Por que a escolha dos atores no cinema moderno tem gerado muitas críticas

Arte
há 3 anos

Desde os tempos mais antigos havia uma chamada amplitude artística: comediantes não podiam de forma alguma fazer personagens dramáticos, e vice-versa. Da mesma forma, era impossível ver um Hamlet magro ou uma Carmen loira. Hoje em dia, no entanto, Hamlet é cada vez menos associado com alguém acima do peso e Carmen como uma mulher de cabelos escuros. Por isso, a princípio, qualquer pessoa poderia interpretar esses papéis. Mas, muitas vezes, tais escolhas podem causar certa indignação nos críticos e no público.

A equipe do Incrível.club chegou à conclusão de que a escolha dos atores no cinema moderno pode ser mais complicada do que aparenta. Acompanhe!

Seguir uma tradição e buscar vender o filme da melhor forma em vez de tentar fazer um produto de alta qualidade

Historicamente, os estúdios de Hollywood convidam para quase todos os papéis atores de origem europeia, mesmo que os personagens tenham características de outras etnias. Apesar das diversas críticas do público, a tradição se mantém até hoje.

Em 2015, foi lançado o filme Peter Pan. Quando foi informado que o papel da Tigrinha seria feito por Rooney Mara, o estúdio recebeu muitas mensagens de indignação do público. A atriz também admitiu que compartilhava o repúdio dos espectadores e lamentava o trabalho.

Uma situação parecida aconteceu com Êxodo: Deuses e Reis em 2014. Os personagens egípcios não foram interpretados por atores de origem árabe, o que afetou bastante a credibilidade da encenação.

A mesma crítica repercutiu com os criadores de O Cavaleiro Solitário, em que Johnny Depp fez o papel principal. Os espectadores ficaram muito incomodados que um americano — mesmo que famoso — estivesse interpretando um índio.

Mais um exemplo: a adaptação do mangá A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell, em que a protagonista foi feita por Scarlett Johansson. Visto que o filme é baseado na cultura japonesa, muitos achavam que a personagem devia ser representada por uma atriz do país. Curiosamente, porém, a reação dos próprios japoneses foi bastante positiva em relação ao resultado, e muitos se perguntaram por que o Ocidente reagiu tão negativamente.

A lista pode continuar: a decepção do público com Tom Cruise em No Limite do Amanhã (baseado em uma obra de arte japonesa e, consequentemente, o herói deveria ser representado por ator do Japão); Analeigh Tipton em Meu Namorado é um Zumbi (a heroína do romance era metade etíope); Angelina Jolie no filme de ação O Procurado (a personagem original tinha origens afroamericanas) e por aí vai.

Por que, então, essa tradição permanece? Especialistas explicaram que estúdios de cinema preferem trabalhar com certos artistas. A preferência — nesse caso — normalmente se dá pelas experiências e conhecimento de mundo similares.

Escalar atores e atrizes famosos

É bastante comum diretores buscarem atores que acabaram de estrelar alguma produção de sucesso, porque há uma chance de maior arrecadação de bilheteria, ou seja, mais dinheiro. Mas isso é apenas na teoria, pois um determinado artista pode fazer um excelente trabalho em um filme, mas se sair mal em outro.

Por exemplo, Emilia Clarke é conhecida em todo o mundo pelo papel de Daenerys Targaryen, a “mãe dos dragões” no seriado Game of Thrones. É difícil para muitos imaginá-la fazendo qualquer outra coisa. Principalmente como Sarah Connor em O Exterminador do Futuro.

Vamos relembrar a evolução da personagem:

  • No primeiro filme, Connor era uma garota comum que, ao ser confrontada com algo inexplicável e terrível, precisou encontrar forças para resistir.
  • Na sequência, em O Exterminador do Futuro 2 — O Julgamento Final, já aparecia como uma mulher mais forte e resiliente, que praticamente se transformou em uma arma humana para combater as máquinas.
  • Sarah Connor na pele de Emilia não apresentou essa mudança claramente — apenas em se mostrar forte e destemida — mas não houve muitas cenas em que ambas as características antagônicas pudessem ser afloradas e notadas pelo público.

A própria atriz observou que as gravações foram difíceis para ela, pois o trabalho estava desordenado e o roteiro deixava muito a desejar. Por isso, quando o terceiro filme foi lançado — O Exterminador do Futuro 3 — A Rebelião das Máquinas — e fracassou nas bilheterias, Emilia ficou bastante aliviada, pois isso significaria que não haveria uma continuação.

Incompatibilidade das características físicas

O melhor elenco é formado quando o artista é escalado com base no tipo físico do personagem que irá interpretar. Por exemplo, para o papel de um jogador de basquete não se deve escolher um ator de 1,70 m; para uma heroína acima do peso não seria a melhor opção uma mulher de 50 kg. Mas muitas vezes essa convenção não é seguida.

