Por que alguns mestres da pintura faziam trabalhos ’horríveis’

há 1 ano

arte pode ser algo muito complicado e incompreensível para muitos de nós. As pinturas da época do Renascimento, com seus ideais, atraem a atenção de uma grande quantidade de admiradores, mas, para alguns, é difícil acreditar que alguns trabalhos menos convencionais de pintores como Picasso e Kandinski valham a fortuna pela qual às vezes são vendidos.

Incrível.club encontrou as respostas para várias perguntas interessantes sobre o mundo da pintura, investigando o trabalho dos historiadores de arte e os estudos culturais.

1. O mundo das obras de arte é tão caro assim?

Vez que outra escutamos histórias sobre enormes quantidades investidas em determinada pintura. Mas a verdade é que poucas pinturas são leiloadas pelos valores astronômicos que costumam ser noticiados. O crítico de arte Jonathan Binstock considera que, em todo o mundo, há cerca de 40 autores cujos quadros são avaliados em cifras com muitos zeros...

Alguns pintores são como grifes

Falemos de um exemplo recorrente. Talvez você já tenha ouvido falar do artista de graffiti Banksy. Seu trabalho sempre teve como foco questões sociais. Hoje em dia, Banksy é um artista cujas obras são avaliadas em valores bastante elevados. Seu quadro “Menina com balão” foi vendido por 1042 milhões de libras esterlinas (cerca de 5 milhões de reais), e todo o mundo falou sobre a autodestruição da obra imediatamente depois da venda.

Banksy é uma grife, e algumas grifes são vendidas por valores altos — pense em uma Louis Vuitton, por exemplo. Assim, o valor de uma pintura é determinado pela fama do autor.

A venda satisfatória de um quadro é uma garantia de êxito para outros

Um pintor pode ter má sorte durante muito tempo, viver na pobreza e incertezas, sem a possibilidade de vender suas obras de uma maneira rentável.

Singularidade

O pintor holandês Johannes Vermeer (1632-1675) possui apenas 36 obras. Seu quadro “O Concerto”, que se perdeu em 1990, agora está avaliado em 200 milhões de dólares. O fato de alguns pintores mais bem avaliados pelos críticos, como ele, terem poucas obras, evidentemente faz com que os preços de cada obra sejam mais elevados. É a valha lei da oferta e da procura.

O lendário Vincent van Gogh é uma super grife. Os quadros do pintor são muito poucos e seus trabalhos são únicos.

Há 10 anos, a obra “Composição suprematista”, de Malévich, foi vendida por 60 milhões de dólares. Se não fosse a crise econômica na época, seu preço possivelmente haveria alcançado os 100 milhões de dólares. Os quadros de Malévich em coleções privadas são contados e não se faz ideia de quando alguma de suas obras voltará a ser leiloada.

A inovação custa caro

Um dos trabalhos de Richard Prince em favor do “apropiacionismo”.

O fotógrafo Richard Prince teve a ideia de voltar a capturar a foto de um vaqueiro de um anúncio publicitário, eliminando todo texto. O que para muitos pareceria uma brincadeira de criança foi considerado arte da melhor qualidade. Prince foi bem avaliado pelos críticos e, segundo eles, ’criou um movimento’, o apropriacionista. O atrevido gesto do fotógrafo rendeu em 3 milhões de dólares, o valor da obra “Cowboy”.

Pinturas de artistas famosos atraem turistas

Muitos países cuja economia têm crescido e que aspiram a tornar-se centros turísticos têm se tornado, também, centros de arte, com museus que abrigam obras de pintores famosos. É o caso, por exemplo, de cidades do Oriente Médio (onde jorram os dólares do petróleo) e da China, cujo PIB vem crescendo a níveis extraordinários. Para se ter uma ideia desse movimento há pouco tempo, a família real do Catar investiu 250 milhões de dólares no quadro de Cézanne “Os jogadores de cartas”. Ter obras desses autores, de certa forma, dá a esses países o status de centros culturais.

Quando você não tem mais onde gastar dinheiro, investir em quadros caríssimos passa a fazer sentido

Em 2017, o multimilionário Dmitri Rybolóvlev vendeu este quadro de Leonardo da Vinci por 450 milhões de dólares. É até hoje a transação mais custosa no mundo da arte.

Quando você tem 4 mansões, inúmeros carros e um avião de luxo, o que é mais que pode querer ter? Só falta mesmo gastar dinheiro em pinturas caríssimas, já que é um dos bens mais duradouros.

Existem, no mundo, cerca de 3 mil bilionários (pessoas com mais de 1 bilhão de dólares). E os quadros de conhecidos artistas, como escrevemos mais acima, são muito poucos, principalmente em comparação com a quantidade de milionários. Além disso, até mesmo aqueles que não têm interesse na pintura, estão prontos para investir nela somente por causa do prestígio (e, às vezes, da valorização) desse tipo de investimento.

Enfim, dinheiro para poucos quadros dos grandes mestres e o resultado é óbvio: preço nas alturas.

