Cruzei a Austrália numa van e divido as experiências dessa jornada

Lugares
há 1 ano

Quando minha cachorrinha Tilly e eu empreendemos nossa aventura indefinida numa van, nunca imaginamos que seria a experiência mais desafiadora (porém gratificante) de nossas vidas. Da minha vida. Nós fomos para o oeste e seguimos a Highway 1, que dá uma volta completa na Austrália. O carro, batizado de “Vincent Van Go” por um amigo, tornou-se nosso refúgio do calor australiano e um lugar para novos e velhos amigos compartilharem suas histórias conosco. Foi a nossa casa. Tornou-se um lugar cheio de memórias incríveis, sorrisos comoventes e a música feita pelo homem e pela natureza. Também houve lágrimas que curaram a alma.

Meu nome é Ash, e esta é a história do meu passeio de van pelas paisagens incrivelmente belas
da Austrália.

Hoje vou contar aos leitores do Incrível.club sobre essa jornada, tanto geograficamente quanto de autodescoberta, e as coisas que aprendi nesse caminho. Leia este post até o final para descobrir o que eu gostaria de ter sabido com antecedência e para assistir a um pequeno vídeo desta aventura.

1. Um espaço pequeno requer muito pouca imaginação para ser utilizado de maneira eficiente

Algumas vans têm muito espaço de armazenamento embutido. No entanto, reincorporei e modifiquei uma caminhonete antiga para atender às minhas necessidades. Porque eu sou bem alto, escolhi uma cama longa que se ajusta ao meu tamanho e ao do meu cachorro. Tinha que ser alto o suficiente para deslizar caixas grandes debaixo dela. Isso resolveu o problema de armazenamento perfeitamente para um único viajante. Lembre-se, a comida de Tilly ocupou um recipiente cheio!

Também coloquei uma velha caixa de armazenamento de madeira recondicionada que tinha 3 funções: dar um toque estético ao veículo, ser um lugar para guardar minhas roupas e um assento adicional para reuniões com amigos. Quanto à água, fiz questão de mantê-la em abundância, uma decisão que me deixou muito feliz (mais tarde você saberá o porquê).

2. Devido a longos períodos de direção, você deve certificar-se de que tem a lista de reprodução mais longa do mundo!

Planície de Nullarbor.

Extremo oriental da planície sem árvores.

Eu rapidamente percebi que a Austrália e suas cidades estão muito dispersas. Elas são unidas por longas estradas e, infelizmente, Tilly não tem habilitação, então eu tive que dirigir o tempo todo.

Seguimos a rodovia 1 (mostrada na foto abaixo). Esta tem uma longitude de 14.500 km e está localizada muito perto da costa. Acabei dirigindo quase 23.000 quilômetros com todas as minhas viagens adicionais. Num determinado momento nos desviamos da estrada, viajamos para o “Centro Vermelho” de Darwin e experimentamos não apenas calor e seca intensos, mas também o charme da Austrália central.

A costa oeste da Austrália é muito mais dispersa em termos de distância entre as cidades, em comparação com a costa leste, por isso fiz questão de planejar minhas paradas de combustível e ter suprimentos suficientes, caso ficássemos presos no meio do nada. Além disso, quanto mais longe viajávamos, mais caro ficava o combustível.

Eu certamente me familiarizei com minha playlist do Spotify no final da viagem! Eu adoraria ouvir o que os outros fazem para se divertir em viagens longas.

3. A Austrália tem algumas das paisagens mais espetaculares do mundo

Apesar das muitas horas que passei ao volante, a estrada nos levou a alguns lugares milagrosamente maravilhosos. Nós vagamos por florestas mágicas, caminhamos por praias imaculadas infinitas, escalamos montanhas altas, nadamos em piscinas refrescantes, acampamos em matagais remotos e testemunhamos as estrelas mais brilhantes no céu noturno do deserto. Cada ecossistema era magnífico e único.

Na foto acima, Tilly está observando a bela vista das falésias de Bunda. Simplesmente maravilhoso!

Aqui está um fato interessante para você: na Austrália há 10.685 praias e você levaria mais de 27 anos para visitar cada uma delas se levasse um dia para conhecer uma por uma. Há até mesmo uma chamada “The Ninety Mile Beach” (A praia das noventa milhas), e sim, é realmente muito longa! Vale a pena visitar, mas só conseguimos ver uma pequena parte dela.

