Como é a vida da mulher que deu à luz quíntuplos

Na Clínica Pediátrica Estadual de Odessa, na Ucrânia, em 24 de junho de 2016, ocorreu um daqueles casos curiosos da medicina: Oksana Kobelenskaya, de 37 anos, deu à luz quíntuplos. E eles não são resultado de uma fertilização in vitro. Até então, Oksana era uma engenheira e estava de licença para cuidar de sua filha de três anos, Alice. O interesse no caso foi tão grande que ela decidiu criar uma página no Instagram na qual conta abertamente sobre sua experiência, compartilha dicas e, obviamente, publica fotos de seus 5 pequenos.

O Incrível.club acessou o blog da mamãe de 6 crianças, que, em suas palavras, já se acostumou com as pessoas encarando sua família nas ruas como se fossem “parte de um circo”.

A ultrassonografia que mudou minha vida

Tudo estava normal, afinal era apenas uma ultrassonografia comum com o gel e o sensor. Mas quando o médico começou a olhar para tela e sua feição mudou abruptamente, fiquei apavorada. Lembro como se fosse hoje; ele começou a contar em voz alta quantas “frutinhas” havia no meu ventre e disse que pela quantidade, eu deveria ganhar uma casa à beira-mar. Eu não estava entendendo nada, mas, naquele momento, tomei a decisão de que teria as 5 crianças.

Nenhuma previsão mais precisa foi feita; os médicos apenas pensaram na logística de como fazer um parto de tamanhas proporções. Um deles disse que, se pesassem mais de 900 gramas cada, precisariam nascer imediatamente e a maternidade local não tinha equipamento necessário para conceber tantas crianças ao mesmo tempo.

O nascimento

Na 31ª semana tive de fazer uma cesariana de emergência. Graças a três médicos, o parto foi feito com sucesso: Denis nasceu pesando 1.810 g; Daria, 1.190 g; Vlad, 1.750 g; Sasha, 1.250 g e David, 1.450 g. Aconteceu tudo muito rápido e me lembro de estar assustada, mas confiante de que tudo daria certo. Cinco equipes de reanimação foram organizadas e equipamentos extras foram trazidos de outros hospitais. Eu não tive tempo de vê-los; os bebês foram levados para a emergência neonatal muito rápido. Como nosso caso era muito raro, houve uma preocupação e um cuidado das autoridades. Ganhamos um apartamento com cinco quartos e o prefeito estabeleceu um fundo de ajuda financeira para a nossa família, o que ajudou muito.

Após o parto

As crianças eram alimentadas 8 vezes ao dia, a cada 3 horas com um intervalo de 10-15 minutos cada uma. Sim, era uma completa histeria coletiva e eu não podia fazer nada. Quando acabava de alimentá-los, já estava preparando a próxima refeição. Minha mãe e meu marido me salvaram. Os quíntuplos seguiam uma dieta prescrita ainda no hospital e tentei não mudar.

Aos 6 meses, os bebês já faziam 6 refeições por dia. Eu passeava com eles durante a manhã e, à noite, dormiam todos juntos. Ao longo do dia, não os colocávamos para dormir; apenas quando estavam com muito sono. Caso contrário, os deixávamos brincando. Depois do banho, por volta das 21h, eles se alimentavam e, após meia hora, iam dormir.

O divórcio

Seis meses após o nascimento das crianças, meu marido, literalmente, pegou tudo e sumiu de casa e nunca mais voltou. Mas antes disso, já havia acontecido tanta coisa, tantas brigas, que eu já estava pronta para pedir o divórcio no final de 2015. Olhando para trás, mesmo que tivéssemos tido apenas um filho, ainda assim nos divorciaríamos.

O suporte

Minha mãe se tornou meu porto seguro. Ela me protegeu dos problemas, do estresse e me fez acreditar que tudo daria certo. Contou aos amigos que sabiam da nossa situação, e nosso apartamento se transformou em um centro de apoio, que recebia brinquedos, roupas e fraldas e onde as pessoas se informavam sobre como nos ajudar.

