Uma russa contou sobre as peculiaridades mais relevantes em trabalhar com os japoneses

Curiosidades
há 4 anos

Todos sabemos que os japoneses são um exemplo no que diz respeito ao âmbito profissional. Eles ficam no escritório até o último minuto, dando o máximo para alcançarem os melhores resultados em qualquer projeto que seja. Às vezes, podem até “morrer” de tanto trabalhar. Mas estes são, em grande parte, estereótipos, assim como muitos pensam que brasileiros podem ser “relaxados” demais na relação que têm com o trabalho. Anna Lazareva trabalha com japoneses e decidiu compartilhar suas experiências no Twitter.

Com a permissão de Anna, o Incrível.club publica abaixo a história dela.

  • A administração japonesa é a mais ineficiente de todas com as quais já trabalhei. Antes eu trabalhava com franceses. Agora, aos meus olhos, a eficiência dos franceses é o topo de linha.

  • Tudo é baseado nos procedimentos e regras já estabelecidas. Se de repente houver a necessidade de resolver uma nova tarefa ou desenvolver um novo procedimento, isto vai levar desde alguns meses a vários anos para ser concluído, dependendo da escala de mudanças e implementações em vista.

  • Essa ineficiência que mencionei está ligada à incapacidade de improvisação. Se acontecer algum imprevisto, algo fora do modelo esperado, os japoneses podem ficar facilmente perdidos e não conseguir resolver o problema pela inércia de não saber o que fazer. Os mais “viajados”, que estejam morando em outros países, acabam se acostumando com essa mentalidade ocidental, mas ainda assim é muito difícil para eles.

  • Se uma empresa japonesa decide abrir uma filial em algum outro país para se desenvolver, primeiro inaugura um escritório inicial sem fins lucrativos, com funcionários locais, que serão chefiados por japoneses. Mesmo que estes funcionários sejam qualificados e estejam trabalhando há anos, a preferência será manter ou contratar mais funcionários japoneses.

  • Quando um japonês chega ao auge da sua carreira (se a empresa já se espalhou pelo mundo inteiro), ele começa uma espécie de “turnê”. Certos japoneses vêm ao nosso escritório frequentemente para fazer uma apresentação de apenas 1,5 hora sobre bushido (código de conduta e modo de vida dos samurais) e depois passam o resto do tempo passeando pelas ruas de Moscou.

  • Mas tudo o que diz respeito à produção é de maior eficiência e qualidade, provavelmente porque tudo é realmente automatizado, e o fator “humano” é mínimo. Quanto menos for necessário tomar decisões, melhor será o trabalho.

  • Recentemente, recebemos uma queixa: não havia certos itens dentro da caixa do produto. Em resposta a isso, a fábrica enviou um vídeo de como esta mesma caixa foi produzida e organizada há 2 anos, além de enviaram a resposta “Olhe novamente com mais cuidado”. O cliente, por fim, acabou encontrando os acessórios que havia mencionado.

  • Ao mesmo tempo, é necessário detalhar as coisas mais triviais e responder aos eternos porquês. Mais ou menos seis meses atrás, tivemos que explicar (com certa dificuldade) aos funcionários do RH o que era uma apostila (precisávamos dela para a preparação de documentos). Eles realmente não sabiam.

  • Há um ano, contrataram um homem de 45 anos. “Sim, trabalhei por muitos anos na área de logística, sim, eu já sei como funciona e vou pegar o ritmo bem rápido”. Tudo bem, entendi. No primeiro dia de trabalho, no entanto, ele se atrasou por 2,5 horas. Em uma empresa japonesa, na qual o diretor-geral é japonês, isso não é nada aceitável.

  • Por que eles o mantêm? No Japão, é costume ter uma pessoa na equipe que funciona como uma espécie de “depósito emocional”. É uma decisão da chefia, não nossa. Se fosse minha, ele estaria demitido no segundo dia. Mas repreendê-lo na frente dos colegas faz com que todo o grupo fique mais unido e produtivo. Isso de fato aconteceu.

  • Eu sei que, no Japão, você não pode ir para casa antes do chefe. Isso é totalmente proibido (apesar de não ter lido esta regra em lugar nenhum), e eles podem trabalhar desde cedo até de madrugada. Se a empresa estiver localizada no exterior, permitem que os locais não sigam esta regra como respeito à cultura local. Mas isso também depende muito.

  • Nós temos um pouco de sorte. Há um relógio eletrônico no escritório com um alarme. O alarme é soado às 9h e às 18h. Todos devem estar dentro do escritório antes do alarme tocar, para que estejam prontos para começar a trabalhar às 9h em ponto, quando devemos nos reunir e decidir quem fará o quê durante o dia. Se chegar depois do alarme, você está atrasado.

  • Se for se atrasar, você precisa avisar seu chefe e dizer o motivo do atraso. “Não acordei na hora” não funciona como explicação, é preciso ser mais criativo.

  • Depois de organizar os planos para o dia, devemos ler a filosofia da empresa, que são 5 teses, 1 para cada dia da semana. Lemos todos juntos, em coro e voz alta. Antes achava isso ridículo, mas agora me acostumei e já leio mais alto que os outros, além de adicionar no final um “amém”.

  • Para nossa sorte, podemos recolher nossas coisas e ir para casa logo depois do alarme das 18h, e isto não será visto como displicência. Esse formato existe especificamente na nossa empresa, pois conheço outras companhias japonesas mais “tradicionais” na Rússia em que é considerado negligência sair cedo demais do trabalho (antes do chefe).

  • Se em escritórios “ocidentais” sua eficiência é avaliada pela quantidade de resultados obtidos, os japoneses avaliam ao contrário. Grosseiramente falando, você começa com 100% de bônus e por cada deslize cometido perde dinheiro. Quanto menos erros cometer, maior bônus receberá no final do ano.

  • E é bastante importante mostrar prestatividade e se esforçar para que todos vejam. Tínhamos um funcionário que não conseguiu realizar nenhuma venda em um ano inteiro. Ele, no entanto, sempre mostrava que estava tentando e se esforçando e, por isso, recebeu o bônus anual completo, além de ter tido aumento de salário.

  • A questão do bônus anual e do aumento salarial é decidida pelo chefe apenas com base em seus “instintos” e motivos pessoais.

  • Se você trabalha com japoneses, mais cedo ou mais tarde aprenderá a usar o Excel como um deus. Tenho a impressão de que existe um programa do Microsoft Office especial para o Japão, que é composto apenas por Excel e PowerPoint. Não lembro quando foi a última vez que recebi algum documento de um japonês no Word.

  • Se você for um gaijin (ou seja, estrangeiro), pode esquecer de tentar dar novas ideias e soluções. Mais precisamente, pode dar ideias, mas depois de 6 meses e 40 mil reuniões por Skype, os japoneses irão chegar à mesma conclusão que você e implementar a nova ideia como se fosse deles, e não sua.

Você gostaria de trabalhar numa empresa japonesa? Se sim, por quê? Comente!

Imagem de capa annonedomini / Twitter

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