Pais abrem restaurante pensando no bem-estar do filho autista e transformam negócio em símbolo de inclusão

Crianças
há 1 ano

Levar informação à sociedade e criar espaços acolhedores para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é a chave para acabar com preconceitos. Diversas famílias necessitam de espaços inclusivos para pessoas neuroatípicas, comumente excluídas socialmente. Hoje, trazemos a história do pai que, movido por amor pelo filho, transformou a conscientização do TEA em sua missão de vida, dedicando seu negócio a melhorar a qualidade de vida de tantas pessoas. Confira!

Dia Mundial de Conscientização do Autismo é celebrado em 2 de abril como uma iniciativa para conscientização acerca do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Apresentando diferentes graus, do leve ao grave, o TEA é um transtorno que envolve atrasos no desenvolvimento e sociabilidade de diversos tipos. Pensando no bem-estar de seu filho, Enzo, diagnosticado com TEA, Vinícius e Kelli Longaray adaptaram seu restaurante para famílias com crianças neuroatípicas.

O restaurante Espetinho do Vini se tornou um símbolo de iniciativa pela conscientização acerca do TEA, e conta com fones infantis abafadores de som para crianças com sensibilidade ao som, brinquedos sensoriais, mesas dentro da área kids para que os pais possam ficar perto dos filhos, cadeiras especiais, e um cardápio que pode ser montado conforme o paladar da criança, pensado para atender a seletividade alimentar que tantas crianças com TEA apresentam.

Um prato só com arroz e batata palha do cardápio kids, por exemplo, sai por menos de R$ 5,00. Nossa equipe conversou com Vinícius e ele nos contou como o diagnóstico de seu filho trouxe um novo propósito para sua vida. Confira a entrevista abaixo!

1 — Você e sua esposa não são pessoas neuroatípicas, mas seu filho é. Como foi o processo e os aprendizados de ter um filho diagnosticado com TEA?

Eu e Kelli não somos diagnosticados com autismo e também não temos ninguém na família diagnosticado. Eu tenho uma personalidade muito hiperativa, eu não consigo ficar parado. O TDAH no Enzo é muito forte e talvez eu também tenha TDAH. Quando descobrimos que o Enzo era portador do TEA, fomos buscar informação. Aprendemos lendo muitos livros, pesquisando na internet, fomos buscando cada vez mais conhecimento sobre o assunto para poder ajudar o Enzo.

2 — Quais os desafios relacionados ao TEA vocês enfrentam e como isso impactou na hora de decidir tornar o restaurante inclusivo para famílias com filhos com TEA?

Baseado nas nossas experiências com o Enzo e pesquisando sobre o assunto. Antes era muito difícil sairmos para um shopping, para um restaurante, coisas do cotidiano devido à seletividade alimentar do Enzo. Ele é sensível ao barulho também, então não conseguíamos ir com ele em muitos lugares e isso foi ficando cada vez mais difícil e incomodando mais, porque não tínhamos um lugar adequado para ir ou as informações básicas sobre o autismo.

Lugares muito barulhentos, com música muito alta, incomodavam muito o Enzo. E isso foi piorando cada vez mais. Para nós, isso é bem comum hoje e muitas famílias passam por isso. Então, baseado nas nossas experiências negativas, decidimos transformar o nosso restaurante para crianças atípicas.

3 — E como foi o processo de adaptar o restaurante?

Passamos 3 meses pensando e planejando nosso negócio, fazendo pesquisas. Eu tive uma virada de chave quando uma mãe de uma criança com TEA veio aqui, fotografou o filho dela e nos elogiou na internet. Foi aí que entendi o propósito do nosso filho ter autismo e foi onde nós começamos a adaptar esses pequenos detalhes. Entendíamos que isso faria grande diferença lá na frente para ter um atendimento inclusivo, para essas famílias se sentirem acolhidas através do nosso negócio.

4 — Para vocês que são pais de uma criança com TEA, como foi perceber o impacto positivo que tiveram em outras famílias que também lidam com as questões relacionadas ao TEA?

Eu sou vice-presidente da Associação Autista Guaibense, então nós conversamos muito com famílias sobre isso. Nós viralizamos na internet, muitas páginas compartilharam o nosso restaurante e acredito que isso foi motivando outras pessoas a fazerem o mesmo com seus negócios. Eu acho que toda informação que levarmos sobre o autismo poderá ser adaptada em outras empresas. Aqui na cidade, o pessoal aprovou muito a ideia, temos muitas famílias atípicas que vem aqui.

5 — O restaurante de vocês se tornou um local de acolhimento para diversas famílias na sua região e mostrou o quanto a sociedade carece de espaços inclusivos para pessoas neuroatípicas. O que vocês acham que outros estabelecimentos e a sociedade de modo geral poderiam fazer para facilitar a vida de famílias que lidam com o TEA?

Em primeiro lugar, eu acredito que para tornar um espaço inclusivo os empresários e proprietários precisam ter informações básicas sobre o autismo ou qualquer outro transtorno que possa ajudá-los a acolher as pessoas. E tem muito preconceito sobre vários assuntos, sobre o autismo e outros transtornos, só que, levando informação, vamos conseguindo quebrar esse preconceito.

As pessoas são preconceituosas porque não têm informação sobre o assunto, então nós, como proprietários, também levamos a informação sobre o TEA para pessoas que nunca ouviram falar. O assunto na roda de conversa nas mesas muitas vezes é o autismo, então começamos a conversar com famílias típicas sobre o assunto e elas descobrem várias coisas.

Temos adesivos em cima das mesas com informações básicas sobre o TEA, então o assunto autismo aqui no Espetinho do Vini é bem comum. Aqui, conseguimos ajudar essas pessoas a conhecerem um pouco mais sobre o assunto e lentamente ir quebrando certos preconceitos. Não que as pessoas que vêm aqui sejam preconceituosas, mas conseguimos levar essas informações básicas que muitas vezes elas não têm e não procuram.

Eu acho que a primeira coisa que precisamos ter é empatia. Tendo empatia pelo próximo, conseguimos quebrar vários tabus e entender essas famílias atípicas.

6 — O que vocês diriam para os pais de crianças que acabaram de receber o diagnóstico de TEA?

O primeiro passo que eu aconselho é estudar sobre o assunto. Passamos pelo momento de luto, mas o primeiro passo é estudar, entender um pouco mais, buscar conhecimento e, se não tiver uma rede de apoio, família, procure algum grupo, alguma associação, alguém que te abrace para te ajudar porque no início realmente é difícil, mas também não é um bicho de sete cabeças. Vamos pegando o jeito, buscando informação e depois isso se torna normal em nossas vidas.

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