10+ Filmes brasileiros que não ganharam o Oscar, mas foram aclamados pelo mundo

Arte
há 11 meses

Você sabia que os filmes brasileiros são muito respeitados no exterior? Prova disso é a quantidade de prêmios, indicações e reconhecimentos que temos todos os anos nos festivais de cinema. Porém, o Oscar, considerada a maior premiação da indústria, ainda é um sonho não realizado pelos nossos cineastas. Prepare uma pipoca e venha relembrar os filmes brasileiros premiados internacionalmente, mas que não conseguiram trazer a estatueta dourada para casa, com um bônus de cortar o coração!

O Pagador de Promessas (1962)

Comecemos voltando para os anos 60, quando, pela primeira vez, um filme brasileiro foi indicado ao Oscar (que existe desde 1927). Na verdade, mais do que isso: O Pagador de Promessas foi o primeiro da América do Sul a concorrer como Melhor Filme Estrangeiro. Ele conta a história do Zé do Burro, que fez uma promessa de carregar uma cruz por um longo caminho para presentear uma igreja, caso o seu burro Nicolau melhorasse de uma doença. Mas o sacerdote, ao saber do motivo, não a aceita.

O filme foi escrito e dirigido por Anselmo Duarte, a partir de uma peça teatral de Dias Gomes. Tinha Glória Menezes no elenco e Antonio Pitanga, pai da Camila Pitanga. O Pagador de Promessas não ganhou o Oscar, perdendo para Sempre aos Domingos, um filme francês. No entanto, ganhou um troféu talvez mais importante: a Palma de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cannes. Até hoje, esse é único filme brasileiro a ganhar esse reconhecimento.

Uma curiosidade: a réplica do troféu Palma de Ouro está em exibição em Salto, cidade natal de Anselmo Duarte que fica no interior de São Paulo. Ela tem algumas folhas quebradas, assim como o original, que Anselmo derrubou certa vez. A réplica fica em um grande Centro de Educação e Cultura que foi nomeado em homenagem ao cineasta.

O Quatrilho (1995)

O Quatrilho, estrelado por Gloria Pires e Patricia Pillar, fez um sucesso estrondoso nos cinemas do Brasil quando foi lançado. Ele conta a história de dois casais de amigos que decidem morar na mesma casa. Mas a esposa de um se apaixona pelo marido da outra e decidem fugir, deixando os abandonados para viver a vergonha e um possível novo romance.

O filme brasileiro foi um sucesso em sua terra natal e em outros países também. Tanto que conseguiu mais uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Infelizmente, perdemos o troféu para A Excêntrica Família de Antônia, dos Países Baixos. No entanto, outras premiações conseguiram ver o nosso potencial. No Festival de Havana, fomos indicados para três prêmios: Melhor Atriz para Gloria Pires, Melhor Direção de Arte e Melhor Música. Ganhamos todos.

O Que é Isso, Companheiro? (1997)

Esse foi um filme inspirado em uma história verídica, mas com algumas alterações, sobre o sequestro de um embaixador dos EUA em 1969. O elenco, apesar de ser um drama, tem dois atores famosos por estrelar comédias, Pedro Cardoso e Fernanda Torres. Apesar dos atos cometidos pelos protagonistas causarem um certo desconforto, o filme brasileiro teve críticas muito favoráveis, tanto aqui quanto em outros países.

Por isso, o diretor Bruno Barreto foi indicado ao Oscar por Melhor Filme Estrangeiro, na cerimônia de 1998, mas, novamente, vimos uma produção dos Países Baixos levando a estatueta, Karakter. Ainda assim, conquistamos dois outros prêmios nos EUA: o American Film Institute nos deu o melhor longa-metragem e a Political Film Society o Prêmio PFS — Democracia.

Central do Brasil (1998)

Muitos ainda se lembram da esperança que Fernanda Montenegro nos trouxe, e da dor que foi vê-la perder essa estatueta. Ela foi a primeira e, até o momento, única brasileira a concorrer ao Oscar de Melhor Atriz. Além disso, a comovente história de Dora em Central do Brasil nos rendeu também a indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Fernanda perdeu o Oscar daquele ano para Gwyneth Paltrow, pelo seu papel em Shakespeare Apaixonado. E o melhor filme estrangeiro na opinião da Academia foi o italiano A Vida é Bela, um forte concorrente. Mas Central do Brasil impressionou outras pessoas ao redor do mundo e ganhou outros prêmios importantíssimos: no Festival de Berlim, foi o primeiro filme brasileiro a ganhar o Urso de Ouro, além de um Urso de Prata para Fernanda Montenegro e o prêmio de Melhor Filme pelo júri ecumênico.

