A história de Keiko, a orca de “Free Willy”, que depois de viver em cativeiro voltou ao oceano

Animais
há 4 anos

O filme Free Willy foi lançado há 26 anos, em julho de 1993. O protagonista principal, como muita gente deve lembrar, não era um ator ou uma atriz, mas uma orca, Willy, chamada, no mundo real, de Keiko. A história é a de uma baleia que é a atração de um parque aquático, mas que, graças à amizade com um menino chamado Jesse (interpretado por Jason James Ritcher), consegue voltar ao oceano. Um roteiro comovente, que conquistou o coração de muita gente.

E, como a vida imita a arte, Keiko (termo que, em japonês, significa “sortudo”), teve sorte. Após a exibição do filme, a Warner Bros, produtora do longa, passou a receber milhares de cartas de crianças pedindo sua libertação e a baleia conseguiu, finalmente, ser libertada. Só que a história de Keiko teve um final bem diferente do de sua personagem, Willy.

Hoje, o Incrível.club traz a impressionante história de Keiko, a única baleia que foi libertada depois de ter passado anos atuando em aquários.

A captura

As orcas, também conhecidas como “baleias assassinas”, são os maiores membros da família Delphinidae (a mesma dos golfinhos), que se encontra em todos os oceanos do Planeta. São conhecidas por manter fortes laços com sua família, ter uma estrutura social complexa e pelo fato de que a maioria passa toda a vida em um mesmo grupo de indivíduos: algumas passam a vida inteira ao lado das mães. Em liberdade, as fêmeas podem chegar a viver até 90 anos, enquanto os machos, cerca de 60.

Em 1979, Keiko, uma orca macho então com dois anos de idade, foi capturada enquanto se alimentava com sua família na costa da Islândia e vendida a um aquário local. Com essa idade, Keiko era considerada um filhote que dependia de seu bando e estava apenas aprendendo a caçar, não contando com diversas habilidades úteis de sobrevivência.

Sua vida nos aquários

Depois de alguns anos na Islândia, Keiko foi comprada pelo aquário Marineland e enviada a Ontario, no Canadá, onde deveria atuar diariamente em um show. Acredita-se que, devido ao seu tamanho e por ser macho, Keiko foi perseguida e rejeitada por orcas fêmeas de maior idade, o que lhe causava estresse e diminuía sua performance nos espetáculos. Por essa razão, em 1985, foi novamente vendida, agora por 300 mil dólares ao parque de atrações Reino Aventura, na Cidade do México (hoje chamado de Six Flags).

As condições em seu novo lar não eram as mais indicadas para uma orca. Forçada a nadar em uma piscina projetada para golfinhos, que tinha apenas 3,6 metros de profundidade, sua barbatana dorsal se inclinou, seu rabo quase tocava o fundo e ela somente podia nadar em círculos.

Acostumada com as águas geladas do Atlântico Norte, Keiko sofria ainda com a exposição constante a temperaturas muito acima do que sua espécie normalmente tolera em liberdade. No documentário Keiko, a história não contada, o diretor de fundação Free Willy-Keiko, Mark Berman, detalhou as condições do tanque: “Enchiam-no com água de torneiras, que continha muito cloro. Além disso, não havia resfriadores. As orcas vivem em temperaturas de 4 a 10 ºC. Para simular as águas do oceano, a equipe do parque utilizava bolsas de sal que eram despejadas no tanque, mas que deixavam muito a desejar, já que a água do mar possui muitos outros nutrientes e componentes além do sal”.

Ao longo de 11 anos em um tanque sem a menor condição da abrigá-la, Keiko passou a ter problemas de saúde. Ela perdeu peso e, devido à composição inadequada da água, desenvolveu lesões na pele.

Estrela de Hollywood: Free Willy

Em 1992, os produtores da Warner Bros estavam em busca de uma orca solitária para ser a estrela do filme Free Willy. E Keiko acabou assumindo o papel.

O filme foi um grande sucesso e cativou o público, que começou a se perguntar sobre as condições de vida da orca na vida real. Crianças de todo o mundo passaram a enviar cartas perguntando pelo bem-estar de Keiko e solicitando que também fosse libertada. Alguns fãs chegavam, inclusive, a enviar dinheiro para ajudar a baleia, pensando em sua libertação e adaptação à vida selvagem.

Depois da estreia do filme e graças às milhares de cartas enviadas pelas crianças, a Warner Bros. Studios estabeleceu uma parceria com a ONG americana Earth Island para remover Keiko do cativeiro e reabilitá-la para ser devolvida ao habitat natural.