Tom Cruise é muito procurado para papéis em filmes de ação e, quase sempre, os resultados são grandes sucessos. No entanto, não podemos negar que em Operação Valquíria ele pode não ter sido a melhor aposta. Temos de lembrar que Cruise é 20 cm menor que o coronel que interpretou no drama histórico (1,70 m, contra 1,91 m).

Além disso, o coronel era alemão, ou seja, o ator precisaria falar com um sotaque alemão, o que não acontece no filme. Evidentemente, isso não passou despercebido pelos críticos nem pelo público. Tom explicou o seguinte: “O importante é que os espectadores estejam engajados no enredo, por isso não vejo nenhum problema com a ausência do sotaque”.

Um dos filmes de super-heróis mais criticados do nosso tempo é o Motoqueiro Fantasma, em que Nicolas Cage ficou com o papel principal. Em vez de preservar as características do personagem “descolado”, Cage criou sua própria versão do Blaze (assim chamado o protagonista), decidindo representá-lo como alguém misterioso e bastante emotivo.

Não foi uma boa escolha e, por fim, os críticos e os fãs não gostaram do resultado.

Até mesmo para o queridinho do cinema, Keanu Reeves, houve reclamações. Você lembra de quando ele fez o papel de Jonathan Harker, um dos protagonistas de Drácula (1992)?

O filme foi concebido para ser um gótico obscuro e assustador, mas surgiu um elemento cômico no resultado final, que quase arruinou todo o trabalho. O problema foi que Reeves não tinha sotaque britânico, mas o ator tentou incessantemente reproduzi-lo de alguma forma. Aliás, essa mesma observação foi feita em relação a Winona Ryder — que interpretou a noiva de Harker, Mina.

Apesar das críticas, espectadores que não têm o inglês como língua nativa — ou simplesmente não o falam — não notaram nada.

Quando atores decidem tentar algo novo

Deve ser difícil e chato fazer sempre os mesmos papéis, por isso comediantes querem fazer dramas e artistas dramáticos às vezes desejam tentar a sorte nas comédias. Infelizmente, essas trocas muitas vezes terminam em grandes desastres, embora haja exceções agradáveis, claro.

Se dissermos “Elijah Wood”, você pensará imediatamente em um bandido? Claro que não. Quase todo mundo conhece esse ator pelo papel do Frodo em Senhor dos Anéis, e essa imagem já está enraizada demais na nossa cabeça. Wood faz muito bem tipos fofos, inocentes, os famosos “bonzinhos” e até um pouco estúpidos. Portanto, vê-lo como um gângster seria, no mínimo, confuso.

Bom, foi exatamente isso que aconteceu em Hooligans. Elijah representou um estudante que após se relacionar com pessoas de má índole se tornou parte de uma gangue e começou a aterrorizar a população local. Dizer que ele não foi muito convincente com esse personagem seria insuficiente. A participação dele no filme gerou uma onda de paródias e memes na internet, apesar de ter sido um drama.

Muitos lembram da Denise Richards no papel da Carmen Ibanez em Tropas Estelares (1997). Dois anos depois, foi lançada a sequência de espionagem 007 — O Mundo Não É o Bastante, em que Richards atuou como a Dra. Christmas Jones — a nova namorada de James Bond.

Segundo o roteiro, a heroína devia ser uma especialista em física nuclear, cujo discurso estaria repleto de termos altamente técnicos e específicos da área. O resultado, no entanto, foi que a atuação não convenceu nem um pouco o público. Primeiro, a aparência da personagem — top curto com shorts, que mais pareciam roupas íntimas — não condizia com a imagem esperada pela plateia para uma doutora com especialização em física nuclear. Segundo, os monólogos pseudocientíficos causaram mais risadas do que credibilidade.

Por conta de tudo isso, a Dra. Christmas Jones foi considerada a pior namorada do James Bond.

Como mencionamos anteriormente, para toda regra há uma exceção. Por exemplo, Jim Carrey — famoso no mundo inteiro por ser um dos maiores comediantes do cinema. Pode ser difícil imaginá-lo interpretando um personagem mais sério, não é? Ele, porém, já provou algumas vezes que seu talento vai muito além da comédia. Algumas menções especiais: Brilho Eterno de uma Mente sem LembrançasNúmero 23.

Naturalmente, não queremos dizer com tudo isso que atores não devem experimentar coisas novas ao variar o repertório. Mas achamos que a escalação de artistas adequados para determinados papéis pode fazer toda a diferença no final. Concorda?

Você poderia complementar essa lista com algum outro filme em que a escolha dos atores não tenha sido a mais apropriada? Comente!

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