E se você acordasse e visse que todas as sombras sumiram de repente?

Curiosidades
há 2 anos

Nossa, tá um calorão! Dá pra fritar um ovo no asfalto. Você está andando por uma rua que parece não ter fim, sonhando em se esconder do sol escaldante. Não há um único carro à vista. Você já tomou praticamente toda a água que tinha. Em dias assim, deseja não ter começado a mochilar. Logo à frente, avista uma parede velha de tijolos — é o que restou depois que demoliram o prédio. Finalmente uma sombra!

Você recosta na parede e aaaah... que alívio. Fecha os olhos, mas estranhamente o sol está brilhando ainda mais forte através de suas pálpebras. Então dá uma olhada na parede. Ela não é transparente e não tem janelas. Você olha para o chão e fica surpreso ao descobrir que a sombra da parede sumiu. Talvez isso seja só uma miragem que está vendo por causa do calor? Você dá um soco nela. Au! Não, não tem nada de errado. A parede é de verdade. Então se afasta e percebe uma coisa mais estranha ainda.

A sombra do seu corpo também sumiu. Você levanta as mãos e não vê a mancha escura no chão. Ao olhar ao redor, se dá conta de que o problema é muito mais sério. Pedras, plantas, placas, arbustos — nada tem sombra. Aí abre a mão e a posiciona acima dos olhos, para protegê-los do sol. Mesmo assim ele quase o cega, mas não está tão quente. Você tem certeza de que não é transparente, mas por algum motivo todas as sombras sumiram.

O pânico invade a sua mente, pois não há como escapar do sol agora. Felizmente, você vê um carro se aproximar. Após fazer um sinal pedindo carona, o veículo para. O motorista não se surpreende com sua história sobre o sumiço das sombras, porque já percebeu isso quando passou pela cidade sem sombras. Nenhum dos objetos dentro do veículo está deixando sombras também.

O motorista liga o rádio. Notícia urgente: esse fenômeno está acontecendo no mundo todo. A sombra surge quando a luz não consegue atravessar um objeto. Ou seja, é a ausência de luz. O planeta inteiro deve ter se tornado transparente e insensível à luz solar, fazendo as sombras desaparecerem. Mas não — o mundo está normal. Ninguém e nada perdeu suas propriedades físicas. Segundo as leis da física, isso é impossível. Mas parece que tudo o que sabíamos caiu por terra.

Você finalmente chega à cidade e sai do carro. As pessoas, as casas, os carros, os passarinhos — tudo parece estranho. Sem sombras, o mundo perdeu seu volume. Parece que você está olhando para uma imagem plana. Ainda está quente lá fora, e quase não há pessoas na rua. Para se esconder do sol escaldante, elas entram em cafeterias e lojas — mas é inútil. Você faz check-in em um hotel pequeno e se joga na cama, mas não consegue dormir — o quarto está claro demais! A luz passa pelas cortinas grossas e brilha na sua cara. Parece que o sol está atravessando paredes agora. Você vai ao banheiro — lá não tem janela — mas ainda assim não consegue se esconder da luz.

Você quer que a noite chegue logo, para que o sol dê uma trégua. Enquanto isso não acontece, sai do hotel e vai a cafeterias, lojas, diversos lugares... mas tudo está super iluminado. O medo toma conta. Seus olhos estão tão cansados! E aí uma ideia surge na sua mente: que tal se esconder no metrô?! Você corre para lá e se dá conta de que centenas de pessoas pensaram a mesma coisa. Aí desce as escadas, pressionado por multidões de pessoas de todos os lados, mas vê que outro grupo está indo em sentido oposto. Todos estão desolados. “Essa luz está por toda parte”, dá pra ouvir as pessoas falarem, decepcionadas. Não acreditando, você resolve conferir com os próprios olhos.

É verdade. A luz está MESMO por toda parte, até em locais subterrâneos. As paredes, o chão e o teto parecem brilhar. A luz penetra no chão, até nos lugares mais profundos. Os trens já não precisam acender seus faróis. Os próprios vagões estão brilhando... na verdade, todos os objetos e até as pessoas! O planeta inteiro está brilhando!

Você entra em uma loja e compra um óculos de sol, mas não adianta nada. A luz ainda passa pelas lentes escuras. Aí, percebe outra coisa. Apesar de ter passado o dia todo sob o sol, sua pele não ficou vermelha. Para testar sua teoria, você compra uma garrafa de água e a coloca perto da parede da casa, onde deveria haver uma sombra. Após um tempo, toma um gole. Ela ainda está gelada. Isso significa que a luz não aquece os lugares onde a sombra deveria estar. Ela só ilumina esses locais. Outra coisa: dá pra notar que não faz tanto calor quando você se esconde do sol.

