns episódios, ela até desenvolve vício pelo jogo.
Em filmes e seriados, as vilãs têm menos chances de conseguir o perdão por seus atos maléficos do que os vilões, que fazem coisas similares. As anti-heroínas ou são criadas para serem extremamente cruéis ou recebem pouca atenção e simplesmente não têm a chance de dar a volta por cima.
Esse foi o caso, por exemplo, de Hela em Thor: Ragnarok. Ela só aparece em um filme da franquia e nunca teve uma segunda chance para se redimir. O conflito entre Thor e Loki durou vários filmes, e Thor sempre acabou perdoando o seu irmão.
Kylo Ren, da série de filmes Guerra nas Estrelas, também conseguiu se redimir. Alguns admitem que ele fez coisas imperdoáveis. Porém, muitos justificam as ações do personagem dizendo que ele era apenas um peão nas mãos dos Sith.
Os homens imaturos e infantis são comumente chamados de “meninões”. A irresponsabilidade de tais personagem, geralmente, é retratada de forma negativa. Para os papéis femininos, contudo, tais características podem ser vistas como algo meigo, pois enfatizam a sua inocência e idealismo.
Muitos dos personagens de Zach Galifianakis, incluindo Alan, de Se Beber, Não Case!, são exemplos de caras imaturos. Em contraponto, a personagem de Sophie em Mamma Mia! é ingênua e fofa.
Mesmo que a personagem feminina de um filme de ação não seja inferior aos homens no quesito “força”, há o grande risco de que, com o desenrolar da história, ela passe para o segundo plano — como se tivesse de salvar o mundo ao levar uma vida familiar calma e pacata.
No longa Hancock, há dois personagens com superpoderes: o protagonista e a sua ex-esposa. O próprio Hancock se tornou o “salvador da humanidade”, enquanto Mary preferiu construir uma família com seu novo marido e com seu filho.
E que padrões duplos de julgamento você já notou em filmes ou séries de TV? Comente com a gente!
O que eu gostei nesse artigo foi que, ao contrário do que eu imaginei, não ficam louvando as mulheres e só reclamando de como somos coitadinhas. Fala dos estereótipos negativos em relação a todos, como no caso de homens e mulheres stalkers ou infantis. Realmente, esses estereótipos não perdoam ninguém. Parabéns pelo artigo.
Outro esteriotipo que eu odeio e: O cara mais velho e A mulher mais nova / A mulher mais velha e O cara mais novo.
Nos filmes e assim A mulher mais nova e O cara mais velho se conhecem enfentram preconceitos e acabam juntos. Enquanto no contrario A mulher mais velha e O cara mais novo ficam juntos enfrentam precoceitos e ao final ficam separados, porquê para O cara mais novo ela é só uma aventura e A mulher mais velha é uma mulher na crise de meia idade desesperada para se sentir mais nova e por isso topa o relacionamento.
