Trabalhei 3 anos como caixa de supermercado, e quero falar sobre o lado ruim desse emprego

Gente
há 4 anos

Olá! Meu nome é Taísa e trabalhei 3 anos como caixa de supermercado. Quero contar um pouco da minha experiência e explicar por que, às vezes, o pessoal que trabalha nesses cargos são hostis com os clientes. Quero também falar sobre os produtos de qualidade duvidosa que são vendidos nos supermercados.

Portanto, especialmente para o Incrível.club, decidi compartilhar minhas histórias de quando trabalhava como operadora de caixa. Espero que minhas dicas ajudem a evitar decepções nas suas compras de Natal. Acompanhe!

De um ser humano a um robô — a experiência de trabalhar como caixa de supermercado

Trabalhar como caixa de supermercado foi uma experiência sem sentido e monótona. Repetia mil vezes por dia: “Olá. Você precisa de uma sacola? Obrigada pela compra, volte sempre!”

Era quase impossível esquecer essa frase mágica. E era bom não esquecer, porque a empresa contratava pessoas disfarçadas para monitorar os padrões do serviço. Caso algo estivesse errado, poderia receber uma multa substancial. Além disso, nosso supermercado tinha um problema grave com troco. Noite e dia, pedíamos aos nossos clientes por dinheiro trocado, e quando eles tinham um saco cheio de moedas era uma alegria imensa, como se ganhássemos um presente. Mas ainda assim, alguns clientes ficavam muito irritados quando fazíamos a pergunta: “Você tem dinheiro trocado? Estamos sem troco”.

No primeiro dia de trabalho, fiquei 13 horas seguidas no caixa (com dois intervalos de meia hora). E era nesse regime que todo mundo trabalhava. Minhas costas doíam e meus olhos ardiam por causa da luz do computador e do longo tempo sentada. E ainda, tínhamos que trazer produtos para o caixa e organizar nós mesmos. Um dia, saí do supermercado às 11 horas da manhã, e ignorando todos os sinais de exaustão do meu corpo, fui andando para casa por uns 20 minutos. E não era porque eu não tinha dinheiro para o transporte ou queria economizar, mas minhas costas doíam tanto que eu queria andar um pouco. Os dias em que eu trabalhava repondo produtos nas prateleiras eram muito mais fáceis.

Revistas humilhantes

Todos os dias, quando saíamos da caixa registradora, uma agente de segurança nos revistava. Não podíamos ter nenhum dinheiro, porque todas as carteiras eram colocadas em um cofre antes de começar o trabalho. Nunca tive conflitos com a segurança, essas verificações eram apenas simbólicas: ela apenas passava a mão rapidamente nos ombros e nos quadris. No entanto, nem todo mundo tinha minha sorte.

Uma vez, após a inspeção, uma garota recém-contratada me puxou de lado e perguntou: “Você também foi revistada? Isso é normal?” Comecei a me questionar internamente se isso realmente seria normal e se meus diretos tinham sido violados esse tempo todo, mas ainda assim respondi: “É normal”. E ela me disse que “uma das agentes tinha colocado a mão diretamente no sutiã dela para verificar se ela tinha escondido alguma coisa”. A revista acontecia mesmo depois de a caixa registradora ser contabilizada; e qualquer centavo que faltasse, era pago do nosso próprio bolso.

Organizamos as prateleiras, ficamos no caixa e como resultado, trabalhamos 15 horas

As novas garotas que conseguiam um emprego no nosso supermercado logo iam embora, porque o salário não correspondia às condições estressantes de trabalho. Portanto, precisávamos de funcionários constantemente, e como consequência tínhamos trabalho dobrado. Geralmente apenas 2 ou 3 caixas funcionavam, e os clientes se acumulavam em filas quilométricas, por isso, quase não tínhamos dias de folga. Uma vez trabalhei por treze dias seguidos. Embora as condições a que tinha concordado eram 8 horas de trabalho por 5 dias da semana com 2 dias de folga, o que ocorria realmente eram 4 horas de descanso por dia. Minhas condições financeiras naquela época me obrigavam a me submeter a esse regime de trabalho.

Uma manhã, acordei às 6h completamente exausta, com meus olhos inchados e ardendo devido à luz do computador, e literalmente odiando tudo ao meu redor; então liguei para o meu emprego e disse que não ia trabalhar mais. No meio do dia, o gerente me chamou lá, e me convenceu a ficar e prometeu cumprir às 8 horas de trabalho. Voltei, trabalhei por alguns meses, mas quando menos esperava estava trabalhando 15 horas novamente, então pedi demissão de novo.

Alguns segredos dos supermercados

Logo após começar a trabalhar em um supermercado, concluí que eles têm suas próprias ideias e concepções do que é um produto fresco.