Reabilitação no Óregon

A Warner Bros, a Humane Society (outra ONG) e o multimilionário da telefonia móvel Craig McCaw se uniram para construir um tanque de reabilitação de 7,3 milhões de dólares em um Aquário da costa do Óregon. O espaço seria 4 vezes maior que aquele em que vivia no México.

Em 1992, Keiko chegou à sua nova piscina, que possuía apenas água marinha de verdade, algo que não havia conseguido experimentar desde que havia sido capturada, em 1979. Keiko também começou o processo de aprender a comer peixes vivos. Seus treinadores, além disso, colocavam um televisor em frente à baleia com imagens e o som de orcas, com a intenção de que fosse se familiarizando de novo com a própria espécie, já que desde sua estadia no Canadá, anos antes, não havia tido nenhum tipo de contato com outras orcas.

No Óregon, Keiko aprendeu, ainda, a segurar a respiração debaixo da água por mais tempo. Enquanto esteve no México, o fazia por apenas dois minutos, um período muito curto para qualquer baleia. Além disso, graças à profundidade dos tanques, Keiko começou a realizar saltos mais altos dos que podia dar no México.

Finalmente, a reintrodução ao seu habitat natural

Em 1998, a equipe de especialistas que liderava o projeto concluiu que Keiko já possuía excelente saúde e que seria transferida para as águas de seu lar, na Islândia, para continuar com sua reabilitação. Em 9 de setembro, ela foi transportada em um avião de carga Boeing C-17 do exército para a baía de Klettsvik, em Vestmannaeyjar (Islândia), a mesma onde havia sido capturada em 1979.

Liberdade nas águas da Islândia

Na baía, a equipe criou uma espécie de coral artificial cercado para continuar com a reabilitação. Ela foi ensinada a seguir o barco onde navegavam seus treinadores e a ignorar a todos os demais. Keiko começou a dar “passeios” com sua equipe fora do coral onde nadava. Também se submeteu a um treinamento para que aumentasse seu nível de confiança e começasse a caçar e se alimentar por sua conta e a depender menos de seus cuidadores humanos.

Em 2001, os treinadores abriram o coral para que Keiko pudesse ir e vir quando quisesse. Mas, apesar de ter a oportunidade de se aventurar sozinha, ela sempre voltava para a baía. A equipe levava Keiko a passeios próximos de grupos de orcas para ver se ela conseguia interagir. E, embora demonstrasse algum interesse, ela não se integrava ao grupo.

Seu dispositivo de rastreamento, localizado em sua barbatana dorsal, permitia que os cientistas acompanhassem os movimentos do animal a todo o momento. No verão de 2002, Keiko começou sua viagem pelo mar aberto. Durante cinco semanas, a equipe monitorou a baleia passando tempo com outras orcas selvagens e caçando sozinha. Keiko viajou aproximadamente mil quilômetros até chegar à Noruega.

Keiko e sua equipe de cuidadores se instalaram na baía de Tarknes, no país nórdico. Mas, mesmo em liberdade e podendo ir e vir quando quisesse, Keiko continuava preferindo a companhia dos humanos e mantinha uma relação especial com seus treinadores. No documentário Keiko: A história não contada da estrela de Free Willy, o diretor do projeto na Islândia, Colin Baird, explicou que, em várias ocasiões, os turistas entravam na água para nadar com a orca, até que o governo da Noruega proibiu. Baird também comentou que a equipe desejava que Keiko não dependesse tanto deles. Por isso, os treinadores tentavam se manter distantes. O ponto é que, quando a baleia os via, nadava alegremente para onde se encontravam.

Doença e morte

Depois de contrair um resfriado, Keiko se tornou apática. E, em 12 de dezembro de 2003, seus cuidadores encontraram seu corpo sem vida na baía. Concluiu-se que a causa de sua morte havia sido pneumonia. Keiko foi enterrada em terra, na orla de um fiorde norueguês. Com 27 anos, Keiko viveu muito mais do que o estimado para as orcas em cativeiro.

E, mesmo que não tenha conseguido se reintegrar a um grupo de orcas, seus treinadores terminaram a história com a sensação de dever cumprido. Afinal, a baleia foi libertada e pôde viver feliz por cinco longos anos nas águas de seu lar, a Islândia

Você conhecia a verdadeira história da estrela de Free Willy? Acredita que esses animais e os golfinhos possam ser exibidos em shows aquáticos? Ou considera uma crueldade? Comente!

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