14 Fatos que entendi ao viver durante 5 anos no exterior
Cerca de 1 milhão de pessoas migram para os Estados Unidos por ano. Quando eu tinha pouco mais de 20 anos, entrei nessa estatística ao decidir deixar minha amada Sevilha, na Espanha. Preparando minha mala, pensava apenas em como seria bom encontrar o botão “reiniciar” e continuar minha vida. Ingenuamente, achei que o processo de imigração seria simples e divertido. Toda a seriedade das mudanças “caiu” sobre mim no Aeroporto John F. Kennedy, em Nova York. Neste post, contarei o que aconteceu e o quanto minha vida mudou com esta decisão.
A autora do texto enfatiza que seu relato reflete sua experiência pessoal. Você pode concordar com ela ou não, mas o Incrível.club deseja que, de qualquer modo, você goste deste post e que ainda lhe seja encorajador.
Voar pelo oceano não foi tão assustador quanto estar “do outro lado”
Nem mesmo a camisa do meu querido namorado, que eu usava no avião como uma espécie de talismã, me salvou da ansiedade. No aeroporto de Nova York, achei difícil entender o sotaque de algumas comissárias de bordo, entrei em pânico e todo anúncio transmitido pelo alto-falante do aeroporto me fazia correr de porta em porta. Estava com medo de perder o voo.
Meu avião na rota Madri — Nova York
Quando embarquei em um avião menor, já nos EUA, me senti muito mal, porque era muito pequeno. Ele tinha apenas 2 fileiras com um assento cada. Perguntei aos meus vizinhos de voo: “Isso é normal? Frequentemente voam nesse tipo de aeronave?” Com um sorriso reservado, responderam que sim, voam com frequência nesse tipo de aeronave. Nenhum livro sobre viagens ou cursos de línguas me ajudou a deixar de parecer uma selvagem assustada.
Minha vida tinha começado a mudar de maneira impressionante, desde as primeiras horas nesse outro país. E, embora eu tenha estudado inglês desde os 5 anos de idade e já tivesse assistido a dezenas de comédias americanas, eu me sentia como uma alienígena de outro Planeta.
Quando cheguei ao meu novo apartamento, senti a preocupação atingir seu auge
Na minha primeira noite nos EUA, sonhei com criações muito mais horripilantes do que as de Stephen King com machados, zumbis e outras situações aterrorizantes. Parecia que as casas americanas simplesmente tinham sido criadas para serem cenários de filmes de terror: fazem barulho a cada passo dado e ainda há muitos armários nelas, dos quais parece que algum tipo de criatura maligna está prestes a sair.
No começo, traduzia tudo: preços, peso, tempo. Meu cérebro teve de trabalhar 2 vezes mais. Vinte dólares, quanto custa em euros? Se agora são 9 horas, que horas são em Madri? Meu Deus, eu peso 120 libras! Quantos quilos será? Eu realmente ganhei peso em 2 semanas nos Estados Unidos?! Setenta graus Fahrenheit significam um dia quente ou frio? Demorou muito até que tudo isso entrasse na minha cabeça.
Os bolos coloridos de um supermercado local são meus principais auxiliares na luta contra o estresse, mas não contra o excesso de peso
A barreira do idioma inicialmente impede a comunicação. Muitas palavras são difíceis de entender em uma conversa entre um habitante local e visitantes. Isso leva a situações desconfortáveis e divertidas. Por exemplo, no cinema, um cara com um nível intermediário de inglês entenderá completamente as piadas do filme Ted, mas vai ficar em apuros para entender o significado das piadas de Ryan Reynolds em Deadpool. Ah, e aquele momento estranho, quando toda a sala ri e você pisca os olhos e abre um sorriso confuso e sem graça!
Ilusões das quais eu tive de me desfazer
Demora muito tempo para a pessoa se adaptar a uma mudança para o exterior. Para trabalhar de acordo com sua especialidade em outro país, é necessário ter muito mais experiência do que a média das pessoas, o que significa noites trabalhando e fins de semana sem tempo pra relaxar. Quando chega ao país, dá vontade de conhecer tudo. Afinal, você merece! Mas é muito cedo para relaxar, porque o trabalho real começa logo depois da chegada e é importante compreendê-lo a tempo.