Então acessa a Internet e é verdade: os cientistas descobriram que as partículas de luz — os fótons — mudaram. Agora, conseguem penetrar os objetos como se eles não estivessem lá, mas o calor da luz solar não faz o mesmo. Mas por que isso acontece, ninguém sabe dizer ainda.

O dia está quase acabando. O Sol está se aproximando da linha do horizonte, mas a luz ainda não diminuiu. A noite está demorando a chegar. Além do Círculo Polar Ártico, existem lugares onde não anoitece. Nos meses de verão, o sol brilha quase o tempo todo. Mas as pessoas que moram lá se escondem da luminosidade atrás de cortinas grossas. Agora, porém, é impossível escapar da luz. Você a vê mesmo quando seus olhos estão fechados. Felizmente, ainda consegue sentir o frescor da noite.

O primeiro ano sem sombras foi difícil. As pessoas ficaram dias sem conseguir dormir e as ruas ficaram cheias de gente exausta e sonolenta. Trabalhar se tornou praticamente impossível sob tais condições. Perderam-se a concentração e a habilidade de pensar claramente e de desempenhar bem as funções — tudo por causa da privação de sono. Os únicos sortudos que não tiveram esse problema foram os astronautas. A escuridão do espaço sideral não desapareceu como na Terra. A luz ainda não atravessava a Estação Espacial Internacional, os meteoritos e outros planetas.

Felizmente, com o passar do tempo, foi possível se adaptar às novas circunstâncias. Como a cor preta absorve a luz, todos passaram a pintar o interior de suas casas dessa cor. Isso ajudava a reduzir um pouco a luminosidade. Além disso, os olhos humanos se adaptaram a esse novo mundo brilhante, e as pessoas voltaram a dormir bem. Um tempo depois, o mundo começou a descobrir as vantagens da luz eterna. As profundezas dos oceanos agora são visíveis a olho nu. Do convés de um navio dá pra observar as criaturas que vivem lá. E os cientistas encontram novos tipos de vida marinha todos os dias.

Nos países onde neva no inverno, os governos locais espalham carvão por toda parte. Caso contrário, a luz solar bateria na neve, criando um reflexo. Nunca fica nublado agora. Claro, as nuvens ainda estão lá, no céu, mas não conseguem interromper a luz. Furacões, temporais e tempestades parecem não ser tão ruins agora. Não há um lugar escuro sequer no mundo! Os filmes de terror já não são tão assustadores — nenhum monstro pode mais se esconder nos cantos escuros. As pessoas que se perdem nas florestas encontram o caminho com muito mais facilidade.

Os primeiros filmes feitos neste novo mundo pareciam bem ruins. A ausência de sombras reduzia o volume e o efeito da imagem. Para dar um jeito nisso, as empresas cinematográficas começaram a gastar dinheiro com efeitos gráficos, para criar sombras realistas. Igual nos videogames. Ninguém tem medo de passar por becos escuros — o mundo se tornou um lugar muito mais seguro. Nenhuma luz artificial é necessária — até o ar ficou mais limpo. Mas, ao mesmo tempo, a mágica da noite se foi. Não tem mais graça fazer festas em boates. As luzes de Natal e os fogos de artifício também perderam o encanto.
Depois, os cientistas criaram um material que absorve quase toda a luz. Ele começou a ser usado em apartamentos, cinemas e em quase todos os prédios. As pessoas praticamente resolveram o problema do brilho interminável. Espaços urbanos enormes cobertos com este material surgiram nas ruas da cidade. Nesses lugares, as pessoas podem presenciar uma simulação da noite. Pois tem uma coisa da qual todo mundo sente falta: o céu estrelado. Novas gerações que nasceram jamais viram estrelas cadentes ou constelações. E não imaginam o que é isso, ficam impressionadas quando veem fotos do espaço. Mas nenhuma simulação consegue reproduzir o verdadeiro céu noturno. O desejo da humanidade de ver estrelas estimulou o desenvolvimento do turismo espacial. Então as viagens cósmicas em breve se tornarão disponíveis para muitas pessoas.

Você entra em uma cápsula espacial e decola. O chão está ficando para trás muito rápido, e bate a apreensão. Você voa entre as nuvens e vê o céu azul ficar preto. Então chega ao espaço. Seus olhos não aguentam toda aquela escuridão por alguns minutos. Mas não são as estrelas e a enorme bola branca do Sol que o surpreendem. Você levanta o braço acima da cabeça, e a luz do Sol é bloqueada. Então, move seu braço para o lado, e encara, maravilhado, a forma escura logo abaixo. Finalmente, você está vendo uma sombra.

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