Professor diz o que pais devem fazer se quiserem criar um mentiroso

Crianças
há 1 ano

Todos os pais e mães querem que seus filhos sejam honestos. Porém, muitas vezes os métodos educativos empregados não funcionam como se esperava. O professor russo Dima Zicer, especialista em pedagogia, descreveu algumas situações paradoxais que, infelizmente, ocorrem frequentemente em diversas famílias.

O Incrível.club se sentiu na obrigação de compartilhar com você, leitor, esses conselhos.

Como criar um mentiroso

Confira o que diz o professor Zicer:

Acredito que, nesse caso, a teoria não irá nos ajudar. É melhor analisar a opinião especializada de quem coloca a ’mão na massa’.

Uma mãe estava bastante preocupada com o rendimento escolar do filho. Isso ficava bem claro com o fato de que ela, regularmente e sem pedir permissão, se intrometia nas tarefas do garoto e mexia o tempo todo em seu material escolar para verificar como as coisas estavam indo. O resultado disso foi que o menino criou o hábito de também mexer nas bolsas e mochilas alheias e retirar delas o que quisesse.

Obviamente, ele não admitiu o que fazia, até ser pego em flagrante. Mas na hora, disse que estava apenas procurando pela própria caneta que, acidentalmente, teria caído na mochila de outra criança. A mãe, porém, nunca conseguiu estabelecer uma conexão entre seu próprio comportamento e o do filho. E é possível compreendê-la. Afinal, ela foi movida por motivos nobres. Por isso, suas ações, diferentemente das do menino, não poderiam ser tidas como desonestas.

Uma outra amiga minha também estava muito interessada no nível de educação do filho. E esse interesse pode muito bem ser ilustrado por uma história que ela mesma contou. Uma vez, seu filho de 8 anos estava escrevendo algo e perguntou: “Mãe, como se escreve a letra ‘jota’?” Segundo o relato da mulher, ela se espantou, lutou para conseguir se controlar e resmungou: “O que? Aos 8 anos você não sabe ainda como escrever essa letra?”

Vale ressaltar que ela não respondeu a pergunta do filho. Porém, armou um grande escândalo. Depois de um tempo, a mãe descobriu (e foi por esse motivo que ela me procurou) que o pequeno tinha deixado de fazer as lições ligadas aos idiomas e, por outro lado, passado a inventar histórias sobre como estava se saindo bem nessas disciplinas. Um mentiroso de marca maior!

Uma terceira mãe me revelou sua própria teoria pedagógica, que consistia no fato de que é preciso controlar cada passo dado pela criança, já que ela é naturalmente propensa a enganar. A mulher passou a aplicar, de vez em quando, verdadeiras torturas sofisticadas na forma da proibição a doces e colocando a filha para dormir 3 horas antes do habitual. Assim, a mãe reagia às pequenas contradições que percebia nas histórias que a menina contava sobre os acontecimentos do dia. A coitada ficou sinceramente surpresa ao notar que a amada filha tinha se tornado mais mentirosa e ardilosa com o passar do tempo (palavras exatas dessa mãe).

O quarto pai, ao encontrar o brinquedo de outra criança em casa (que, após uma breve investigação, revelou-se ser do próprio filho), armou um grande escândalo. E quando tudo foi esclarecido, não encontrou nada melhor para dizer à criança do que: “Isso lhe servirá de lição”. De que lição ele estava falando? Continua sendo um mistério... Mas a criança, aparentemente, realmente aprendeu a lição, pois passou a levar para casa várias coisas de outras pessoas, garantindo que tinha ganhado de presente. “Ele não apenas tornou-se um mentiroso, mas também um pequeno ladrão... Talvez seja algo da personalidade dele, pois eu nunca levei coisas dos outros para casa”, lamentava o coitado do pai...

A quinta mãe revelou que interrogava a filha todas as noites para que ela contasse o que tinha comido e feito na escola. E, comparando o relato da menina com outras informações colhidas, descobriu que a filha a enganava: quando estava satisfeita, dizia que não tinha comido nada, e quando estava de barriga vazia, dizia estar satisfeita. Quando perguntei o motivo para ela agir daquela forma, já que uma pessoa com fome sempre quer comer, a mãe ficou profundamente pensativa...