Tenho vergonha, mas admito que confundo as crianças

Quando soube que poderia ter até dois pares de gêmeos idênticos, quase surtei. Como eu não iria confundi-los? Isso me tirava a paz. Quando eles nasceram, eu estava exausta, mas percebi que tinham diferenças, mesmo que muito sutis. O formato da cabeça e bochechas e o tamanho do cabelo eram características que eu procurava para diferenciá-los.

Porém, de longe e com eles correndo por todo lado, ainda faço confusão. No começo, até amarramos fitinhas coloridas neles para não confundir. O mais difícil é distinguir entre as garotas; então, a Dasha permanece com uma fitinha vermelha no punho. Minha filha mais velha, Alice, também tem dificuldade de saber quem é quem. Na verdade, os próprios irmãos se confundem. Outro dia, a Dasha estava falando com o Denis pensando que fosse o Vlad. Na foto, estão em ordem da esquerda para a direita: Sasha, Vlad, David, Denis, Dasha e Alice.

Como passear com eles?

Existe um carrinho de bebe para cinco crianças, mas não considerei comprá-lo: os assentos são enfileirados. Imagine só: em primeiro lugar, não cabe no porta malas e nos elevadores. Em segundo, acredite, o carrinho é muito pesado. Terceiro, se quiser ir de carro, é preciso um compartimento de cargas para levá-lo. Quarto, o assento não é reclinável; ou seja, se as crianças quiserem dormir, não ficarão confortáveis. E se a temperatura estiver abaixo dos 10 °C, coisa comum em nosso país, os bebês também não se sentirão confortáveis. Ou seja, zero de praticidade.

Como preparar a bolsa para o passeio?

Prepare o carrinho de bebê, vista-se, vista as cinco crianças: casacos, toucas, macacões, botas térmicas, carrinho, cintos, ufa! A Alice já se veste quase sozinha: aaaaaa, ela não quer a calça rosa, onde eu coloquei a branca? Pronto, vamos pentear os cabelos! Ah, você não quer? Bem, não vão ver o cabelo bagunçado debaixo da touca. Já peguei mamadeiras, chupetas, biscoitos, leite em pó?

Depois, esperamos o elevador e o carregamos de uma vez para não ter de fazer duas viagens. Então, vamos para o carro: cintos de segurança, mais cintos... já apertei o cinto? Guardo o carrinho na mala e vamos lá! Bem, levo 20 minutos para fazer tudo. São quase 3 minutos por criança, quase uma disciplina militar. No entanto, para conseguir fazer as coisas em 20 minutos, é necessário organizar tudo com antecedência. Mas e quando são 2 passeios por dia? Vou te contar, cansa muito! Não existe condicionamento físico que te prepare para essa situação.

O banho

Eu costumava ser a louca dos banhos: cheguei da rua, banho. Fui à praia, banho. Suei um pouco, mais banho. No verão, então, eram infinitos banhos. Mas depois do nascimento das crianças, me tornei mais flexível: não se sujou? Tudo bem. Mas a tradição do banho antes de dormir permaneceu. E na casa de verão, se eles tomarem banho de mar ou brincarem na areia, é claro que também precisam de um banho. A brincadeira favorita é guerra com arminhas de água.

A rotina para dormir

Venho mantendo uma certa rotina antes de dormir: fazemos atividades relaxantes, geralmente sem nada barulhento. Depois:

• Banho com água morna;
• Vestir os pijamas;
• Mamadeira;
• Cada um tem sua cama e sua mantinha preferida;
• E um ursinho de pelúcia por perto, caso estejam com dificuldade de dormir.

A babá

Ter uma babá, no meu caso, era uma questão de sobrevivência. Eu precisava comer, dormir e permanecer sã para cuidar das crianças. Infelizmente, não tinha dinheiro para isso, mas muitas pessoas boas ajudaram. O principal erro foi não discutir os pormenores e limites com essas pessoas, pois eu acreditava que certas regras fossem óbvias. Mas o que é normal para mim não é necessariamente normal para outra pessoa. E muitas vezes eu ficava envergonhada de falar que não gostava de algo até que isso se tornasse um grande problema.