A praia mostrada na selfie acima é chamada Wineglass Bay, localizada no Parque Nacional Freycinet, na Tasmânia. Estar lá me deixou sem fôlego. Das subidas íngremes à sua beleza espetacular, era realmente um lugar onde eu senti que minha alma se revigorava pelo poder da natureza.

Encontramos esta formação rochosa impressionante no Parque Nacional Litchfield, em um lugar chamado “The Lost City” (A cidade perdida), localizado no território norte, não muito longe de Darwin.

A foto acima foi tirada em Mary Pool, na Austrália Ocidental. Um lugar perfeito para Tilly e eu nos recuperarmos depois de uma longa viagem na van. Além disso, era um lugar ideal para nadar!

Há muitos lugares que eu recomendaria visitar, no entanto estes são os melhores:

4. Você descobrirá alguns dos animais selvagens mais diversos (e eles até cruzarão o caminho à sua frente!)

Atenção, estrada sem cerca pelos próximos 150 quilômetros.

Dependendo de onde estiver na Austrália, você descobrirá cangurus, emus, wallabys (fotografados abaixo), coalas, vombates, equidnas-de-focinho-curto, crocodilos (no norte) e milhares de espécies de aves impressionantes. Você pode ouvir o riso da cucaburra, um rosnado de um coala e, se deixar comida ao ar livre à noite, pode receber visitas de gambás ou até mesmo de dingos.

Ao dirigir, há muitos trechos da estrada sem cercas, e é provável que, como eu experimentei, todos os tipos de animais atravessem à sua frente.

A planície de Nullarbor corre ao longo das falésias de Bunda, que fazem parte da Grande Baía da Austrália. É nesta parte, em direção ao extremo leste, que a baleia franca austral procria no inverno — ela está em perigo de extinção. Em torno da Austrália, dependendo da praia ou do recife onde você esteja mergulhando com snorkel, encontrará muitos animais selvagens, de diferentes espécies de peixes até focas, golfinhos, tubarões e baleias (a foto abaixo), tartarugas e muitos outras maravilhosas criaturas do oceano.

Como viajante do mundo, muitas vezes as pessoas me perguntam: “Não existem cobras e aranhas mortais em toda a Austrália?”. Este é um exagero que deve ser abordado, pois depende do lugar, e a maioria delas apenas foge de você caso se sinta perturbada. Se você tiver o azar de ser mordido por uma cobra, imobilize o membro, tente lembrar como era o animal para poder descrevê-lo à equipe médica e receber o antídoto específico. Dito isso, você também pode tirar uma amostra do veneno da picada para saber a que espécie ela pertence.

Mas isso não deve dissuadi-lo de caminhar, pois vale a pena explorar as várias trilhas!

Também achei uma boa ideia trazer um extenso kit médico com bandagens de imobilização. Você pode aprender mais sobre primeiros socorros aqui.

5. Você vai conhecer gente fascinante e incrível, e fará amigos para toda a vida

Viajar de van é bastante comum na Austrália, particularmente na popular costa leste, onde cidades maiores estão mais próximas umas das outras. Em todas por onde passei havia turistas e habitantes locais dispostos a compartilhar seu tempo e histórias conosco.

Ao longo da extensa e solitária Nullarbor, conheci um senhor mais velho que compartilhou comigo sua história de estresse pós-traumático e como a viagem acalmou sua alma, uma história muito semelhante à minha própria.

No rio Margaret, na Austrália Ocidental, sentei-me ao redor de uma fogueira para conversar sobre a vida com tosquiadores de ovelhas, e até discutimos a questão do veganismo amigavelmente.

No Lago Argyle, conheci um casal adorável da Áustria que me mostrou fotos de sua cidade natal no verão e no inverno.

Em Darwin, conheci um conservacionista; na Austrália Central, um ancião indígena; e, em Cairns, um grupo que se dedicava a colher frutas para ajudar a economizar dinheiro.

Eu dei caronas a pessoas na Tasmânia, que haviam viajado pelo mundo todo.

Me apaixonei. Meu coração volúvel foi facilmente hipnotizado pela bondade e afeição dos outros.

Fiz muitos amigos nas principais cidades espalhadas pela Austrália. Eles nos acompanharam, Tilly e eu, e sempre seremos gratos por sua generosidade e por nos lembrarmos do conforto de casa.

Não demorou muito para conseguir perceber que cada estranho era apenas um amigo que eu ainda não tinha conhecido.

