Trabalhei como garçonete e tenho informações interessantes para compartilhar

há 3 anos

“Meu nome é Tatiana, sou uma das autoras do Incrível.club e hoje quero compartilhar com você detalhes interessantes sobre meu trabalho anterior e meus aprendizados a partir disso. Dizem que a experiência se forma a partir de ações que nos fazem dizer depois: “eu poderia ter feito diferente”.

No meu caso, essas experiências foram inúmeras. Quando eu cursava o segundo ano da faculdade, o cara que eu amava tanto me largou e, desde então, fazendo um drama a partir desse caso e pensando que minha vida tinha ido embora com ele, abandonei também meu curso. Depois de duas semanas de muito choro, concluí que minha sanidade tinha voltado, pois ne dei conta de que meus pais me matariam se soubessem que eu não estava mais indo à aula. Precisava arranjar algo para fazer no horário da faculdade e encontrar um trabalho seria perfeito. Entre as oportuniddades que apareceram, a de garçonete foi a melhor alternativa.

Silvio Santos era camelô, Anderson Silva atendia no McDonald’s, Marcelo D2 foi porteiro e Edson Celularijá trabalhou em uma padaria. Não há nada de estranho nisso: são profissões super honestas, mesmo que não sejam a real vocação dessas pessoas. Por isso, antes de alcançar algo melhor, fui ser garçonete em uma das mais populares pizzarias do centro da minha cidade. Imaginava que seria como a Rachel, da série Friends: sentaria no sofá, conversando com meus amigos e, de vez em quando, atenderia pedidos. Soube que não seria assim quando, no primeiro dia, acidentalmente, derrubei chocolate derretido no prato de panquecas salgadas de um cliente e, tremendo de nervosa, fiz a brilhante pergunta: ’quer que eu troque ou está bom assim?’. E esse foi só o começo da história.

Especialmente para o Incrível.club, falarei de todas as vantagens e desvantagens desse trabalho e darei algumas respostas às dúvidas comuns de quem costuma comer fora."

É verdade que os garçons podem comer o que sobrar, cospem nos pratos dos clientes chatos e bebem durante o trabalho?

Depende do estabelecimento. Mas, sobre este assunto, há uma piada engraçada: “um cliente faz sinal para o garçom e pergunta: ’É verdade que vocês comem o que deixamos?’, e o garçom responde: ’Não! Vocês é que comem as nossas sobras!’”

Na verdade, na cozinha sempre há vistorias rigorosas em todos os produtos. Além disso, há câmeras de segurança (ao menos onde eu trabalhava, sim). Quanto aos pratos que os clientes pedem e não comem, há vários desfechos possíveis.

Se o prato sequer foi tocado pelo cliente, qualquer funcionário poderia comê-lo sem culpa. Todos os alimentos que os clientes deixassem pela metade eram separados para os cães de rua. Os alimentos que estão próximos da data de validade poderiam ser repartidos entre todos para levar para casa. No meu trabalho, esse era um dos pontos positivos.

Já vimos, em filmes, cenas em que um atendente cospe no café de um cliente mal educado. Na vida real, eu nunca vi nada parecido. A existência de câmeras de segurança garante que isso jamais ocorra. Além disso, seria uma vingança muito perigosa por parte de um funcionário, não acha?

Sim, havia clientes cujo comportamento poderia ser resumido com esta frase: “Garçom, se isto é café, quero chá. Se é um chá, quero café.” Mas todos entendíamos perfeitamente que cada cliente representava nosso trabalho e nosso dinheiro. Por isso, o que poderia ser feito era, no máximo, fazer comentários ou caretas sinceramente cansadas do chato do dia. Mas, é claro, de modo que ele não visse, porque o cliente sempre tem razão, mesmo quando não tem.

Mas também vi casos em que os clientes tinham total razão. Por exemplo: um cabelo na sopa, um pequeno osso na salada ou um grampo de papel na pizza. Então, era mais um motivo para aguentar calada, mesmo que as grosserias fossem desproporcionais com o ocorrido.

Davam refeições grátis aos funcionários, mas não os pratos que constavam no cardápio. Geralmente, a cada dia, duas pessoas cozinhavam para o restante da equipe, mas era sempre algo simples, como massas, saladas ou batata frita.

Se algum dos funcionários fazia aniversário, poderíamos beber uma lata de cerveja ou, no máximo, uma taça de vinho na cozinha, e logo seguíamos trabalhando. Em alguns momentos, devido ao cansaço extremo ou para aguentar clientes mau humorados, misturávamos algo alcoólico na nossa bebida (como um refrigerante, por exemplo) e seguíamos trabalhando, com a expressão mais natural do mundo.

Um turno de 10 horas esgota qualquer um. Para aguentar os dias ainda mais intensos, bebíamos energético. Um dos meus colegas misturava Coca-Cola com café! Era literalmente uma bomba e deve ser péssimo para o coração, mas foi a maneira que ele encontrou para dar conta de tudo.

