Um ano para saber se é possível encontrar seu amor no Tinder

há 1 ano

tecnologia está cada vez mais avançada e se reflete principalmente nos nossos celulares, fazendo com que nossas vidas se pareçam cada vez mais com a série Black Mirror, na qual as pessoas se conhecem por meio de aplicativos e recebem uma porcentagem de compatibilidade amorosa. Será que a série está tão distante da realidade que vivemos? Será possível encontrar a nossa alma gêmea apenas por meio de aplicativos de relacionamento?

Para tentar responder a essas perguntas, hoje iremos contar a história de uma convidada do Incrível.club que, durante um ano inteiro, tentou ativamente encontrar o seu grande amor em um dos aplicativos mais usados hoje em dia, o Tinder.

Olá, meu nome é Júlia e eu uso o Tinder. Esse parece o começo de um discurso de uma pessoa que vai a uma reunião de dependentes, tipo Alcoólicos Anônimos. E até certo ponto é isso mesmo.

A minha epopeia no Tinder começou há alguns anos. Duas amigas minhas já usavam o aplicativo. Após escutar todo tipo de histórias, muitas delas super divertidas, decidi experimentar. Mas eu queria conhecer alguém para um relacionamento sério, e não apenas alguém para algo rápido.

E eu tive sorte já na primeira tentativa: eu comecei a namorar o primeiro cara que eu conheci.

Mas a vida nem sempre é como um conto de fadas. Depois de um relacionamento relativamente longo, acabamos nos separando. E foi nesse momento que o Tinder me absorveu. Por isso, o ano passado foi definitivamente o ano dos encontros (risos), dos quais eu tirei muitas conclusões e que me fez viver as mais divertidas situações. E são essas histórias que eu vou contar.

Vou começar afirmando que é possível adivinhar as intenções de uma pessoa pelo lugar que ela escolhe para o primeiro encontro

Na maioria das vezes somos convidadas para tomar um café ou simplesmente para dar uma volta. O cinema é parte do programa de um segundo encontro, porque durante a sessão não é possível conversar. Se somos convidadas para uma balada ou uma festa, é sinal de que a pessoa não quer nada sério. Na verdade, significa que a pessoa simplesmente está procurando uma companhia para um evento. Uma vez eu mesma convidei um rapaz para um festival de música para não ficar sozinha. Ou seja, se você for convidado ou convidada para um evento com muita gente, melhor ficar de olho nas intenções da pessoa.

Mas uma vez aconteceu algo diferente. Combinei de encontrar um rapaz no centro da cidade. Rapidamente senti uma boa energia, mas logo depois que nos cumprimentamos e ele decidiu me levar para outro lugar, eu perguntei: “Aonde vamos?”. Ele respondeu: “Como assim? Vamos ver o jogo”. Realmente fomos ver um jogo de futebol com seus amigos. Não que eu tenha algo contra, mas ele quase não deu atenção para mim, e por isso não nos vimos mais.

Claro que o perfil e a realidade são duas coisas completamente diferentes

Uma vez eu vivi uma história bastante emblemática a esse respeito. Conheci um rapaz que estava de férias na Espanha. Ele tinha várias fotos no perfil: em duas delas não dava para ver o seu rosto, em outras, estava sentado em uma cadeira, com as pernas cruzadas, e estava de perfil. Não me pareceu nada estranho porque, pelas mensagens que trocamos, ele parecia um cara bastante interessante. Além disso, além de enviar mensagens me mandou um buquê de flores e conseguiu duas entradas (para mim e para uma amiga minha) para um festival incrível ao qual eu sempre quis ir.

Quando ele voltou de férias, marcamos de sair. Ele teve o detalhe de me buscar em casa, embora eu morasse no outro canto da cidade. Eu saí e não o encontrei. Ele me disse: “Mas eu tô aqui, ao lado do carro vermelho”.