Hoje eu acredito: Mary Poppins existe. Ela apareceu como resposta a um apelo, juntou-se imediatamente à família e lidou com a situação com tal maestria que parecia que estava apenas brincando. Sua sabedoria e calma sempre me maravilharam. E como as crianças a escutam e obedecem é simplesmente fantástico: ela ensinou muito não apenas aos meus filhos, mas também a mim e à minha mãe.

O cardápio

No café da manhã, geralmente, mingau, pães ou biscoitos. No almoço, tomamos sopa com pão ou macarrão com almôndega. Depois do cochilo da tarde, eles comem um lanche. E, no jantar, é basicamente o mesmo: sopa e cereais. Sempre alterno o cardápio porque eles enjoam muito rápido e começam a recusar a comida. E as únicas coisas que podem ser consumidas livremente em qualquer quantidade são as frutas.

As crianças amam repolho e cenoura cozida! Milagre?

Quando os vejo correndo para pegar mais um prato de repolho, nem eu acredito. Mas comecei a me lembrar de como tudo começou.

• Eles começaram comendo abobrinha, depois adicionei o repolho, e começaram a pedir mais. Por algum motivo o sabor da abobrinha com o repolho os agradava muito. Por fim, adicionei ao cardápio cenouras e abóboras, eles amam!

• Doces, mel e chocolate ainda são proibidos. Ou seja, não damos nada para as crianças, mas também tentamos não comer na frente deles, para que não haja tentação.

• Sobremesas permitidas: frutas, biscoitos, geleia caseira, pastila (um doce tradicional eslavo) e pão de mel.

Como viajar com cinco crianças?

Sabe quem eu mais invejo? Aqueles que já viajaram 10 países com uma criança pequena. Agora imagine eu, viajando com 5 crianças ao mesmo tempo. Não consigo nem pensar no caos que seria. Se tivesse uma babá para cada e dinheiro para alugar um carro, talvez pudesse funcionar. As crianças já podem dizer que viajaram pela região de Odessa. Sempre que planejo algo com meus filhos eu mantenho um mantra na minha cabeça: “Que nada dê errado, que tudo dê certo”.

Como entender pelo choro o que uma criança quer?

Nos cursos que fiz antes de ter a Alice, os professores garantiam que após três dias do nascimento do bebê você conseguiria distinguir os tipos de choro: fome, dor, sono e matinal. Eu não acreditava na época. E estava certa. Após um mês, eu ainda não conseguia distinguir o tipo de choro deles. Com cinco crianças gritando ao mesmo tempo, você não entende quem está realmente assustado ou com dor ou quem gritou para acompanhar o irmão. Com um tempo, percebi que eles tinham vozes diferentes e comecei a distingui-los pela entonação e pelo timbre.

Muitas mães jovens dizem: “prefiro que ele cresça logo para dizer de que precisa”. Se você, leitora, pensa assim, lamento. Se uma pessoa não aprende a entender a criança com o tempo, não vai entender quando ficar maior.

Se um chora os outros choram também?

Muitas pessoas pensam que gêmeos fazem tudo em sincronia, mas isso não é verdade. Quando eles estão dormindo em camas separadas, por exemplo, e um começa a chorar perto, isso não interfere no sono do outro. O mesmo acontece quando acordam: eles não choram juntos. Isso só ocorre por algumas razões objetivas: se querem ficar de mãos dadas ou reclamar que a comida está levando muito tempo para ser servida, por exemplo.

Promessas às crianças devem ser cumpridas. Caso contrário, melhor não prometer nada

Se você disse: “vou jogar esta boneca fora se você não guardar seus brinquedos”, mantenha sua palavra. Jogue-a fora de verdade em vez de esconder para devolver mais tarde. Prometeu um presente porque o filho foi ao médico e se comportou bem? Cumpra. Por isso, busco sempre fazer promessas reais e “cumpríveis”.

