“A única coisa que não posso é amamentar”, Bruno deixou o trabalho para cuidar dos filhos e nos mostra a nova versão de pais dessa geração

Crianças
há 1 ano

Cuidar de filhos não é uma tarefa fácil. É preciso ter dedicação, tempo livre, paciência e muita parceria entre um casal. Sim, entre um casal. Pois se foi o tempo em que as obrigações da rotina eram consideradas funções somente das mulheres, não é mesmo? Cada vez mais, portanto, os papais parecem estar dispostos a cumprir esse papel da mesma forma que as mães, tanto antes, como depois do parto.

Para ilustrar como é possível os homens mergulharem na paternidade e apoiarem suas companheiras na divisão das tarefas domésticas, nós, do Incrível.club, trouxemos o relato de Bruno Campanella, que está em tempo integral na vida de seus dois filhos. Confira só e se inspire conosco!

A criação dos homens e como isso impactou o futuro de Bruno enquanto pai

Assim como boa parte da criação dos garotos de pais de gerações anteriores, com Bruno não foi diferente: ele cresceu ouvindo frases com que muitos meninos estão acostumados, como: “Aquele cara está jogando futebol como uma menina” ou “engole o choro, rapaz”. Algo que é incabível. Hoje, temos artilheiras como a atacante brasileira Marta Silva, que provam que o demérito é inadequado — ela, inclusive, foi eleita diversas vezes a Melhor Jogadora do Mundo pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), e não à toa, certo?

Como podemos observar, a expressão tem um impacto muito grande, e à longo prazo, pois há chances de reprimir as emoções de uma criança no momento da fala e, inclusive, afetar as relações do homem com um filho, como evidencia Bruno: “Nós garotos fomos criados para não demonstrar sentimentos. E o problema já começa por aí. É uma herança que está enraizada, demora para mudar, mas há uma nova geração de pais que está preocupada com o afeto e a presença”.

Bruno teve de enfrentar piadas ao comentar com amigos sobre o parto

Mesmo após crescer numa época com costumes diferentes, o engenheiro Bruno percebeu que algo estava errado. Teve força de vontade e acesso à informação. E com isso, conheceu com mais profundidade a paternidade, despertando ainda mais o desejo de ser pai. “Eu era o primo mais velho que gostava de ajudar as outras crianças”, lembrou com um tom de nostalgia ao recordar do seu passado.

Bruno disse que foi o primeiro a se tornar pai do círculo de amigos dele. E quando ele se sentiu à vontade para falar sobre como foi o parto entre eles, surgiram piadinhas, refletindo o que fora comentado no começo do texto: “Lembro de falar com meus amigos como foi a experiência do parto, mas, logo em seguida, um deles ficou surpreso por eu, homem, ter me incluído nesse processo”, pontuou.

Com o objetivo de romper esse círculo vicioso de criação, o rapaz se inspirou na esposa Gabriela Campanella, que sempre escreveu e estudou bastante sobre maternidade. Ele sentiu a necessidade de se informar e compartilhar com seus amigos, familiares e o mundo sobre o quão importante é um pai presente em todos os momentos. “A única coisa que não posso é amamentar. O resto é divisão de tarefas”, esclareceu.

Com muita informação, Bruno e Gabriela decidiram de última hora por um parto humanizado

Ele lembrou que no colégio todos o chamavam de Campa — um apelido de seu sobrenome Campanella. E surgiu a ideia da criação do perfil nas redes sociais da nova versão de Bruno — Campapai, que se estendeu à mãe Campamãe. Na apresentação do perfil dele, vem logo o aviso: “Sou um pai normal, mas em tempo integral”.

O primeiro filho de Bruno, o Benjamim, chegou quando ele tinha 28 anos. Já Serena, sua filha mais nova, veio ao mundo no auge dos seus 30 anos. Desde então, ele segue rompendo barreiras compartilhando o dia a dia com seus filhos de forma integral. “Com muito apoio da minha esposa, quem sempre trazia assuntos sobre parto, principalmente para o nosso ambiente, eu conseguia entender melhor sobre o assunto e de que maneira poderia apoiá-la nessa etapa”, recordou.

De última hora, ao perceberem que a equipe médica os conduzia para um parto cesária de seu primeiro filho, eles conseguiram trocar de profissionais e realizaram o tão desejado parto humanizado. O apoio de Bruno sobre a decisão de Gabriela para ter um parto humanizado sempre esteve presente, mesmo batendo um certo receio sobre como seria vivenciar tudo isso.

“Sempre fui aquele cara que para tirar sangue ficava tonto, mas, na hora, deu tudo certo, recebi meu filho e o levei ao colo de minha esposa. Logo em seguida, fui lavar minhas mãos sujas de sangue com medo de desmaiar”, gargalhou ao lembrar da cena e se orgulhar de sua esposa por todo o esforço durante o parto cansativo e desafiador.