E foi quando eu vi um rapaz que batia no meu peito. Foi nessa hora que eu senti (e isso acontece muitas vezes quando você usa o Tinder) que queria voltar no tempo, mas tive de continuar, porque ele já tinha me visto. Continuei, já imaginando a conversa que teria com a minha amiga Anna sobre esse encontro tomando um chá na sua cozinha depois que tudo terminasse. Mas falei para mim mesma que talvez nem tudo estivesse perdido, e fomos ao centro. Toda a conversa foi, na verdade, um grande monólogo super chato sobre como ele adora o seu cachorro. O tom de voz só mudava quando ele falava no seu Cadillac, algo que acontecia com frequência. Eu queria me matar ali mesmo, dentro daquela droga de Cadillac.

A intuição é a melhor ajuda na ’Tinderlândia’

Isso é algo completamente inexplicável: quando você vê uma pessoa, imediatamente entende se poderia ou não ter uma relação com ela. Mesmo se ele parece o homem dos seus sonhos, em alguns casos você sente que a coisa simplesmente não tem futuro. Tentei me convencer do contrário, mas a intuição, como sempre, venceu mais uma vez.

Um outro exemplo foi quando eu conheci um rapaz que, em um primeiro momento, parecia o homem ideal. Era bonito, viajava muito, falava do trabalho de uma maneira interessante e, em geral, se mostrava uma pessoa interessada: falava sobre problemas ambientais, me mostrava filmes e documentários, etc. E olha que são poucas as vezes em que as pessoas pensam em assuntos que não se relacionem com a própria biografia. A única coisa negativa: na foto do perfil ele aparecia sem camiseta. E uma foto com o peito pelado sempre é sinal de one night stand, ou seja, de que a pessoa está a fim de uma relação que dure apenas uma noite. A intuição dizia uma coisa, mas a minha mente me dizia: “Olhe como ele é interessante, ele pode ser diferente do que você pensa”.

Querem saber como tudo acabou? Quando começamos a nos escrever mais vezes, ele estava em Roma, e nunca nos vimos pessoalmente. Quando ele voltou e me escreveu eu estava no cinema e ele (atenção!) estava a caminho do estudio para tirar uma tatuagem do peito com as iniciais da sua ex esposa. Ri em voz alta, no meio de um filme de suspense.

Mas a situação era bastante triste: ele estava realmente triste porque não conseguia esquecer a ex. Ele preenchia os horários com o máximo de atividades: trabalhava, praticava esportes, viajava, via documentários e usava o Tinder, claro.

A maioria dos encontros não se repetem. Cuidado, às vezes você cruza com a mesma pessoa de novo por acidente

Em geral, eu sempre saía com os rapazes apenas uma vez. Apenas uma vez eu saí com um cara 3 vezes, mas ele voltou para os Estados Unidos para estudar em uma academia de música de New Orleans. Mas, com ele, aprendi muito sobre a cultura dos Estados Unidos, sobre música e sobre viagens. Como é possível ver, o Tinder pode ampliar muito os nossos horizontes.

Um pouco sobre a ética do Tinder: sim, segundo a opinião das duas partes, o encontro não foi muito bom, mas isso não é um problema, as duas pessoas simplesmente se esquecem após a despedida: “Bom, então tchau, a gente se fala”. Se você não gostou de um rapaz, geralmente passa a ignorar as suas mensagens. Sim, isso não é muito bonito, mas é melhor do que falar que você não gostou.

Em relação a mim, apenas uma vez o cara de quem eu tinha gostado não me chamou para um segundo encontro. Mas o destino nos juntou, ainda que não da maneira que eu tinha pensado.

Um dia, eu fui ao cinema com um amigo gay. Estávamos na fila para comprar pipoca e, do nada, vejo aquele rapaz vindo na minha direção. Cruzamos olhares, sorrimos e nos cumprimentamos com a cabeça. Ele entrou em uma sala. Agora, atenção: o cinema tinha mais ou menos 20 salas. Meu amigo e eu fomos ver um filme de arte e nos sentamos na primeira fileira, ao que chamamos de ’lugar de introvertidos’.

