19 Fatos sobre a vida na Idade Média que o ajudarão a olhar a história de uma maneira diferente
Muito se sabe sobre a vida na Idade Média, cujo período cai sobre os séculos IV a XV. Cruzadas, guerras pelo trono, peste negra — tudo isso é explicado por inúmeras fontes sejam de livros ou documentários. Em contraponto, sabemos muito menos sobre a vida privada das pessoas que viviam naquela época. Um exemplo disso eram os duelos conjugais, nos quais o marido e a mulher lutavam para resolver algum problema familiar.
O Incrível.club decidiu preencher essa lacuna de conhecimento e descobrir como realmente era a vida das pessoas que nasceram na Europa naquela época.
- Não havia palavras ou frases especiais para fazer um pedido de casamento. O consentimento era dado pela mulher quando ela aceitava um presente, que em inglês se chamava wed: podia ser qualquer coisa, mas, na maioria das vezes, dava-se um anel. Se a mulher aceitasse esse presente do homem, o casamento era considerado oficial.
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O divórcio como o conhecemos hoje também não existia. A única maneira de terminar uma relação com um marido ou esposa era declarar o casamento como ilegal. A razão para isso poderia ser a descoberta súbita de parentesco entre os dois ou o fato de que um dos cônjuges não era cristão. Além disso, também era possível acabar com a união se descobrisse que uma das pessoas estava se casando pela segunda vez, o que, dadas as regras de “matrimônio” daqueles tempos, não era algo difícil de se fazer.
- Para criar uma família na Idade Média, as pessoas que não tinham sangue real não precisavam de cerimônias oficiais: para se tornarem esposo e esposa, um homem e uma mulher apenas davam consentimento verbal um ao outro. Na Inglaterra medieval, alguns dos futuros casais se “casavam” às portas da igreja para dar mais espiritualidade ao relacionamento e ter a benção de Deus. Mesmo depois que o Concílio de Trento (1545-1563) entrou vigor, o qual indicava que a presença de um sacerdote para o matrimônio era necessária, essa regra não era respeitada por todos.
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Até 1215, havia uma lei que estipulava que um homem e uma mulher com algum antepassado em comum, mesmo que distante, eram considerados parentes e não podiam se casar. No entanto, como muitas vezes era impossível rastrear a descendência de muitos anos, o Quarto Concílio de Latrão permitiu àqueles que não tinham parentesco além do tataravô de se casarem. Entretanto, as uniões monárquicas, onde os matrimônios eram condicionados por interesses do estado, não se aplicavam a essa regra. Prova disso é a dinastia Habsburgo, cujos representantes tinham doenças físicas e mentais devido a casamentos entre parentes.
Charles II da Espanha, membro da dinastia Habsburgo e dono da notória mandíbula de Habsburgo, a qual era nada menos que um defeito físico causado por relacionamento entre parentes.
- Curiosamente, até o final do século XIV, não existia o conceito de “viúvo” na língua inglesa, assim como em outras línguas. A palavra “viúva”, no entanto, aparecia frequentemente em uma série de documentos históricos. Isto deve-se ao fato de que, ao contrário de uma mulher sem marido, um homem que perdeu a mulher ainda poderia entrar em outro casamento. Enquanto a viúva, pelo contrário, não poderia ter o mesmo privilégio dentro de um ano. O motivo de tal injustiça se devia a uma lei que permitia todas as crianças nascidas dentro de um ano após a morte do marido, de terem direito à herança do pai.
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Na Idade Média, havia um termo conhecido como “consumação do matrimônio”, cuja ausência também poderia ser um motivo para anular a relação conjugal. Podemos citar a famosa história de Ingeborg, filha do rei dinamarquês Waldemar I, que casou com o rei Filipe II da França. Quando o acordo matrimonial foi alcançado, essa união já não era mais necessária. Portanto, no dia seguinte ao do casamento, Filipe II decidiu expulsar a nova rainha sem se deitar no leito matrimonial, ou seja, sem consumar de fato o casamento. Ela se recusou de deixar a França, que já considerava sua casa, e foi mantida presa no castelo, onde foi submetida a várias humilhações durante 20 anos.