E não parou por aí, tamanho o sucesso dessa obra-prima do cinema nacional. Na cerimônia do BAFTA, também foi a primeira produção brasileira a ser indicada e ganhar o prêmio de Melhor Filme em Língua Não Inglesa. No Globo de Ouro, fomos indicados para Melhor Filme em Língua Estrangeira, e ganhamos, e Melhor Atriz em Filme de Drama. Essas mesmas categorias foram vencidas no National Board of Review. Isso sem falar, é claro, na baciada de troféus que o filme venceu no Brasil.

O Auto da Compadecida (2000)

Que O Auto da Compadecida é um dos melhores filmes brasileiros já produzidos, ninguém duvida. As histórias de Chicó e João Grilo encantam brasileiros há mais de 20 anos e também conquistaram cinéfilos fora do país. O filme levou o Prêmio da Audiência no Miami Brazilian Film Festival e Matheus Nachtergaele venceu como Melhor Ator no Viña del Mar Film Festival, do Chile. Quanto ao Oscar, dessa vez não fomos nem mesmo indicados.

Cidade de Deus (2002)

Estamos falando de um filme brasileiro que fez tanto sucesso que passou a ser referência para muitos cineastas, inclusive para o diretor de Pantera Negra, da Marvel. Cidade de Deus fez o mundo conhecer a vida na favela carioca pelos olhos de Buscapé e Dadinho, ou melhor, Zé Pequeno. Na cerimônia do Oscar de 2004, foi indicado a quatro prêmios: Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Fotografia. Mas a Academia não nos deu nenhum.

Se esse foi mais um dos muitos filmes brasileiros esnobados pelo Oscar, o mesmo não aconteceu em outros festivais pelo Mundo. Cidade de Deus recebeu indicações e ganhou muitos prêmios, muitos mesmo. Só no Festival de Havana foi indicado a dez categorias e ganhou todas! Também levou o BAFTA de Melhor Edição e, pela Writers Guild of America Award, o de Melhor Roteiro. Quanto ao Globo de Ouro, foi indicado Melhor Filme Estrangeiro, mas não levou, infelizmente.

Tropa de Elite (2007)

Em questão de popularidade e capacidade de gerar memes, Tropa de Elite anda de mãos dadas com O Auto da Compadecida, apesar de serem de gêneros opostos. A produção também ganhou muita notoriedade, sendo considerado um dos filmes brasileiros mais comentados da história. Até mesmo críticos internacionais escreveram as suas opiniões, principalmente às vésperas dos festivais nos quais a história do Capitão Nascimento foi indicada a algum prêmio.

É o caso do Festival de Berlim de 2008, em que Tropa de Elite repetiu a façanha de Central de Brasil e trouxe para casa o cobiçado Urso de Ouro de Melhor Filme. No mesmo ano, ganhamos também a categoria de Melhor Filme no Festival Hola Lisboa. Isso sem falar em prêmios na Argentina, México, Peru e EUA. Mas, para o Oscar, nem mesmo recebemos uma indicação.

Que Horas Ela Volta? (2015)

Que Horas Ela Volta? é protagonizado por Regina Casé e conta a história dos conflitos entre uma empregada doméstica e os seus patrões de classe média alta. O filme brasileiro foi uma grande aposta para o mercado internacional, tanto que a sua estreia aconteceu no Festival Sundance, nos EUA, e depois em sete países da Europa, antes mesmo de ser exibido no Brasil. De qualquer forma, foi um sucesso de crítica e público em todos os lugares por onde passou.

Quanto aos prêmios, Que Horas Ela Volta? venceu praticamente todas as indicações no Brasil. No exterior, foi o ganhador em países como EUA, Alemanha, Países Baixos, Peru, Malta, Rússia e Eslovênia. A National Board Review, dos EUA, escolheu essa produção como um dos cinco melhores filmes estrangeiros de 2015. No final, levou um total de 20 prêmios. Para o Oscar de 2016, esse filme foi escolhido entre oito para representar o Brasil, mas a Academia não deu nem mesmo uma indicação.

O Menino e o Mundo (2013)

Talvez você ainda não tenha ouvido falar dessa animação brasileira, que mostra a aventura de Cuca, um garoto em busca dos seus sonhos que acaba se deparando com a realidade da sociedade. A história tem pouquíssimas falas e, as que aparecem, são ininteligíveis, apelando para a sensibilidade do espectador. É uma produção belíssima, de dar orgulho aos brasileiros, que foi muito bem recebida nacional e internacionalmente.