Bom, entramos na sala e ao meu lado estava ele. Ele ficou sorrindo com satisfação durante todo o filme, como que querendo dizer: “Você ainda marca esses encontros, hahaha”. Como resultado, meu amigo comeu toda a pipoca, porque eu simplesmente estava com a garganta seca de nervosa pela situação pra lá de incômoda.

É difícil saber com quem estamos falando apenas pelas mensagens de texto enviadas

Se um homem te escreve algo como “Oi, você é linda”, você já pensa “Nossa, que preguiça. Próximo”. Mas você recebe também mensagens como “Seus traços faciais são muito delicados”, ou “Oh, essas sardas...”, e pensa: “Bom, pelo menos é um pouco mais original”. Mas essas mensagens menos triviais não são garantia de que você está falando com uma pessoa interessante. Mesmo quando você decide com quem vai falar, isso não é garantia de que escolheu um bom perfil. Vale a pena mencionar que eu nunca escrevi primeiro para ninguém até que um dia eu pensei: por que não? Antes disso, me fazia de difícil, mas depois de quase 15 encontros falidos, percebi que tinha de chamar a responsabilidade para mim.

Um dia, escrevi para um rapaz que parecia muito agradável. Uma tarde, quando estava almoçando em uma cafeteria, ele me escreveu dizendo que estava próximo e que podia me ver. Nos conhecemos e, quando eu disse que era dentista, ele me contou que vinha do dentista e começou a me mostrar as fotos do seu dente novo. Não está tão mal para quebrar o gelo, não? Ele me pediu para avaliar se o trabalho estava bem feito. Olhei as fotos e disse que, idealmente, o trabalho poderia ter sido feito de maneira mais anatômica, mas que em geral estava bem. E ele: “Então quer dizer que estragaram o meu dente?” Quando ele disse isso, percebi que, ao chamar a responsabilidade para mim, acabei almoçando com um maldito hipocondríaco.

Como resultado, ele me falou do maldito dente durante uma hora, apenas interrompendo a reclamação para dizer que iria ao cinema com seus amigos. Ele foi ao cinema e eu fui para a minha casa. Uma hora depois, recebi uma mensagem dele. Pensei que diria que gostou do nosso encontro, ou algo do tipo, mas ele disse: “Depois de quanto tempo eu posso comer ou beber quando fazem essa desgraça com o nosso dente?”

Ele me escreveu várias vezes sobre o maldito dente, e na última mensagem, disse que não queria viver daquele jeito.

Curiosamente, alguns meses depois, fui ao cinema mais popular da cidade. Atrás de mim havia um cara bêbado com uma garota, e era claro que ele a estava incomodando. Ela dizia: “Não, agora não!” Havia poucas pessoas na sala, ele não parava de incomodar e os dois saíram e entraram algumas vezes. Em um determinado momento, ele bateu na minha poltrona. Dei meia volta e era ele, o cara do dente. De novo, um encontro pra lá de desastrado.

Cheguei à conclusão de que as pessoas são estranhas

Uma vez troquei mensagens com um rapaz ’ideal, que a sua avó vai adorar’: inteligente, designer, trabalhador e com uma foto de perfil em que ele aparecia com camiseta e com um gato no colo. Morávamos perto um do outro e ele me chamou para ir na casa dele. Como parecia inofensivo, acabei aceitando.

Como tudo acabou? Estávamos conversando, o gato estava ao lado, bebemos vinho e de repente o cara começou a me contar como ele tinha traído a ex com a vizinha. E eu com cara de ’Nossa, que belo encontro! Seria ele o indicado?’ E ele completou dizendo que gostou de se sentir um criminoso ao trair a namorada. Eu continuei lá, com a minha cara incrédula, mas por dentro eu estava gritando: “Queeeee?”

Até que eu cheguei à conclusão de que é impossível saber com antecedência o tipo de pessoa que se esconde atrás de um perfil. Você pode ter um ou 100 encontros no ’currículo’, mas o fato é que os humanos continuarão estranhos e imprevisíveis demais.