Outra singularidade é o imigrante não confundir a educação dos habitantes locais com algum real interesse por sua vida. Para os americanos, fazer determinados elogios e mostrar um certo interesse sobre como você está se saindo é um hábito adquirido por desde a infância, portanto, frequentemente não há nenhuma verdadeira simpatia ou interesse por você. Aqui ninguém precisa de você. Por isso é importante entender que ninguém espera por você nesse novo país de braços abertos. Claro, assim como ocorre em seu país natal.
Por causa da grande quantidade de turistas, não consegui fazer uma boa foto das Cataratas do Niágara. A expectativa e a realidade não coincidem
A imigração é um excelente filtro para amigos e familiares separados por longas distâncias e, às vezes, pelo fuso horário. A maioria dos meus conhecidos acabou sendo eliminada da lista de amizades já nos primeiros anos. Muitos simplesmente param de responder os e-mails e os telefonemas e desaparecem completamente. Mas há alguns amigos que sempre mantêm contato e me apoiaram nos momentos difíceis.
Depois de se mudar para outro país, você entende o quanto o mundo é pequeno. Por exemplo, de Nova York a Madri você consegue chegar de avião em apenas 7 horas. Significa assistir 2 vezes ao filme Titanic. Basta se distrair com a história de amor de Rose e Jack algumas vezes, para chegar a outro continente.
Desvantagens da imigração
O mais difícil é perder a sensação de ter um lar. Durante as viagens curtas para a minha casa, sinto-me turista. Você se surpreende com os novos shoppings construídos nos lugares onde você brincava em sua infância e as tendências da moda que antes eram muito estranhas. A vida não para, quando você vai embora. Acontece que a pessoa acaba presa nesses 2 mundos, já que não pertence mais à sua antiga casa, mas ainda não se acostumou com a nova. É por esse motivo que se torna um sem-teto do ponto de vista psicológico.
Grafite nos subúrbios de Chicago, representando os transeuntes comuns. Quando tirei a foto, os personagens me pareciam tristes e cansados
Depois de 5 anos morando e trabalhando nos Estados Unidos, consigo pensar em inglês e até entender o sotaque chinês, que é um dos mais complicados. Entre os americanos, há a palavra “Chinglish” para descrevê-lo. No entanto, minha língua nativa começou a piorar. Sempre pergunto aos meus parentes: “Como se diz isso em espanhol?” Algumas palavras em inglês parecem ser mais longas e, para mim, é muito difícil encontrar uma equivalente na minha língua nativa. E sem mencionar a ortografia. Acima de tudo, ao querer usar a terminação “tion” para todas as palavras. Não é isso que acontecetion?!
Vantagens da imigração
A imigração para mim foi uma viagem ao meu próprio “eu”. Depois que me mudei, muitas vezes ficava sozinha em minha cidade natal. Isso me ajudou a resolver meus medos e a entender o que é realmente importante para mim e o que não é. A psicanálise forçada me ajudou a enxergar meus objetivos mais claramente.
Tornei-me mais flexível e sair da minha zona de conforto já não parecia algo aterrorizante, pois viver em um novo país significa levar um chute no bumbum todos os dias, o que motiva você a aprender melhor o idioma, a assimilar e a buscar novas oportunidades.
A Times Square, em Nova York, foi o primeiro lugar onde me senti tranquila em uma multidão
Outra grande vantagem é se livrar dos preconceitos. Viver em uma cultura diferente, familiarizando-se com as tradições e com os hábitos dos habitantes locais e de outros imigrantes, torna você uma pessoa mais tolerante. Independentemente da religião e dos costumes — se uma pessoa come com pauzinhos, com as mãos ou talheres, se esconde todo o corpo da cabeça aos pés ou usa um turbante na cabeça -, todos têm o mesmo objetivo: a felicidade e a tranquilidade. Esse entendimento apaga os limites mentais e torna você mais livre.
Ficou claro para mim que qualquer mala sempre tem de ser leve. Tanto a mala com roupas, como a mala com o peso do arrependimento do passado. Se a vida nos dá uma nova jornada, então é melhor sair com pouca bagagem.
Resumo
Apesar das dificuldades, a imigração é exatamente o tipo de experiência que vale a pena ousar. Em um país estrangeiro, todos os dias você descobre algo novo, como uma nova palavra, um fato interessante e ainda tem a oportunidade de conhecer pessoas diferentes. Em algum momento, você percebe que não há barreiras à sua frente. É possível fazer muito mais do que imaginou. Você apenas tem de querer muito e começar sua jornada com coragem.
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