O diálogo foi outra ferramenta necessária para que o casal se entendesse no pós-parto

Na maioria das vezes, muitos casais se esquecem de se informar sobre o pós-parto. Importante, principalmente para o homem poder apoiar sua companheira da melhor maneira nas horas mais difíceis. “Não tínhamos ideia do que seria isso. Minha esposa não sabia dizer o que estava sentido. Chorava escondida. Eu estava dedicado a organizar tudo o que se relacionava à casa, com o bebê, mas percebi em um certo momento que eu não estava presente para a Gabi”, refletiu.

A mãe estava do lado do telefone enquanto conversávamos com Bruno. E, claro, a convidamos para falar como ela se sentia. “Quando uma mulher chegar no seu puerpério, ela não vai conseguir resolver coisas práticas. Muitos hormônios envolvidos, desafio com amamentação, privação de sono, me sentia muito sozinha. Eu não conseguia associar aquilo tudo que estava sentido. O puerpério caminha com a insegurança”, desabafou.

Durante esse período, Bruno percebeu que trocar de carro e sair em família logo nos primeiros dias não eram o mais importante. “Somos um casal muito parceiro, estamos juntos desde os 15 anos de idade, sem interrupções. E isso facilitou muito um diálogo entre nós. A entender o puerpério e mudar os caminhos”, disse.

Toda essa experiência trouxe a eles muito aprendizado. “Temos de aprender a pedir e a direcionar ajuda, principalmente para familiares e amigos”, ressaltou o pai. Eles sugerem que o ideal para um casal é saber criar uma lista de desejos como esta abaixo:

  • Pedir ajuda para que alguém possa limpar a casa;
  • Segurar o filho enquanto os pais tomam um banho ou tiram um cochilo;
  • Saber dizer não a possíveis visitas devido ao cansaço;
  • Levar comida pronta em vez de cozinhar na casa do recém-nascido.

Bruno deixou o trabalho para cuidar em tempo integral de seus filhos

Bruno esteve presente em todas as fases da gestação: foi a todas as consultas, participou do parto, viveu o pós-parto e cumpre com primor sua obrigação de ser um pai participativo. Com direito a apenas cinco dias de licença-paternidade, ele conseguiu emendar com mais 20 dias de suas férias para apoiar no pós-parto.

Logo veio uma oferta do trabalho. A empresa queria transferi-lo para outro estado. Mas entre o trabalho e a família, Bruno optou pela presença dentro de casa. E se dedicou por dois anos em tempo integral exercendo a paternidade. Gabriela pontuou que o que ajudou muito foi a própria dinâmica criada por eles. “Era fundamental colocar as crianças na cama cedo. Parece bobo e simples, mas é o tempo que temos como um casal e como indivíduos”, explicou.

Para Gabriela, é importante olhar com carinho para a própria rotina e não esperar momentos grandiosos para desfrutar. “Falam bastante no famoso e primeiro vale-night, mas isso será raro nos primeiros anos de vida de uma criança. Aproveitar o tempo com seu parceiro assistindo a uma série, cozinhar algo juntos ou até mesmo cada um fazer o que gosta, como ler um livro, é fundamental”, detalhou Campamãe.

Ele concorda com sua companheira e afirma que um dos maiores desafios é o pai enxergar a paternidade nas coisas simples do dia a dia. “Para você ser pai, não é necessário fazer o passeio mais legal. No auge da rotina pode bater o cansaço e está tudo bem. A criança vai ter uma memória mais forte de todo o carinho e cuidado, não do dia do aniversário ou do melhor presente que ganhou”, comentou.

Para auxiliar na rotina, o papai recorre ao lúdico para que as crianças cumpram suas tarefas

Levar a rotina de escovar os dentes, dar banho e a hora da comida para o lúdico tem funcionado com as crianças na casa deles, segundo Bruno. Esse dia a dia do pai presente inspirou o casal a lançar o livro “Pai de outro planeta”, pela Much Editora. Ele levou os astronautas, cores e formas para o exemplar. Já Gabriela deu o toque da afetividade nas conversas dos personagens.

Um dos métodos utilizados por Bruno para convencer sua filha a ir à escola sem chorar ou ficar triste, por exemplo, foi cantar uma música criada por eles. “Sempre usei essa estratégia de cantar e deixá-los completar a frase”, contou. Clique aqui e assista. Questionados sobre a efetividade de compartilhar a rotina deles, o papai acredita que todos esses conselhos podem ajudar a estourar a bolha e fazer com que mais pais estejam preocupados com a presença no cotidiano dos filhos.

E a mamãe avalia que, por falta de incentivo, muitos pais têm vergonha de pedir ajuda. “Tanto o pai quanto a mãe devem buscar informação com seu próprio filtro. É importante a gente saber que a amamentação é melhor que a fórmula. Mas, às vezes, na sua dinâmica, na sua realidade, não vai funcionar. É importante passar pelo nosso filtro para se livrar da culpa. A culpa vem muito ligada à comparação”, recomenda.

Como é a rotina da sua família com as crianças? Você preza pela participação do pai na criação? Deixe seu relato, adoraríamos ler, e, se possível, compartilhe uma foto do paizão nos comentários!

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