  • Às vezes, as mercadorias vinham “do futuro”, por exemplo, o iogurte ou leite chegam nas prateleiras com datas de fabricação totalmente equivocadas, como se tivessem acabado de sair da fábrica. Então quando o produto chegava à loja, era como se estivesse “fresco”. As mercadorias que tinham datas de validade para o dia de hoje ou para o dia seguinte eram armazenadas no estoque — menos o sorvete, pois pouquíssimas pessoas olham a validade dele — então geralmente misturavam os produtos novos com os antigos e colocavam todos em promoção. Já houve casos também em que a data estava totalmente errada e o produto mostrava a data de fabricação como sendo no ano seguinte.
  • Se você preza pela sua saúde, não compre mercadorias em peso. Geralmente, elas foram derrubadas ou pisadas. E se a higiene do local for ruim, baratas, ratos e até pássaros podem ter tocado nesses produtos. É claro que os biscoitos que caíram vão ser recolocados para vender. Portanto, ninguém vai colocar os doces e biscoitos novos em cima; eles serão jogados e misturados. Por isso, entre os produtos frescos, pode ter muita coisa velha.
  • Ao comprar copos no supermercado, é melhor lavá-los com água fervente. Alguns funcionários sem educação podem pegá-los, usá-los e depois colocar de volta nas prateleiras como se nada tivesse acontecido. Talvez seja um caso raro, mas presenciei pessoalmente uma situação desse tipo. Um funcionário pegava vários copos para almoçar (cada vez um diferente), até que o gerente o ameaçou dizendo que: “se usar novamente, terá que comprar o copo”.
  • Se você acha que o caixa não lhe deu o troco corretamente, pode pedir para ele recontar. Se tiver faltando dinheiro, eles darão a diferença. No entanto, isso só é possível antes do fim do turno, porque em seguida, o caixa será fechado e entregue ao gerente e você não poderá pegar a diferença.
  • Os primeiros funcionários que chegam costumam colocar as mercadorias danificadas em lugares para serem vistas porque precisam ser vendidas o mais rápido possível: uma garrafa com a tampa entreaberta, um pacote rasgado, ou biscoitos amassados. Se uma embalagem estiver entreaberta, ela pode ser selada cuidadosamente com uma fita adesiva e colocada junto com os produtos no congelador novamente. No entanto, após a despressurização, sua vida útil é inferior a um mês. E tenho certeza de que muitas pessoas sabem que as mercadorias estão em constante movimento: produtos frescos ficam atrás e os antigos na frente.
  • Nós pagamos pelo ar. Os fabricantes usam essa estratégia que permite vender mais mercadorias: enchem a embalagem de ar para fazê-la parecer mais volumosa. Embora não haja uma propaganda enganosa aqui, porque o peso do produto está indicado na mercadoria. Sempre escolhemos embalagens que parecem maior.

  • Não leve uma mercadoria com uma data borrada: talvez ela tenha sido violada. Embora os produtos vencidos sejam enviados de volta ao depósito para descarte, às vezes, alguns são devolvidos com novas datas de validade.

  • É melhor não comprar queijo fatiado e embalado no supermercado. O processo de higienização usado no ato de cortar o queijo é bem falho; as tábuas e facas usadas não são lavadas corretamente por anos, e isso diminui a vida útil do produto em 5 a 6 vezes. Quando cortado, a data de validade do queijo é de apenas 7/10 dias. Se você quiser comprar um produto realmente novo, junte-se com seus amigos e comprem uma peça inteira para dividir.

  • Na fila do caixa, não apenas crianças, mas também adultos pegam chocolates e biscoitos. E os profissionais do marketing estão cientes disso, porque é intrínseco ao ser humano. Pensando nisso, as mercadorias colocadas perto dos caixas geralmente são obsoletas. Quando pegamos esses produtos, geralmente fazemos uma compra espontânea e nem lembramos de verificar a data de validade.

  • É preciso cuidado ao comprar produtos cortados no supermercado, como frutas, verduras e saladas: muitos funcionários não seguem as regras da vigilância sanitária por ser mais rápido e mais barato, como também, muitos nem sequer limpam as mãos antes de cortar as mercadorias. Portanto, atenção. Ao visitar seu supermercado favorito da próxima vez, fique atento em como eles fazem esses processos.

Trabalhar em um supermercado é um trabalho ingrato, monótono e mal remunerado. Enquanto minhas horas extras não foram pagas, várias vezes meu salário foi reduzido por falta de dinheiro. Mas, por incrível que pareça, esse trabalho foi relativamente útil para mim: pela primeira vez aprendi a responder a pessoas grossas e a me defender. Portanto, se você é uma pessoa tímida, sofre de insegurança excessiva e permanece em silêncio quando é insultado, bem-vinda ao trabalho no comércio. Certamente, dentro de poucos meses não haverá mais vestígios da sua timidez.

Você já passou por alguma situação parecida em algum supermercado? Conte para a gente na seção de comentários.

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É a mais pura verdade. Trabalhei como operadora de caixa em um supermercado por 1 ano e meio e as coisas são exatamente assim. Muitas vezes lidei com clientes grosseiros por causa de troco, já vi colegas passarem por revistas um tanto constrangedoras e até algumas perderem parte do salário por conta de troco dado errado. É um trabalho ingrato mas ajuda a ter autonomia e saber se impôr.

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