O que acontece quando garçons quebram um prato ou deixam cair um alimento?

Durante meu trabalho na pizzaria, aconteceram muitas histórias diferentes com todos os atendentes. Deixamos cair pizza, nos queimamos com pratos quentes, cortamos os dedos, confundimos os pedidos, derramamos bebidas na pizza, quebramos bandejas repletas de pratos... enfim, já vi acontecer de tudo!

Houve um caso em que uma das atendentes cochilou, escorada em uma prateleira de pratos, pois ela havia ido a uma festa na noite anterior e estava “de virada”. O pizzaiolo fez um movimento brusco com a tábua de pizzas recém saídas do forno para acordá-la, mas não imaginava que a pizza sairia voando e atingiria exatamente o rosto da moça. Tudo isso na frente dos clientes! Imagine a vergonha de ser acordada assim...

Mas, para a felicidade de todos os funcionários, existe uma coisa chamada “cancelamento”: se você estragar um prato, descontam somente o custo dos ingredientes, que não era muito alto.

Nossas obrigações não se limitavam a servir os pratos e limpar a louça suja. Ajudávamos outros colegas, fazíamos molhos, descascávamos frutas para algumas bebidas, embalávamos talheres e corríamos ao mercado caso faltasse algum ingrediente.

Com o tempo, muitos garçons faziam sua própria clientela. Os que estavam há mais tempo trabalhando lá, muitas vezes viravam “preguiçosos”, escolhendo só as melhores mesas para atender. Realmente existia uma espécie de “hierarquia” entre funcionários.

O que era mais agradável e o que era mais difícil no meu trabalho?

Essa é uma profissão é bastante interessante, apesar da pouca importância que costumamos dar a ela. Você se comunica com muita gente completamente diferente de você, muitas vezes com estrangeiros, aprende a ser gentil e bem disposto em qualquer situação (testando a paciência, é claro), movimenta-se muito e nunca passa fome.

Era agradável ver que, sob a influência de uma comida deliciosa, um ambiente acolhedor e uma boa companhia, as pessoas relaxam, sorriem mais e até parecem mais simpáticas. Notávamos tudo! Pedidos de casamento em que a caixinha com a aliança estava debaixo da mesa, comemorações de promoções de trabalho ou, simplesmente, uma discreta discussão entre um casal na qual as expressões faciais falavam por si.

A pizzaria estava sempre cheia de vida, e não sabíamos o que era o tédio. Isso, definitivamente, não fazia parte do trabalho.

Por outro lado, há pessoas que seguem considerando que os garçons são simples “serviçais”, e os tratam sem o menor respeito. John Green, autor do romance A culpa é das estrelas, escreveu que uma pessoa pode ser julgada pela forma como trata secretários e garçons. Às vezes eu repetia mentalmente, como um mantra, que o cliente sempre tem razão, para não cair na tentação de responder grosserias. Felizmente, não eram situações frequentes.

A princípio, ficava surpresa com o fato de que quase toda a equipe fumava. Um mês depois, eu mesma acendi um cigarro. E não porque gostasse de fumar. Tínhamos um salão e um terraço imenso e, no verão, a pizzaria estava sempre lotada de gente. Filas intermináveis, clientes famintos (e, é claro, apressados) esperando por mesas, funcionários nervosos. Sair para fumar era quase a única oportunidade de descansar a cabeça por uns minutos de toda essa loucura. E, quem não fumasse, seguia trabalhando. Mas como eu precisava de um pretexto para sair um pouco, usei o cigarro para isso e proporcionava algum descanso. Tanto que, após deixar de trabalhar na pizzaria, abandonei rapidamente esse hábito.

Mas o mais chato era que os atendentes eram proibidos de sentar se houvesse um cliente que fosse no salão. No final do turno, minhas pernas ficavam muito cansadas, e a única coisa que queria fazer quando chegasse em casa era colocá-las para cima. Os três anos de experiência nesse trabalho ocasionaram varizes imensas nas minhas pernas, das quais estou tratando até agora.

Conclui minha faculdade, depois encontrei um trabalho na minha área. Mas não me arrependo de nada, porque, ter trabalhado como garçonete foi uma boa experiência para mim, e me fortaleceu como pessoa. Agora, ao chegar em qualquer estabelecimento, sigo tendo o hábito de avaliar o atendimento da casa, prestando atenção aos detalhes e valorizando cada gesto dos funcionários. E, no fundo, me enxergo ali, trabalhando enquanto ainda estudava.

Querido leitor, sua vida é interessante! Conte-nos sobre ela! Talvez você tenha sido voluntário em algum asilo, trabalhado por muitos anos em um hospital ou dado aulas no exterior. Cada um tem uma história interessante para contar! Escreva a sua para redacao@incrivel.club com o título “Minha história”. Esperamos pela sua!

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