Casamento de Ingeborg e Filipe II
- No final do século XIV, um certo comerciante parisiense (acredita-se) escreveu um livro chamado The Goodman of Paris, o qual era narrado na voz de um senhor idoso que dava conselhos a sua futura jovem esposa. Entre outras coisas, dizia-se que a mulher devia honrar seu marido, amá-lo, sempre ter lingerie limpa e pronta, ser capaz de cozinhar e escolher os alimentos e cuidar da casa. Tudo isso para que o marido tivesse vontade de voltar para casa e não olhar para outras mulheres.
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No poema Piers Plowman, escrito por William Langland no século XIV, há linhas que dizem que apenas 3 coisas podem afastar um homem da casa da família e, talvez até, atraí-lo para os braços de outra mulher: telhado com buracos, fogo flamejante e uma esposa inflexível, a qual não foi punida, e sua língua vai acabar afastando o marido de casa.
- Na Alemanha, havia um costume das chamadas lutas matrimoniais para resolver as diferenças entre marido e mulher. Eles usavam roupas especiais bem apertadas, mas a mulher tinha uma vantagem: colocava-se o homem em um buraco, uma de suas mãos era amarrada nas costas e davam-lhe 3 bastões de madeira. As esposas, ao mesmo tempo, podiam se mover livremente e os enfrentavam com um saco de pedras.
Duelo matrimonial destinado a resolver um problema entre os cônjuges
- Infelizmente, a violência doméstica não era incomum. Além disso, o que é completamente inaceitável para a sociedade moderna era perfeitamente admissível para a sociedade medieval. Em 1325, um parisiense, Colin Le Barbier, foi condenado por matar sua esposa e, logo depois, absolvido. No julgamento, o marido disse que acidentalmente bateu na esposa com um taco de bilhar que a atingiu na perna, e ela morreu não por causa do golpe, mas por não tratar da ferida. Além disso, durante o julgamento, ele declarou que queria dar uma lição à mulher, depois que ela o humilhou em público.
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Ao contrário da crença popular, a caça às bruxas é um fenômeno da Nova Era, não da Idade Média. O famoso livro O Martelo das Bruxas, escrito em 1486-1487 pelo inquisidor Heinrich Kramer da cidade alemã de Ravensburg, foi uma tentativa de provar a existência de bruxas, que era negado pela Igreja Católica. A razão para escrever esse livro foi o ressentimento de Kramer contra o Bispo de Innsbruck, que absolvia mulheres acusadas de bruxaria pelo inquisidor. Além disso, o bispo ofereceu a Kramer que deixasse a cidade para sempre, e mais tarde o próprio inquisidor foi condenado por seus colegas por seus procedimentos não ortodoxos e métodos inaceitáveis de investigação.
“Execução das bruxas”, miniatura do final do século XV
- Os distúrbios mentais eram considerados pelos médicos medievais como uma consequência do desequilíbrio no corpo de 4 fluidos básicos: linfa, bile amarela, sangue e bile preta. A teoria dos fluidos foi proposta por Hipócrates e desenvolvida por Galeno de Pérgamo, que associou seus efeitos com os tipos de temperamento conhecidos atualmente. De acordo com essa hipótese, a predominância da linfa tornava o homem fleumático, a bile amarela — colérico, sangue — sanguíneo e a bile negra — melancólico. A restauração do equilíbrio, portanto, era considerada a chave para curar a doença mental e, por isso, os médicos usavam diuréticos e remédios para regurgitação, assim como para o fluxo sanguíneo.
