15+ Fatos sobre Cesária Évora, a cantora descalça que ganhou 50 milhões de dólares, mas doou quase tudo aos necessitados de seu país de origem

Famosos
há 1 ano

Cesária Évora (1941-2011), reconhecida como uma das cantoras mais influentes do mundo, completaria 78 anos em 27 de agosto de 2019. Ela começou sua carreira bastante tarde, por isso o grande público nunca a viu enquanto jovem. No entanto, sua voz aveludada encantou o público desde os primeiros segundos de sua carreira e suas canções chegaram aos ouvintes de vários países.

Nós, do Incrível.club, decidimos lembrar os fatos mais marcantes da vida da “Diva Descalça”, que ganhou esse apelido por seu hábito de subir aos palcos sem sapatos.

“Sou uma mulher comum. Não muito feliz. Nem rica, nem bonita, apenas uma mulher como milhares de outras”.
Cesária Évora

Cesária Évora nasceu em 1941 na cidade de Mindelo, nas Ilhas Cabo Verde, uma ex-colônia portuguesa localizada no Oceano Atlântico, perto da costa da África. Sua família era pobre, mas bastante afetuosa. Cesária foi criada com quatro irmãos. O pai morreu quando a menina ainda tinha sete anos. Essa perda não foi fácil para a família e a pequena Cesária ficou especialmente abalada porque era a favorita do pai. Como a mãe não era capaz de alimentar os filhos sozinha, levou a filha para um abrigo de freiras católicas. Os três anos que Cesária passou lá foram insuportáveis ​​para ela. A então garota foi privada do que mais valorizava: a liberdade. Aos 13 anos, voltou para casa e começou a ajudar a mãe nas tarefas domésticas.

Em seu tempo livre, a menina se apresentava nos bares de sua cidade natal. Ela cantava exclusivamente músicas do gênero morna. Esse é um estilo tradicional das ilhas de Cabo Verde, que é influenciado não só pelos ritmos africanos, mas também pelos brasileiros e portugueses. A origem do nome desse gênero musical é incerta; alguns dizem que vem do verbo inglês “to mourn” (lamentar). Outros acreditam que tenha origem na palavra em português “morno”. A própria Cesária descreveu sua música da seguinte forma: “O estilo morna foi tecido por tudo o que nos cerca na Ilha: o mar, o amor e uma tristeza inexplicável”.

Aos 16 anos, Cesária encontrou o primeiro amor de sua vida: o músico e marinheiro Eduardo de João Chalino. Eles se conheceram em um bar onde a moça cantava de graça ou por alguns cigarros. Eduardo ouviu a voz da moça e ficou deslumbrado. Ele também notou que ela cantava muito baixo e a aconselhou a ser mais ousada. Mais tarde, Eduardo transformou Évora em uma celebridade local: ele negociava com os proprietários de cafés e bares, organizava apresentações e até montou uma banda para ela. Parecia que ela tinha encontrado a felicidade, mas não muito tempo depois, Eduardo embarcou em um navio e deixou da pequena Mindelo para nunca mais voltar. Ele tinha planos que não envolviam a ilha nem a namorada. Cesária nunca mais o viu.

Por quase 20 anos, a cantora se apresentou em cafés e restaurantes, participando ocasionalmente da rádio local. Cesária, porém, sonhava em se tornar realmente famosa. Queria que seu trabalho se tornasse conhecido em outros países. Infelizmente, esse sonho ainda estava longe de se tornar realidade. Em 1975, ocorreu uma revolução política nas ilhas, que, finalmente, conquistaram a independência de Portugal e passaram a se chamar de República de Cabo Verde. Na realidade, tais mudanças provocaram uma grave crise financeira. Cesária foi forçada a abandonar os palcos por 10 anos, já que não conseguia mais ganhar dinheiro com suas músicas.

Aos poucos, a vida em Cabo Verde começou a melhorar, e outros músicos pediram que Cesária retornasse ao trabalho. Além disso, eles a convenceram a ir a Lisboa e se apresentar para a colônia de imigrantes cabo-verdianos. Foi na capital portuguesa que Cesária gravou seu primeiro álbum. Naquela época, ela já tinha 43 anos.

Enquanto se apresentava em um dos bares, a cantora foi notada por um francês de raízes cabo-verdianas chamado José da Silva. Ele ficou encantado com sua voz e com suas músicas cheias de vida, por isso convenceu a cantora a ir com ele para a França. Aos 47 anos, Cesária realizou seu antigo sonho: viu a Torre Eiffel.

José da Silva não estava errado. O sucesso foi certo para Cesária em Paris. Ela gravou mais três álbuns, que finalmente quebraram a barreira étnica e trouxeram à cantora a fama da “aristocrata da música de restaurantes”, como foi chamada pelos jornalistas locais. Os franceses foram cativados pela não tão jovem mulher de voz encantadora, cujas canções passaram a ser reconhecidas em um mundo completamente diferente daquele no qual ela havia crescido.

Nos palcos, a cantora sempre se apresentava descalça. Alguns diziam que isso era uma espécie de homenagem à pobreza em que os conterrâneos de Cesária viviam nas Ilhas de Cabo Verde. No entanto, a própria Cesária garantia que não havia nenhuma intenção escondida em seu hábito; ela simplesmente não gostava de usar sapatos. “Eu andei tantos anos descalça, como a maioria de nós na Ilha, que é mais fácil para mim cantar descalça”, afirmou em uma de suas entrevistas. Ela comprou seu primeiro par de sapatos especialmente para uma turnê, quando já tinha mais de 40 anos.