O Menino e o Mundo não foi apenas um filme brasileiro de sucesso, mas também muito premiado lá fora. Ele venceu “apenas” o maior troféu da animação mundial, o Prêmio Cristal de melhor longa-metragem no Festival de Annecy, na França. Também levou o Grande Prêmio da Monstra, um festival de animações de Portugal e vários outros — foram 34 no total. Em 2014, o filme brasileiro recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Animação, mas quem ganhou foi Divertida Mente.

Aquarius (2016)

A essa altura, as produções brasileiras começam a aumentar novamente a concorrência, apostando em dramas mais densos. Aquarius conta a história de Clara, vivida por Sônia Braga, uma viúva de 65 anos, última moradora de um antigo condomínio que reluta em ceder o seu lar para uma construtora que quer levantar um empreendimento mais moderno no local. Além de falar sobre especulação imobiliária, o filme aborda a vida afetiva e romântica de uma mulher da terceira idade.

Tanto o filme quanto a Sônia Braga receberam diversas indicações a prêmios pelo mundo todo, incluindo em Cannes, em que ela foi a vencedora como Melhor Atriz. Além desse, ambos também foram vencedores nos Festivais de Sidney, Transatlantyk, Lima, Amsterdam, Mar Del Plata, entre outros. Mas e o Oscar? Entre os filmes brasileiros de 2016, Aquarius não foi escolhido para nos representar. Em seu lugar, enviamos Pequeno Segredo, que a Academia nem mesmo deu uma indicação.

Bacurau (2019)

Sônia Braga retornou com força nesse faroeste misturado com ficção científica para tentar angariar mais prêmios. O filme se passa no sertão pernambucano, em uma cidade chamada Bacurau, que passa a receber estranhas invasões de drones e estrangeiros mal-intencionados. Ao mesmo tempo, moradores da cidade começam a ser misteriosamente exterminados. Resta à população se unir para se defender do inimigo em comum, liderada pela Domingas, personagem da Sônia Braga.

Mais uma vez, nossa produção recebeu excelentes críticas nacional e internacionalmente, além de várias indicações a prêmios pelo mundo. No Festival de Cannes, fomos indicados ao Palma de Ouro, mas recebemos o Prêmio do Júri de Melhor Filme. Ganhamos também prêmios nos Festivais de Munique, Lima, Neuchâtel (Suíça), Montreal, EUA e vários outros no Brasil. Novamente, o filme brasileiro foi esnobado pelo Oscar: não recebemos indicações da Academia, muito menos prêmios.

Marte Um (2022)

Para finalizar essa lista de filmes brasileiros premiados, temos Marte Um, lançado em 2022. Ele conta o drama de uma família negra de Contagem, Minas Gerais, cujo filho Deivinho tem o sonho de ser um astrofísico e integrar a equipe de colonização do planeta Marte. Mas o sonho dele vai de encontro aos desejos do pai, Wellington, que é torcedor fanático do Cruzeiro e anseia em ver o filho ser uma estrela do futebol.

O Rotten Tomatoes, site que reúne opiniões de críticos, mostra uma aprovação de 97% contra 69% da audiência. As opiniões também se refletiram em premiações, já que o filme venceu em todas as categorias as quais foi indicado no Festival de Gramado. Já fora do Brasil, recebeu indicações em vários outros festivais e venceu como Melhor Filme Narrativo Internacional no Outfest Los Angeles, EUA. Nós até tentamos, mas, novamente, o filme brasileiro foi esnobado pelo Oscar de 2023.

Bônus: Orfeu Negro (1959)

Não podíamos deixar de falar aqui sobre Orfeu Negro, também conhecido como Orfeu do Carnaval, um filme com muitos dedos do Brasil, mas feito em parceria com a França e a Itália. Trata-se de uma adaptação da peça teatral Orfeu da Conceição, escrita por Vinícius de Moraes. A produção, apesar de ser dirigida por um francês, é toda falada em português, com a trilha sonora composta por Vinicius, Tom Jobim, Luís Bonfá e Antônio Maria.

Na época, o filme foi um sucesso e recebeu premiações importantíssimas. Ele foi o vencedor da cobiçada Palma de Ouro no Festival de Cannes, do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e o BAFTA de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Para coroar, recebeu também o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira! Porém, mesmo com tantas brasilidades, todos esses prêmios foram levados para a França, pelo diretor Marcel Camus. Assim fica difícil, né?

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