Como um transplante de rim mudou para sempre a vida de Gabriel

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há 1 ano

“Desde 2006, passei a fazer aniversário duas vezes por ano: a primeira, dia 27 de fevereiro, data do meu aniversário, de fato; a segunda, 1º de maio, data em que recebi um transplante de rim.”

Assim o jornalista Gabriel Navajas, de São Paulo, se refere a um período que mudou sua vida, da descoberta de uma doença autoimune que comprometia o funcionamento de um de seus rins até o momento em que recebeu o transplante.

Neste depoimento dado para o Incrível.club, ele conta como esse processo mudou sua forma de enxergar a vida. E destaca a importância de ser doador de órgãos. Confira, a seguir, sua história.

"Quando o telefone tocou na madrugada de 1º de maio de 2006, a sensação era de estar em um sonho. Simplesmente não conseguia acreditar que minha mãe estava me acordando porque estávamos recebendo uma chamada da central de transplantes.

Era difícil acreditar que meu rim finalmente havia chegado. Era como se eu tivesse ganhado na Mega-Sena ou algo assim. Coisa de filme. Não me passava pela cabeça naquele momento que eu iria sair, finalmente, da fila de transplante.

Mas bastou aquele telefone tocar para que eu começasse a contar as horas para que pudesse beber água — algo que a maioria das pessoas faz normalmente — sem preocupação. Minha hora havia chegado e eu mal acreditava.

Mas, antes de prosseguir nessa história, preciso contar como vinha sendo minha luta. Nos 17 meses anteriores àquela ligação, minha vida havia mudado completamente. Isso porque meu corpo havia simplesmente se rebelado contra mim na forma de uma doença autoimune; meu sistema imunológico atacou meus tecidos saudáveis e, assim, minha vida mudou completamente.

O mau funcionamento do rim me obrigava a frequentar sessões de hemodiálise três vezes por semana e me restringiram a alimentação e o consumo de líquidos. Até então, eu, aos 25 anos, vivia o que se chama por aí de uma vida normal: trabalhava bastante (em um jornal), saia com os amigos, jogava futebol.

Mas a mudança provocada pelos problemas renais não me fez lamentar ou reclamar da vida por, digamos assim, ’ter sido sorteado’ para enfrentar essas dificuldades. Não. Eu não iria me render; pelo contrário. Percebi, naquela situação, uma oportunidade para cuidar melhor da minha saúde e para ter uma rotina saudável. Eu sairia daquela situação como uma pessoa melhor.

A esta altura, você já deve ter percebido que, felizmente, superei essa situação. Mas, por mais que as dificuldades às vezes sejam um empurrão para que nos tornemos pessoas melhores, não desejo a ninguém os problemas pelos quais passei.

Então, se você apresentar pressão alta, dores nas costas, cansaço ou diminuição do volume de urina, fique atento. Esses podem ser os sintomas de problemas nos rins. Caso você esteja com algum desses sinais, procure um médico.

Foram 10 meses de licença do trabalho assim que fui diagnosticado com a doença autoimune que afetou meu rim. Um período que aproveitei para descansar e me adaptar ao cotidiano casa-clínica, clínica-casa. Tentei tirar o de máximo de proveito a meu favor de toda a situação.

Como já mencionei, procurei ver o lado positivo das dificuldades que a vida me apresentou. E tenho certeza de que, em alguma medida, esse estado de espírito positivo me ajudou a superar o problema, seja na espera por uma doação seja depois, na fase de recuperação do transplante.

Fiz novos amigos, conheci coisas que mal sabia que existiam, matei a curiosidade dos amigos sobre o que é fístula, cirurgia no braço que une veia e artéria e deixa o local ‘vibrando’. Mais do que isso, entrei em um novo mundo, de gente que enfrenta doenças de cabeça erguida, mas que às vezes, como qualquer ser humano, chora e até perde as esperanças para, no momento seguinte, voltar a acreditar no futuro. E um mundo de profissionais que fazem do amor e do cuidado com as pessoas uma missão de vida.

Um mundo que, mais tarde, me possibilitaria viver e sentir na pele (ou no corpo) a solidariedade e o amor pelo próximo, quando o telefone de casa tocou naquela madrugada.

Um dos fatores que me ajudaram em todo o processo foi a atividade física. Ainda durante a fase de hemodiálise, motivado por um amigo, comecei a praticar natação. Esse hábito não só se manteve após o transplante, como ganhou uma nova inspiração.

É como se cada braçada fosse dada em nome desse órgão que me ajuda a viver e do doador, um desconhecido que hoje me empresta um pouco da força que já teve no próprio corpo. A vontade e a disposição só aumentaram depois do transplante.

Graças à doação de órgãos de uma família que jamais conheci, continuo a fazer muitas das coisas que mais gostava e a me dedicar ainda mais em outras, como a natação. Sem falar na sensação inexplicável de poder cuidar de um rim novo, que se adaptou totalmente ao meu corpo.

Toda vez que termino um treino desde o transplante, tornou-se quase involuntário o gesto de passar a mão sobre o melhor presente que recebi na vida, como se fosse um agradecimento por mais aquele momento. Um presente que só foi possível porque o meu doador falou à família sobre o desejo de espalhar a vida, de doar os seus órgãos.

Hoje, quase 13 anos depois do transplante, agradeço com muita emoção o que ele e seus familiares me proporcionaram, quando o telefone tocou naquela inesquecível madrugada de 1º de maio.

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Felizmente, histórias como a de Gabriel tem sido cada vez mais frequentes. Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o número de doadores de órgãos vem aumentando.

Mas é importante que cada vez mais pessoas doem órgãos. Se você quer fazer parte dessa corrente do bem, basta avisar sua família de maneira clara que quer doar seus órgãos. Essa medida simples garantirá que você seja doador. Mas, se quiser saber mais sobre o assunto, o Ministério da Saúde disponibiliza um site sobre doação de órgãos.

E então, se convenceu da importância de ser doador? Gostou da história de Gabriel?

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