6. Às vezes você estará sozinho durante dias ou semanas

Estar sozinho pode ser assustador às vezes, mas também pode ser uma experiência fortalecedora.

Eu preparei suprimentos, uma cozinha de acampamento, muitos livros e água suficiente para durar uma semana ou duas, se necessário. Eu trouxe um kit de primeiros socorros com todos os elementos essenciais, e estava confiante de que meu conhecimento de ter trabalhado como paramédico seria útil de alguma forma se fosse preciso. Também tinha em mente que uma das razões pelas quais havia escolhido fazer essa viagem era fugir dos traumas que havia testemunhado nesse mesmo trabalho.

Uma coisa importante que aprendi foi que você não pode realmente escapar das emoções, pois elas estão profundamente entranhadas, especialmente quando se está sozinho, longe de seus amigos, família e do mundo on-line que o distrai. Quero dizer com isso que sair para a natureza é como se curar, mas ao acalmar minha mente, memórias reprimidas afloraram e com elas meus demônios, então eu fui forçado a encará-los. Experimentei todas as emoções humanas e não me arrependo de nada.

Talvez pelas longas viagens em que tudo o que eu podia fazer era meditar sobre a vida e a existência. Talvez por ter sentado tranquilamente na praia ou numa floresta. Ou talvez tenha sido a combinação maravilhosamente complexa de toda a experiência da vida na van, mas sei com certeza que tudo deixou uma marca permanente no meu coração e mudou minha visão do mundo para sempre.

7. Uma van é ideal para a liberdade e facilidade de uma viagem

Um dos aspectos mais atraentes de viajar numa van é a liberdade que se tem. Meu plano aproximado era algo assim: “Ir para o oeste e começar a viagem de lá”. Eu tinha uma ideia dos lugares que queria visitar e um calendário flexível. Nem todo mundo tem esse nível de flexibilidade, então é ótimo ter algum plano.

Dito isto, muitas vezes eu planejei chegar a uma certa cidade ou acampamento, mas caía num lugar que me impressionava tanto que acabava ficando por vários dias.

Viajar numa van é como ter sua própria casa, e a Austrália tem mil lugares onde você pode estacionar gratuitamente. Eu usei a WikiCamps e livros de acampamento para encontrar lugares gratuitos, a maioria dos quais tinha instalações. Banhar-se no oceano ou no rio é agradável, assim como usar sabão sem produtos químicos, mas às vezes eu queria instalações mais cômodas, por isso fiquei em parques de caravanas. Algumas cidades eram “RV friendly” (Amigas dos Recreational Vehicle), outras não, mas nunca foi difícil encontrar um lugar para estacionar à noite.

Estes são alguns dos conceitos básicos que descobri, que tornaram a minha viagem na van mais fácil e acolhedora:

  • Para carregar meu laptop e meu telefone havia uma segunda bateria de longa duração, que eu poderia recarregar com um painel solar portátil.

  • Para lavar minha roupa, usava lavanderias ou lavava à mão se estava num lugar remoto.
  • Para a alimentação, abasteci meus recipientes de armazenamento com produtos não perecíveis. Tinha uma pequena caixa de gelo para alimentos perecíveis, que recarregava quando podia. Ser vegano significa que eu não precisava me preocupar em manter os produtos de carne frescos. Muitas vezes, especialmente na costa leste, eu parava em barracas de comida fresca localizadas aleatoriamente na estrada. Eu também procurava por mercados de agricultores locais, que são excelentes lugares para se encontrar com os moradores e ouvir algumas boas dicas.

8. As vans também são ideais para os festivais

Como sou um grande fã de festivais de música, planejei minha viagem para coincidir com dois dos meus eventos favoritos: o Falls Music & Arts Festival e o Blenheim Music & Camping Festival. Infelizmente, animais de estimação não são permitidos nesses lugares, então precisei deixar a Tilly com alguns amigos. Este festival acontece em vários lugares da Austrália, mas eu escolhi Marion
Bay, na Tasmânia.

Quanto a Marion Bay, não só conta com uma localização espetacular e uma música genial, como pessoas incríveis. A van tornou-se um ponto de encontro, bem como um local de refúgio quando chovia. Nós até conhecemos um músico talentoso (Elijah Hewitt, foto acima), que tocou para nós numa noite chuvosa.

Eu fui a muitos festivais de música e acampamentos, mas ter uma van com uma cama adequada e alguns confortos tornou tudo muito mais agradável.