Francamente, cheguei à conclusão de que o Tinder é terrível. Eis as razões:

  • Em primeiro lugar, acho que ninguém entra no Tinder porque está feliz com a própria vida. Para mim, ele é como uma grande cidade: existem muitas pessoas, mas na verdade você está sozinho. Ou você tem medo de ser rejeitado e incompreendido, ou não tem amigos e companhia.
  • Em segundo lugar, toda essa abundância de escolhas é, na verdade, uma ilusão. Todos esses perfis e mensagens não trazem ideias realistas sobre a pessoa que está do outro lado da tela. Todas essas curtidas que fazem aumentar a autoestima também são uma ilusão. Porque, na realidade, não podemos parar em apenas uma opção, e ficamos com a obsessão de que precisamos continuar até chegarmos a um ideal que simplesmente não existe. Acho que essa é a razão pela qual eu saí com o primeiro rapaz que conheci no aplicativo: era o primeiro encontro e eu estava mergulhada na ideia de encontrar alguém que combinasse comigo.
  • É importante falar um pouco mais sobre os likes. Informação privilegiada: um amigo me disse que eles, os homens, para economizar tempo curtem um monte de mulheres, sem olhar muito para elas. Quando dão match eles escolhem aquelas de quem realmente gostam. Ou seja, se um homem te curtir e não escrever nada, você está dentro deste esquema cruel.
  • Em terceiro lugar, ultimamente o Tinder piorou, como qualquer coisa interessante que no começo parece a maior novidade do mundo e acaba virando algo banal e que todo mundo conhece. Se antes sempre podíamos encontrar pessoas bonitas e inteligentes, agora ele está cheio de pessoas desinteressantes, como qualquer outro aplicativo de relacionamentos.
  • E o mais importante: conhecer alguém ao vivo é sempre muito melhor, e agora eu entendo isso. Mas o problema é que uma pessoa precisa superar a própria limitação para se aproximar de outra e conversar. Sim, muitas mulheres não gostam de fazer isso, mas apenas porque a imagem de um desconhecido se aproximando na rua para te conhecer sempre foi ocupada pelo estereótipo de um homem cara de pau. Ao mesmo tempo, eu, consciente de tudo isso, também não posso me aproximar de um homem que eu gostei. Por exemplo, esse homem bonito da foto que eu vi no aeroporto acabou entrando no avião praticamente perfurado pelo meu olhar, quando, na verdade, eu poderia ter ido até ele para conversar, já que nada de mais teria acontecido.

Hoje eu não uso o Tinder, mas não o elimino

Não cheguei a conclusões muito alegres, mas não lamento o tempo que ’perdi’ no Tinder. Em primeiro lugar, ele me trouxe muitos amigos e conhecidos com quem, ainda que não tenha começado um relacionamento, mantive uma boa amizade nas redes sociais. Em segundo lugar, realmente aprendi muito sobre a cultura de outros países, já que entre as pessoas que conheci havia uma grande quantidade de viajantes, e muitos me mandaram lista com coisas que eu preciso ver em algumas cidades. Aprendi muito sobre outras profissões, passatempos, comidas e arte em geral, algo que não teria acontecido se eu tivesse ficado em casa ou sem acessar o app.

Portanto, se você é do tipo que sempre fica em casa vendo televisão, corra para o aplicativo para aprender coisas novas!

A única razão que me impede de eliminar o Tinder completamente do me celular são as viagens. Agora ele é uma espécie de Couchsurfing: posso conhecer pessoas de outros lugares, conhecer mais sobre a cultura, ver lugares interessantes e que nunca descobriria em um guia turístico comum.

Em casa eu já não abro mais o aplicativo. Depois da primeira boa relação no Tinder eu sempre fiquei com vontade de viver a experiência de novo, mas isso nunca aconteceu. E nunca vai acontecer.

Ou seja: o Tinder é um capítulo vivido e encerrado na minha vida.

Caro(a) leitor(a), esperamos que você tenha gostado dessa história. Se você tiver alguma história que gostaria de contar, se viveu uma grande experiência como voluntário em um país, ou se quer apenas comentar algum sentimento sobre algo que viveu, compartilhe a sua história nos comentários.

E, se tem alguma história com sites ou aplicativos de relacionamento, conte pra nós!!

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