A sexta mãe me contou que tinha avisado o filho de 3 anos que, caso ele se comportasse mal, em algum momento de sua vida apareceria na casa da família um “bicho-papão”. (Devo admitir que me surpreendeu notar que esse personagem está firmemente arraigado nos processos educativos a que muitas crianças são submetidas). Apesar da pouca idade, o menino percebeu rapidamente o que estava acontecendo e passou a mentir sobre todas as coisas. Sobre os próprios interesses, suas atividades, seus amigos e brinquedos. O que é perfeitamente compreensível, uma vez que sua mãe parecia ser amiga de uma criatura desagradável e assustadora. Em vez de verificar se aquele monstro perigoso existia mesmo ou era fruto da invenção da mãe, o melhor a fazer era simplesmente “confundir o inimigo”.

A sétima me falou de sua própria e coerente teoria: quem não estuda (de acordo com a noção que ela tinha de estudo) não recebe nada de bom na vida. Ela mesma tinha estudado muito — ao menos foi isso que ela disse -, mas não conseguia trabalhar para pagar as contas enquanto morava com a mãe e com o filho numa pequena kitnet. Sem se dar conta de uma certa contradição entre suas fantasias e a realidade, ela continuou repetindo essa bobagem até chegar o ponto em que não conseguia mais distinguir as mentiras ditas pelo filho da realidade. E suas expectativas foram superadas: depois de adulto, o filho contou à mãe que frequentava as aulas da universidade enquanto, ao mesmo tempo, trabalhava de garçom num restaurante, algo que a mãe proibiria por achar que o jovem deveria se dedicar apenas aos estudos.

A oitava estava indignada com as histórias contadas pela filha, que dizia ser a melhor aluna, popular entre os colegas e elogiada pelos professores. “Tudo uma mentira descarada”, gritava a mulher ao voltar de uma reunião de pais. “Por que ela mentia para mim? Eu sempre disse: só quero a verdade, a única coisa que não consigo perdoar é a mentira!” Contudo, a mãe, dia após dia e mês após mês, respondia qualquer história contada pela filha dizendo: “Você se saiu melhor que os outros? O que a professora disse? Quem terminou a tarefa primeiro?” A menina, na verdade, mostrou-se inteligente: por que não agradar a mamãe e contar as histórias que ela queria ouvir? Tudo em nome do amor...

A nona, assim como a oitava, também exigia a verdade, mas quando a escutava, tornava a vida do próprio filho insuportável, castigando-o por atitudes e por notas escolares que ela mesma fazia questão que ele revelasse. A “perda” do boletim, que na verdade tinha sido deixado no cesto de lixo próximo de casa, foi a menos traumática das atitudes que o menino tomou diante de tanta pressão.

O número de exemplos similares poderia facilmente chegar aos 100, 200, 300. A quantidade de métodos que levam à criação de um pequeno mentiroso é inesgotável. Por isso, podemos parar por aqui e permitir que o curioso leitor continue por conta própria essa pesquisa.

Mas aqui vão, em linhas gerais, os conselhos para transformar seu filho num mentiroso, se é que é isso que você quer:

  • Não acredite na criança, questione tudo o que ela diz. Na primeira oportunidade, dê o flagra na mentira. Ainda que se trate de uma pequena incoerência, é de pequenino que se torce o pepino!
  • Não deixe que o pequeno fantasie demais: a diferença entre a fantasia e a mentira é tão pequena que é melhor não abrir espaço para esse assunto.
  • Lembre-se que o nosso comportamento e aquele que exigimos de uma criança são coisas totalmente diferentes. Esse princípio deve ser visto como um ideal: na vida cotidiana, na educação, nos momentos de lazer.
  • Controle cada passo da criança. Faça-a ter a sensação de que, caso queira algo da vida pessoa, deverá roubar aquilo de seus próprios pais.
  • Amedronte seu filho com um castigo infalível. Seja, na imaginação infantil, como o Olho de Sauron, o olho que tudo vê.

Isso é tudo. Com isso, o trabalho de criar um mentiroso estará realizado.

Dima Zicer

Comentários

Receber notificações
Sorte sua! Este tópico está vazio, o que significa que você poderá ser o primeiro a comentar. Vá em frente!

Artigos relacionados