- “Medicamentos” na Idade Média eram por vezes estranhos, mas por vezes bastante eficazes. Atualmente, um grupo de alunos testou a receita inglesa medieval para o tratamento do terçol, para a qual usava-se cebola, alho, vinho e bile de touro. Tudo tinha que ser misturado, descansar por 9 dias em uma tigela de cobre, e então coava-se a mistura. À noite, então, passava-se esse “creme” na região afetada usando uma pena. A substância se revelou tão eficaz que está agora sendo estudada para que se encontre formas de combater uma das variedades do Staphylococcus aureus, que é resistente a antibióticos.
Na Idade Média, os médicos estavam confiantes de que doenças podiam ser diagnosticadas através da observação da urina e de outros fluidos corporais.
- A palavra moderna “guarda-roupa” significa literalmente “guardar a roupa”, mas não foi inventada por acaso. Nos castelos, a área de guardar roupas ficava ao lado do banheiro porque se pensava que os vapores de amônia matavam os insetos indesejáveis que poderiam se instalar nas vestimentas.
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Há uma teoria de que as peles e até mesmo os animais com os quais as mulheres eram retratadas nas imagens da era medieval, eram geralmente usados para capturar pulgas. Esses insetos não só propagavam doenças perigosas como a peste, mas também mordiam. Tornou-se moda entre as damas da corte de decorar suas roupas com peles de animais, que se acreditava livrá-las das pulgas. Algumas mulheres, aliás, preferiam um “capturador vivo” de pulgas. De acordo com uma versão, o animal na pintura Dama com Arminho de Da Vinci, pintada no final da Idade Média, é apenas um exemplo de tal “criação de animais”.
Dama com Arminho, Leonardo da Vinci (1489–1490)
- No final da Idade Média, surgiu uma lei na Inglaterra, segundo a qual as pessoas eram punidas (na maioria das vezes as mulheres) por brigarem com seus vizinhos, violando a ordem pública. Previa-se uma punição bastante incomum: o agressor era colocado em uma poltrona especial, que era elevada sobre um reservatório de água com a ajuda de suportes de madeira. A cadeira era, então, afundada na água várias vezes para “resfriar” aquele que estava com a cabeça quente.
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Apesar de a maioria das mulheres na Idade Média não ter acesso à educação, havia exceções. A escritora e poetisa Christina de Pisano, que viveu na França em 1365-1430, é agora considerada a fundadora de fato do feminismo. Em seu trabalho intitulado O Livro da Cidade de Senhoras, ela diz que as mulheres são em grande parte iguais aos homens, e os casamentos colapsam por causa de vícios que são igualmente comuns em ambos os gêneros.
Ilustração de O Livro da Cidade de Senhoras
- A expectativa de vida das mulheres na antiguidade e a idade média era mais curta do que a dos homens. A maioria das mulheres morria durante o parto, o que é explicado, entre outras coisas, pela má nutrição. As que sobreviviam, no entanto, ao período de fertilidade, poderiam viver facilmente até os 70 anos. Os bebês também sofriam de desnutrição: dado que o leite materno era menos nutritivo e com menos imunidade; crianças morriam com frequência nos primeiros anos de vida.
- As mulheres estavam frequentemente envolvidas na medicina. Por exemplo, os partos eram sempre assistidos por mulheres, pois era considerado indecente que os homens olhassem para os corpos nus de jovens moças. Acredita-se que a obra principal, a qual se baseou na medicina medieval “feminina”, foi escrita por Trotula de Salerno, que viveu nos séculos XI — XII. Além dos métodos de tratamento de doenças, o documento contém também instruções de remoção de pelos indesejados, eliminação de rugas, sardas e manchas, assim como dicas de maquiagem e formas de combater o mau hálito.
Procedimentos cosméticos medievais
Quais outras histórias sobre o período da Idade Média você gostaria de saber? Caso tenha alguma história que não foi mencionada, escreva nos comentários!
Imagem de capa Carlo Raso / Public Domain / flickr