Como o Japão resolveu o problema do lixo em que estava mergulhado há 40 anos

há 1 ano

Todo mundo que vai ao Japão, ou que vê as fotos de pessoas que lá estiveram, acaba se surpreendendo com o tamanho e a modernidade das cidades, a quantidade de pessoas nas ruas, a falta de espaço e, por incrível que pareça, a quase total ausência de lixo. Sim, hoje em dia o Japão está muito mais limpo do que no passado, mas há 40 ou 50 anos a situação era outra, as cidades estavam afundadas em montanhas de lixo que cresciam principalmente pelo crescimento acelerado da economia do pós guerra.

Decidimos pesquisar um pouco mais sobre o que foi feito para tentar entender se o modelo japonês poderia ser aplicado em outros países.

Reciclagem

reciclagem de lixo no Japão se baseia no princípio da separação dos resíduos. Embora cada prefeitura adote seu próprio sistema (nem todos seguem o mesmo modelo de reciclagem), em geral o há uma uniformidade. O lixo é dividido em várias categorias, sempre considerando como cada elemento será processado e reciclado.

  • combustível (pedaços de papel, restos de comida, tecidos, madeira, pó, etc.);
  • não combustível (polietileno, pilhas, objetos plásticos, metal, cristal e cerâmica);
  • reciclável (papel, produtos orgânicos de casa, plástico doméstico, vidro, óleos orgânicos, entre outros);
  • entulho pesado (móveis e eletrodomésticos).

Mas essas são apenas as grandes categorias, dentro de cada uma delas existe uma complicada hierarquia de sistema de coleta. Por exemplo, em uma prefeitura é possível entregar garrafas em qualquer estado, em outras apenas as garrafas sem tampas.

  • A seleção de resíduos domésticos normais é feita em casa ou em lugares públicos com a ajuda de urnas e sacolas. Existem dias especiais para isso: cada tipo de resíduo deve ser levado ao local em um determinado dia da semana.
  • Se você se enganar e levar plástico no dia do vidro e um vizinho vir a cena, ele pode colocar a sacola na frente da porta da sua casa, e ela deve ficar lá até o dia do plástico ser reciclado.
  • Para que esse sistema funcione, desde a infância os japoneses são ensinados e separar corretamente o lixo. Portanto, os bairros com mais imigrantes — principalmente de outros países da Ásia — são considerados os mais sujos de Tóquio, e muitas vezes os imigrantes que não falam japonês não conseguem alugar apartamentos.
  • Saber falar o idioma e dividir corretamente o lixo são duas coisas que estão relacionadas. Cada recipiente tem a sua regra de uso, e todos eles contêm explicativos detalhados de como devem ser utilizados. Além disso, uma explicação sobre os diferentes tipo de resíduos que podem ser reciclados em cada recipiente está lá, mas sempre em japonês.
  • Como você deve imaginar, reciclar materiais que não se encaixam nas ’regras’ é mais complicado. Por exemplo, para eliminar uma geladeira é preciso usar um serviço estatal para objetos grandes ou contratar uma empresa particular, mas os dois são pagos. Uma terceira opção é levar o eletrodoméstico a uma loja de segunda mão.

Ilhas de lixo no oceano

  • Depois da coleta de lixo nos centros de separação o lixo vai para diferentes endereços. Uma parte vai para fábricas incineradoras, outra para reciclagem, e parte acaba sendo enterrada. É importante mencionar que os resíduos mais tóxicos não são reciclados no Japão, mas acabam sendo levados para as Filipinas.
  • O exemplo mais interessante são as garrafas de plástico. Elas são usadas para fabricar roupa no Japão: uniforme escolar e até uniforme para a prática de esportes. Grande parte do papel também é reciclada e os aparelhos eletrônicos velhos são usados na fabricação dos novos.
  • Os incineradores de resíduos no Japão estão equipados com um moderno sistema de gaseificação por plasma. Os resíduos sólidos domésticos são processados com corrente de plasma a uma temperatura de 1,2 mil ºС. Nessa temperatura não se forma resina e os resíduos tóxicos são destruídos. De 30 toneladas de lixo sobram 6 toneladas de cinza, que é purificada e usada em construções, por exemplo para fabricar material para calçada.
  • Os restos da incineração são comprimidos para a formação de blocos usados na construção de ilhas artificiais, espalhadas por todo o litoral japonês. Na ilha de Yumenoshima há um parque e um estádio; em Ogijima há uma metalúrgica, e o Aeroporto Internacional de Kansai fica em duas ilhas artificiais na bahia de Osaka.

As empresas privadas têm pressa em ajudar

  • O trabalho de coleta, seleção e reciclagem de resíduos no Japão tem muito prestígio, mas ele nem sempre está vinculado ao governo. Existem muitas empresas que realizam diferentes tipos de serviços com resíduos domésticos. Às vezes, esses serviços são muito específicos.
  • No Japão existem muitos idosos que vivem sozinhos e não têm muitos parentes. Após o seu falecimento, muitas coisas (acumuladas durante toda a vida) ficam para trás. Em geral, os herdeiros não se interessam por esses objetos, e eles pedem ajuda para essas empresas especiais, que fazem uma limpeza geral no apartamento.
  • O crescimento da popularidade das empresas especializadas de limpeza está relacionado com a tragédia de 2011, quando o terremoto e o tsunami trouxeram muita destruição e muita morte ao país. Além disso, segundo a estatística, no Japão o índice de mortalidade é mais alto que o de natalidade. O país está envelhecendo e está cada vez mais difícil lidar com os bens acumulados por muitos anos de crescimento econômico.
  • A reciclagem desses objetos acontece de diferentes formas. Uma parte das coisas vira lixo, outra parte é vendida em leilões dentro do próprio país, e algumas vão para pessoas de países menos desenvolvidos, por exemplo as Filipinas.
  • Segundo as empresas independentes, a limpeza após um falecimento está crescendo cada vez mais e ficará ainda mais moderna nos próximos anos.

Colecionadores entusiastas

Esse é o armazém da empresa japonesa Radiostock, que trabalha com coleta de dispositivos velhos. Tudo começou com o interesse de Yutaka Ishii em colecionar velhos vídeo games. Ele achou um no lixo, levou para casa e o consertou. Ele percebeu que isso poderia ser um bom negócio, então começou a procurar velhos aparelhos e restaurá-los. Foi assim que surgiu a Radiostock, que procura aparelhos velhos em armazéns, mercados e leilões, os restaura e vende para lojas com objetos ’retrô’.

É interessante perceber que a moda retrô não é forte apenas no Japão, mas também no mundo ocidental, portanto este negócio mata dois pássaros com uma cajadada só, afinal de contas você não apenas evita o acúmulo de lixo, mas também dá um novo uso a objetos velhos. Talvez dentro de 20 ou 30 anos esses aparelhos valham muito dinheiro.

Uma nova maneira japonesa de ser

  • Parece que o Japão cansou do consumo excessivo, senão como explicar a popularidade da ’maneira japonesa de limpar’? Essa filosofia aparece em alguns livros de Marie Kondo (A Mágica da Arrumação), e Yukiko Kaneko (Life Free from Dream), cujo princípio é muito simples: é preciso eliminar qualquer coisa que esteja na sua casa que não te traga felicidade.
  • Dizem que a limpeza ajuda a todos e não é apenas uma maneira de eliminar o lixo, mas de mudar as pessoas, o seu ponto de vista e o seu estilo de vida.

O que você achou da maneira como o Japão enfrentou e continua enfrentando o problema do lixo? Compartilhe a sua opinião nos comentários.

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