Conselhos sobre o desenvolvimento físico das crianças

• Desenvolver boas habilidades motoras. Exercícios físicos, parede esportiva, corrida, saltos, andar de patins, bicicleta e escalar.
• Mastigar bem a carne! Sim, isso também é recomendado pelos médicos. Já os dentistas garantem que ajuda a melhorar a mordida. E os fonoaudiólogos asseguram que fortalece todos os músculos da boca. Claro, uma criança acostumada a comer almôndegas, carne de hambúrguer e patê não vai querer uma carne dura. Aqui vai um conselho para aqueles cujos filhos não querem mastigar a carne: dê algum alimento duro, porém doce, como um damasco ou figo. Outras opções são cenoura crua ou maçã. Mas o importante aqui é que sejam oferecidos inteiros, e não partidos, para que a criança morda a fruta.
• Soprar balões de ar, penas, apitos ou flautas também é um conselho dos dentistas, pneumologistas, fonoaudiólogos e psicólogos.

Regras que facilitam a vida das mães

• Não se incomode em limpar e arrumar em excesso. Eu sinceramente morreria se, quando estivesse amamentando, tivesse de seguir uma alimentação saudável tendo de engomar e lavar tudo 3 vezes por dia. Por isso eu comia de tudo e fazia só o que achava necessário.
• Não se apresse em dar alimentos para o seu filho antes do tempo certo, observando as recomendações médicas e, principalmente, o comportamento da criança. Todas as normas tem suas nuances, mas o principal é entender quando a criança está pronta. Começamos com alguns vegetais somente após os 7 meses e aos poucos. Isso aparentemente ajudou a criar um hábito de alimentação saudável.
• Não dê doces, salsichas e sucos artificiais para as crianças provarem. Meus filhos não conhecem nada disso até hoje. Por isso, não tenho de lidar com esses desejos.
• Se os pequenos não sabem o que são um tablet, desenhos animados e celular, fica muito mais fácil de excluir esses objetos de seu dia a dia sem que haja qualquer histeria persistente.

Como ensinar a comer sozinho

Uma criança pode comer sozinha após os 8 meses. O importante é deixá-la segurar a colher. Quando eu estava sozinha com três deles em um hospital, para facilitar, colocava a comida em um só prato ao invés de em vários. E, quando pegava uma colher, os pequenos também pegavam, seguindo meus movimentos e levando até o prato. E mantenha a calma. Haverá momentos em que eles farão uma sujeira. E tudo ao seu redor ficará com pedaços de comida. Quem tem uma criança pequena conhece essa situação. Agora imagine meu caso...

Ser mãe de quíntuplos é...

• Multiplicar tudo por 5 na cabeça.
• Mentalizar que os carrinhos de bebê duplos são leves e elegantes.
• Se acostumar com o fato de que todos olham para você nas ruas.
• Ter muita inveja das pessoas que vão à clínica pediátrica com apenas um filho.
• Se abaixar cuidadosamente até o chão caso um peça para ir para o colo. De todo jeito os outros vão pedir o mesmo depois de um segundo e só é possível pegá-los estando nessa posição.
• A pergunta “como você consegue lidar com tudo isso?” começa a dar nos nervos depois de um certo tempo.
• Já a pergunta “são de fertilização natural ou in vitro?” me faz rir descontroladamente enquanto meus olhos tremem de raiva.
• Ter a visão periférica mais desenvolvida que a frontal, assim como desenvolver o costume de querer controlar 5 indivíduos em constante movimento.
• Fingir o tempo todo que não está prestando atenção nas crianças. Depois de um tempo, você percebe que elas estão interagindo entre si e te deixam livre.
• Se de madrugada apenas dois pequeninos aparecerem em sua cama, você está com sorte.
• Comprar várias sacolas e caixas para colocar as compras. Afinal, voltar para casa com apenas uma sacola é tão fácil como sair para caminhar.
• Estar 200% certa de que sua vida nunca vai ser entediante.

Por que não interrompi a gravidez se estava tudo indo mal no casamento e nós não teríamos condições?

Pensei nos 5 corações que já estavam simultaneamente pulsando dentro de mim. Sabia que seria muito difícil, mas ainda assim carregaria essa cruz que me foi colocada. Tornei minha vida aberta ao público para que todos aqueles que acreditaram em nós e nos ajudaram pudessem ver que não foi em vão; que está tudo bem e que as crianças estão crescendo e se desenvolvendo. E nós estamos felizes e gratos com a vida do jeito que ela é.

O Incrível.club agradece a Oksana Kobeletskaya pela entrevista e deseja tudo de melhor para a sua família e seus lindos filhos.