Conheça a história inspiradora de Louis Braille, o criador do alfabeto para cegos

Curiosidades
há 1 ano

O braille é um sistema reconhecido de leitura e escrita para pessoas cegas. No entanto, a história do homem que o projetou e lhe deu o nome não foi tão difundida. Louis Braille perdeu a visão quando era criança e, ainda adolescente, inventou um alfabeto tátil que é usado até hoje, em todas as partes do planeta.

210 anos após o seu nascimento, o Incrível.club quer compartilhar com você a história deste pedagogo francês, que ajudou os cegos a terem o mundo na ponta dos dedos. No final, você encontrará um bônus com fatos pouco conhecidos sobre a vida e o legado dele.

Um acidente o deixou cego aos cinco anos

Louis Braille nasceu em 1809, em Coupvray (cidade a 30 km de Paris), sendo o mais novo de quatro irmãos de uma família muito humilde. Aos três anos sofreu um acidente que o fez perder a visão: ele pegou uma faca de sapateiro (usada para cortar couro) e, querendo imitar seu pai seleiro, feriu-se no olho direito.

A inflamação também danificou o globo ocular esquerdo e, aos cinco anos, ele já estava totalmente cego. A cegueira em idade tão precoce também teve consequências em sua mobilidade facial, já que a expressividade ocorre como um efeito natural de imitar outras pessoas.

Aprendeu a ler com o pai e continuou os estudos

Longe de se resignar, o pai de Louis, Simón René, aproveitou-se de seu ofício e ensinou o filho a ler usando tachas sobre couro e madeira, que, com o seu relevo, formavam os desenhos das letras. O garoto também transferiu essa predisposição para adquirir conhecimento na escola e, incapaz de ler ou escrever tudo o que lhe ensinavam, teve que aprender exclusivamente através da transmissão oral.

Essa força diante da adversidade permitiu-lhe ganhar uma bolsa de estudos para continuar seus estudos no Instituto Nacional para Jovens Cegos, em Paris, onde se destacou em temas tão diversos como história, álgebra e música. Lá, os alunos liam pelo sistema de Valentin Haüy, que consistia em passar as pontas dos dedos sobre as letras do alfabeto latino gravadas em tamanho grande em folhas grossas de papel.

A inspiração veio de um sistema militar para escrever mensagens criptografadas

O sistema de Haüy tinha dois problemas: a leitura era lenta e as letras em relevo nem sempre eram compreensíveis ao toque. Por isso, Braille começou a pensar em criar seu próprio sistema de leitura e escrita para pessoas com deficiência visual, que ele acabou de desenvolver em 1825, quando tinha 16 anos.

A inspiração veio de Charles Barbier de la Serre, um militar que desenvolveu um código chamado “escrita noturna”, projetado para que os oficiais do exército pudessem escrever mensagens criptografadas e decifrá-las com os dedos. Este alfabeto substituiu as letras tradicionais por pontos gravados que representavam diferentes fonemas, de acordo com a quantidade e localização.

Seu alfabeto passou da recusa a ser usado oficialmente

Braille aperfeiçoou o sistema Barbier: reduziu o número máximo de pontos de 12 para 6, o que se adapta muito melhor ao tamanho da ponta do dedo para agilizar a leitura, e fez com que cada combinação representasse um caractere, incluindo a notação musical, em vez de um fonema, o que facilita sua compreensão.

A princípio, a ideia gerou uma oposição entre os professores do Instituto Nacional para Jovens Cegos, alegando que, ao não usar as letras tradicionais do alfabeto, causava isolamento. Apesar disso, o sistema sobreviveu, primeiro na clandestinidade, e depois oficialmente em 1853, um ano após a morte de Braille. Desde então, é usado em cartazes, no transporte e outros locais públicos para permitir a inclusão de 1,3 bilhão de pessoas que vivem com algum tipo de deficiência visual.

O braille é universal e se adapta aos diferentes idiomas

O braille tem como base seis pontos que são organizados em duas linhas paralelas de três pontos cada. No total, existem 64 combinações que representam as diferentes letras, números, sinais de pontuação, notas musicais e símbolos matemáticos, de acordo com os pontos que estão em relevo e quais não estão. Por sua vez, existem combinações de pontos especiais que convertem o próximo símbolo em letra maiúscula, itálico, número ou nota musical.

Tem a vantagem de ser um alfabeto universal. As combinações de pontos mudam de significado, de acordo com a linguagem. Por exemplo, o braille espanhol tem como base o francês, então a letra Ñ (inexistente nesse idioma) é representada pela vogal Ï (inexistente em espanhol). Ele também se adapta a idiomas que não usam o alfabeto latino, como o grego, o chinês, o hebraico, o árabe e o russo.

Dados poucos conhecidos sobre Louis Braille

  • Em 1829 ele inventou um sistema de notação musical de seis pontos (Braille de Signos Musicais ou “Musicografia”), e publicou seu primeiro livro em Braille, Método para escrever palavras simples, música e canções usando pontos, para uso de cegos e especialmente projetado para eles.
  • Junto com seu amigo Pierre Foucault, que ficou cego aos seis anos de idade e era um gênio da mecânica, criou uma máquina para acelerar o sistema de impressão em braille.
  • Durante muitos anos ele tocou órgão na igreja Saint-Nicolas-des-Champs, em Paris.

  • Em 1952, um século após sua morte, os restos mortais de Braille foram enterrados no Panteão de Paris, ao lado de grandes personalidades da história francesa, como Voltaire, Jean-Jacques Rousseau, Victor Hugo, Émile Zola, Marie Curie e Alejandro Dumas, entre outras.

  • Um asteroide descoberto em 1992 foi batizado em sua homenagem.
  • A Bélgica e a Itália emitiram moedas comemorativas de 2 euros, em 2009, para celebrar o 200º aniversário de seu nascimento.
  • Em novembro de 2018, a Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu proclamar o dia 4 de janeiro como o Dia Mundial do Braille, com o objetivo de dar visibilidade ao fato de que “facilitar o acesso à escrita é um requisito crucial para que as pessoas com deficiência visual possam desfrutar plenamente dos direitos humanos e das liberdades fundamentais”.

O túmulo de Braille no Panteão de Paris.

Você conhecia a história de Louis Braille? Quais elementos da vida cotidiana que usam esse sistema você conhece? Notou um aumento no uso de braille em lugares públicos? Conte-nos na seção de comentários.

Imagem de capa sixes & sevens, jasonpearce

Comentários

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Eu vejo um pouco de acessibilidade em áreas públicas mas eu sei q ainda precisa melhorar MUITO

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