2. Todas as pinturas precisam de moldura?

Quadro de Georges Pierre Seurat “O Canal de Gravelines, Grand Fort-Phillippe”.

No livro de Susie Hodge, “Por que a arte está cheia de gente nua?”, fala-se sobre o propósito das molduras. Assim, elas protegem as bordas do quadro e atraem a atenção das pessoas. Algumas molduras são valiosas, outras são completamente simples e não distraem do foco. O propósito das molduras é o de complementar e mostrar a obra de uma melhor maneira.

Mas o pintor de arte abstrata Piet Mondrian queria eliminar esta sensação de distância que a moldura causava. Assim, o pintor pintava na mesma borda da tela e até mesmo nas laterais.

George Pierre Seurat também não gostava da sombra que algumas molduras provocavam sobre o quadro. E ele mesmo frequentemente imitava a moldura com pequenos pontos de diversas cores.

3. Por que alguns quadros têm muitas pessoas sem roupa?

Fragmento de " A criação de Adão", de Miguel Ángel.

Os antigos gregos consideravam que um corpo sem roupas era incrivelmente lindo.

Na arte, muitas vezes esse comportamento era tido como um símbolo. O símbolo de uma de uma nova vida, sinceridade, a importância de ser um ser vivo e também a vida e a morte.

4. Por que tudo é tão abstrato e, em geral, não retrata as pessoas e os objetos como eles são?

Quadro do pintor checo Bohumil Kubišta “Hipnotizador”.

Provavelmente, uma das críticas mais frequentes em direção aos artistas modernos seja algo como “os pintores fazem garranchos em vez de retratar as coisas como elas são”. Daí vem a ideia errônea de que os objetos parecem planos.

Tomemos como exemplo as telas de Kubišta. Elas rompem a perspectiva mas, ao mesmo tempo, representam objetos desde diferentes ângulos e até mesmo em diferentes pontos no tempo. Mas não se pode dizer que a representação na tela seja bidimensional.

Desenhar algo para que “pareça real” já não é tão necessário nesta Era das onipresentes fotos digitais. Para isso, você só precisa do seu celular. Portanto, para buscar a resposta para a questão de por que o artista em uma ou outra imagem descreveu a realidade como algo plano, é necessário embarcar na mesma ideia do autor.

5. Os pintores dos séculos XIX-XX não sabiam desenhar de maneira “normal”? Ou faziam isso de propósito?

No século XIX nasceu um estilo de pintura sob o nome de primitivismo, também conhecido como arte naïf. Suas representações simplificavam os quadros e faziam formas primitivas, como se fossem desenhos infantis. Os quadros de alguns primitivistas foram considerados verdadeiros tesouros da arte mundial e causaram uma forte impressão em seus contemporâneos. E isso, apesar do fato de que os artistas não tinham nenhuma formação, digamos, formal. Porosmani e Rousseau foram autodidatas, mas suas pinturas atraíam quem já havia visto de tudo e estavam saturados das obras tradicionais, “certinhas”. Tais quadros eram como um respiro fresco de simplicidade.

Mas os artistas profissionais vanguardistas do século XIX e XX tiveram uma educação e base sólidas. Eles podiam pintar o que quisessem, mas, em algum momento, decidiram imitar os primitivistas. Isso foi concebido dessa maneira porque era uma forma totalmente nova de influenciar o espectador, captava o interesse daqueles que já estavam entediados do mesmo sempre.

Os pintores haveriam feito um excelente trabalho sob o espírito da arte clássica acadêmica, mas isso se tornou entediante demais. Picasso, quando jovem, elaborou comoventes retratos realistas, mas, já maduro, escolheu um caminho que impressionaria e refrescaria seus olhos. E alguém duvidaria de seu talento ou consideraria seu trabalho garranchos?

6. As pinturas precisam, necessariamente, ser bonitas?

Arte não é sinônimo de belo, e a arte em si nem sempre representa a beleza. A ideia de beleza varia de pessoa para pessoa, e a opinião de apenas uma pessoa não pode ser considerada um padrão.

Entre os críticos de arte, encontramos com a seguinte opinião: afirmar que as pinturas devem ser necessariamente lindas é o mesmo que dizer que um filme bom tem de ser uma comédia romântica ou um drama com final feliz. Nesse caso, os dramas psicológicos, os filmes de ação e os suspenses não seriam filmes. Tudo pode ter beleza, e isso só depende dos olhos de quem vê, seja na pintura, na música, no teatro ou no cinema.

Agora você está de convencido, certo?

A arte, em particular a pintura, deve falar na língua de seu tempo. E para disfrutar de qualquer pintura, até mesmo de uma realista, é necessário saber o que há por trás dela.

Nas exposições, costumamos ler as descrições e até mesmo utilizar um guia de áudio justamente por esse motivo. Não é fascinante?

E você, tem algum tipo de atração por pinturas? De que estilo você mais gosta? Compartilhe sua opinião com a gente!

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