Nos anos 80, Cesária Évora fez uma turnê pela Europa e, alguns anos depois, tornou-se famosa no mundo todo. O primeiro grande cachê foi dividido, a pedido da àquela altura famosa cantora, em duas partes: metade foi depositada em um banco e a outra metade foi recebida em dinheiro vivo, segundo ela, uma garantia de que não perderia tudo caso algo acontecesse. Quando uma jornalista perguntou o que ela havia comprado após ter recebido aquela bolada, ela respondeu: “uma saia e duas blusas”.

Évora não mudou nem um pouco com a fama e a fortuna. Ela mesma passava seus vestidos antes dos concertos e dizia: “uma suíte, um bom cozinheiro e um café expresso forte. Isso é tudo de que eu preciso”. A cantora nunca conseguiu abandonar o vício que adquiriu ainda jovem: o hábito de fumar. Durante suas apresentações, sempre pedia para realizar alguns intervalos para fumar. “Adoro fumar e não consigo fazer nada sobre isso. Um homem rico me ofereceu uma Mercedes nova para que eu parasse de fumar. Como você pode ver, eu ainda fumo”, disse a Diva Descalça, rindo.

Além do tabaco, Cesária tinha mais uma pequena fraqueza: joias de ouro. Ela realmente não gostava de passear em shoppings, mas durante as turnês, frequentemente ia a pequenas joalherias. Segundo ela, todas as mulheres de Cabo Verde adoram ouro porque é um dinheiro que está sempre com você.

Ao longo de sua carreira, Cesária faturou mais de 50 milhões de dólares, mas nunca se interessou muito pelo dinheiro. Ela morava na casa dos pais com muitos parentes e só comprou uma casa nova depois que já não havia mais espaço para seus pertences na casa antiga. A estrela nunca trancava as portas de casa para que qualquer morador da cidade, a qualquer momento, pudesse entrar e desfrutar de uma cachupa, uma tradicional sopa de milho do país.

Vivendo em um país absolutamente ligado ao oceano, Cesária surpreendentemente não sabia nadar e tinha muito medo de ondas. Na infância, ela viu um homem ser arrastado para o mar de um penhasco, durante uma tempestade e essa memória a assombrou por toda a vida. No entanto, a cantora não podia viver longe do mar e disse mais de uma vez que precisava dele para viver.

A diva doou quase toda a sua fortuna às necessidades de Cabo Verde. Ela financiou o sistema de ensino primário e secundário nas escolas, bem como a maior parte dos cuidados da saúde no país. Ao mesmo tempo, cuidava para que o dinheiro chegasse às pessoas, e não ficasse com o governo: “Eu posso ajudar uma determinada criança, uma determinada mãe que tem um filho doente. Muitos pedem ajuda. Sim, no meu país eu sou a mais famosa e bem-sucedida financeiramente, mas o que faço, faço exclusivamente como pessoa física”.

Cesária ajudou uma quantidade enorme de cabo-verdianos. Além disso, graças a ela, o país ganhou destaque internacional. Cabo Verde se tornou membro da ONU, da OMS (Organização Mundial da Saúde) e de muitas outras organizações internacionais importantes.

Os moradores da república, em um ato de gratidão, decidiram construir um monumento a Cesária enquanto ela ainda estava viva. Mas a estrela ficou terrivelmente indignada. Ela proibiu que isso acontecesse e declarou, que se havia dinheiro sobrando no país, seria melhor gastá-lo de uma maneira mais inteligente e produtiva.

Cesária nunca foi oficialmente casada, mas teve dois filhos: Eduardo, cujo nome foi uma homenagem ao seu primeiro amor e Fernanda. Ela deu à luz seu filho aos 18 anos. O menino é filho de um soldado que partiu de Cabo verde sem saber que Cesária estava grávida. Ela também não manteve o relacionamento com o pai de sua filha, um jogador de futebol de Portugal. A cantora dizia que os homens vêm e vão como a maré, já as crianças permanecem para sempre.

A Diva Descalça se apresentou até os últimos dias, mas em 2010, devido a problemas cardíacos, teve de cancelar todos os seus shows nos últimos meses. Algum tempo depois, em setembro de 2011, a cantora anunciou o fim de sua carreira. E, em dezembro do mesmo ano, morreu em sua cidade natal, aos 70 anos, de insuficiência cardiopulmonar.

  • Pouco antes de morrer, ela declarou em uma entrevista: “Depois de ter vivido quase 70 anos, posso dizer que realizei todos os meus sonhos e já não tenho sonhos novos. Estou esperando quando Deus vai me levar embora e digo a todos: Adeus! Na minha idade, esses pensamentos são normais e eu posso aproveitar cada dia”.

Em 2012, depois de sua morte, foi erguido um monumento em homenagem à cantora, que colocou Cabo Verde no mapa da música mundial. Cesária também foi homenageada tendo seu nome dado ao Aeroporto Internacional de São Vicente, onde fica Mindelo, cidade em que nasceu.

Durante sua carreira, a cantora foi indicada cinco vezes ao “Grammy”. Ela também foi premiada com a Legião de Honra da França. Em 2013, o famoso rapper belga Stromae dedicou sua música Ave Cesaria a ela.

Você já havia ouvido falar de Cesária Évora? Conhece suas músicas? Sabia que ela ajudou seu país de forma tão intensa?

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