9. Certamente, alguns dias serão difíceis

No meio da planície de Nullarbor, um dos trechos mais longos da estrada, com recursos limitados e pouco ou nenhum sinal telefônico, foi exatamente onde encontramos nosso primeiro problema com a van. Era um dia muito quente, então planejei continuar dirigindo até escurecer, com o ar condicionado ligado para manter legal a Tilly. Foi assim até que percebi que meu indicador de temperatura estava subindo, então tive que parar imediatamente. Felizmente, fomos capazes de estacionar sob algumas árvores e encontrar alguma sombra longe o suficiente da estrada para que Tilly pudesse sair e dar uma voltinha ao redor da van.

Era óbvio que havia um vazamento no radiador, mas não consegui descobrir onde. Enquanto isso, um enxame de abelhas voou na direção da van e foi direto para o meu grande tanque de água potável. Levei muito tempo para tirá-las, sem ferir nenhuma delas, já que esses pequenos seres são vitais. Acabei usando um fluido para estancar o vazamento e dirigi lentamente durante a noite fria até o mecânico mais próximo (que ficava a 500 quilômetros de distância).

Este foi o primeiro de apenas um par de incidentes de avarias mecânicas. No que me diz respeito, como mencionei anteriormente, tive minhas próprias crises nervosas. Estando longe de meus amigos, família, minha zona de conforto e confrontando meus demônios mais sombrios, fui desafiado até a última fibra do meu ser. Enchi muitos diários pessoais com meus pensamentos e passei muitas noites chorando lendo todas as mensagens doces que meus amigos tinham escrito dentro da minha caminhonete antes de sair de Adelaide, e de pessoas que conheci no caminho.

Apesar de estar sozinho, essas mensagens me ajudaram a atravessar os dias mais tristes e a poder desfrutar a grande maioria do tempo do lindo país que é a Austrália. E também uma grande aclamação para Tilly, minha cachorrinha preta que me acompanhou e me ajudou a lutar contra o grande cão negro da depressão.

Foi lá, na estrada aberta, no deserto, perdido no meio do tempo e do espaço, que me encontrei. E é algo tão maravilhosamente único que espero que todos tenham a oportunidade de experimentá-lo.

10. Isso é o que eu teria gostado de saber e o que faria diferente da próxima vez

Para começar, eu teria gostado de viver nesta pequena casa incrível sobre rodas que é mostrada na imagem acima. Seu dono tinha o seu próprio jardim de ervas!

De qualquer forma, deixe-me sonhar um pouco mais... Fiquei muito feliz com o meu sistema minimalista, mas havia algumas coisas que eu precisava comprar ao longo do caminho e outros itens que eu gostaria de ter levado:

  • Um mosquiteiro: sabia que o tempo seria quente demais para o norte, mas em alguns dias a umidade era quase insuportável. Além disso, as moscas e mosquitos se tornaram um incômodo, então acabei colocando uma rede na cama e dormindo com a porta lateral e a traseira totalmente abertas para capturar uma brisa cruzada.

  • Chuveiro e banheiro no acampamento: muitas vans e grandes casas móveis têm essas instalações, mas consegui uma boa vida da maneira minimalista que eu tinha. No entanto, às vezes eu acho que teria sido uma boa alternativa, especialmente em dias quentes longe das fontes de água.
  • Mais espaço: com a minha altura eu não podia ficar na van, mas felizmente minha cama era muito confortável e se duplicava como um sofá.

  • Tilly era a companheira perfeita, mas se ela viajasse tão longas distâncias novamente, seria bom ter um amigo ou dois para conversar e compartilhar a condução da van.

Fora isso, não consigo pensar em mais nada que eu teria feito de outra forma.

Em suma, e finalmente, devo dizer que foi a melhor coisa que fiz para minha mente, meu corpo e minha alma. E, honestamente, eu encorajaria qualquer pessoa que quisesse fazer uma viagem assim para chegar até o fim. Pois então, faça, porque vale a pena!

Mudará a sua vida.

Bônus: minha viagem resumida num vídeo de um minuto

Que interessantes histórias de viagem você tem? Já viajou numa van? Quais foram suas experiências? Deixe seus comentários abaixo!

Comentários

Receber notificações

Por vários motivos eu não faria uma viagem assim. Mas admiro muito quem faz e compartilha a história.

-
-
Resposta

Artigos relacionados